FIIs: o que falta para o estrangeiro investir mais no Brasil

O mercado brasileiro de fundos imobiliários tem potencial para atrair mais investidores estrangeiros, mas primeiro é preciso arrumar a casa, disse Steve Wechsler, o presidente da Nareit, a associação que representa os REITs e empresas de real estate que atuam nos EUA.
“As condições precisam se concretizar em termos da política, estrutura e economia para o capital querer estar aqui. E acredito que com o tempo esse dia chegará,” ele disse ao Metro Quadrado.
Em visita ao Brasil, Wechsler lembra que na primeira vez em que esteve no País para falar de REITs, há cerca de 25 anos, a indústria nacional de fundos imobiliários estava apenas começando.
O primeiro FII foi lançado por aqui ainda nos anos 1990, logo após a aprovação da lei que regulamentou o produto, mas o mercado só alcançou a marca de 100 mil investidores em 2012. Já a barreira do milhão foi ultrapassada há menos de cinco anos — atualmente há 2,8 milhões de cotistas.
Agora que voltou ao Brasil, para participar de um evento da XP, o CEO acredita que o mercado de FIIs está em um ponto no qual tem muito mais a oferecer para os investidores globais.
Hoje o total de ativos sob gestão da indústria soma R$ 236 bilhões e, desconsiderando os Estados Unidos, o País ocupa a sétima posição no ranking de mercados de REITs globais — à frente de nomes como Canadá e Espanha.
Mas Wechsler diz que ainda há espaço para evoluir mais. “Parte disso é gerar escala, outra parte é construir internamente uma estrutura para criar veículos de investimento atraentes para investidores de todo o mundo.”
Uma saída para acelerar o ganho de escala que o CEO da Nareit defende e que já tem sido adotada por parte dos gestores locais é a consolidação via M&As entre as casas e incorporações de portfólios entre os FIIs.
Nos Estados Unidos, por exemplo, há 200 REITs, um número que Wechsler considera alto. Mas o mercado, que surgiu nos anos 1960, já passou pela fase de consolidação e hoje os 50 maiores ativos representam 80% do mercado de US$ 1,4 trilhão.
Por aqui há 425 fundos imobiliários listados na Bolsa e apenas cinco acumulam um patrimônio líquido acima de R$ 5 bilhões.
Ali Zaid, head de real asset research da FTSE Russell, acredita que outro ponto a ser endereçado pelo mercado local é o cenário macroeconômico turbulento, com o risco fiscal e a taxa de juros elevados.
“Globalmente, os investidores estão buscando yield. Se você estiver atendendo aos requisitos de risco e retorno, é aí que o capital entra.”
Já para Dominique Moerenhout, CEO da EPRA — a associação de REITs da Europa —, o grande fator que tem atrapalhado a alocação de capital no mercado de real estate não só do Brasil, mas de vários outros países do mundo, foge do controle dos gestores: os conflitos armados que bagunçam o cenário global, como a guerra entre Rússia e Ucrânia e o conflito entre Israel e Irã.
“As tensões geopolíticas que temos vivenciado nos últimos dois anos colocaram em compasso de espera muitos investimentos, não apenas no ambiente listado, mas sim no setor imobiliário como um todo,” disse ele ao Metro Quadrado.