Depois das casas, as frases de Arthur

Depois das casas, as frases de Arthur
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Mais um lançamento inovador do arquiteto Arthur Casas no mercado. Desta vez, sem tetos nem paredes. Apenas frases. Seiscentas delas. Algumas, dele mesmo; outras, de gente num arco que vai de Aristóteles a Rita Cadillac.

Colecionadas principalmente durante a pandemia, foram reunidas no livro Frases bem construídas, da editora Matrix, que terá noite de autógrafos na Livraria da Travessa do Iguatemi nesta quarta-feira, dia 23. Na capa, ele mesmo, Arthur Casas, ainda de calças curtas, em projeto gráfico de Giovana Carvalho, Guto Lacaz e Carlos Baptistella. (Para comprar, clique aqui.)

Arthur Casas ok

Seu Studio Casas hoje toca nada menos que 70 projetos em São Paulo, mas já espalhou suas formas por todo o mundo, de Tóquio a Nova York, passando por Roma e Londres, entre outras capitais.

Espaços amplos, integração com o verde e uso de madeira são algumas marcas de seus projetos, influenciados pela infância passada no Alto da Lapa, São Paulo, no tempo em que as árvores na região eram mais abundantes do que hoje.

Sua opção aos 11 anos pela arquitetura foi marcada pelas viagens que fez a Brasília na década de 60. “Conheci a Catedral ainda sem os vitrais,” lembra. Seu tio, que morava em Anápolis, o levou seguidamente para conhecer a nova capital, a 155 quilômetros dali.

Em 1990, Casas montou seu escritório numa casa projetada por aquele que chama de “mestre dos mestres”: João Batista Villanova Artigas (1915-1985), mais conhecido pelo projeto do edifício Edifício Louveira, na Praça Vilaboim, Higienópolis: “Ele é o Niemeyer de São Paulo, foi quem começou o modernismo aqui, todos aprenderam com ele.”

Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha são outras grandes referências no Brasil. Bo Bardi é a campeã de citações em seu livro: “Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito,”  diz ela.

Na arquitetura estrangeira, sua grande referência é Frank LLoyd Wright (1867-1959), cuja construção mais conhecida é certamente o Guggenheim de Nova York, com suas rampas em caracol. A influência do americano, sempre preocupado com a integração das obras no meio ambiente e os espaços amplos, está bem presente no desenho de Casas.

O outro Frank, Gehry – canadense, famoso pelas formas retorcidas da Fundação Vuitton, em Paris, ou do Walt Disney Concert Hall, de Los Angeles – merece várias citações em seu livro. Uma delas expõe uma reclamação usual na profissão: “Não sei porque as pessoas contratam arquitetos e depois dizem a eles o que fazer.” Gehry não faz parte, entretanto, de seu panteão. “Não gosto tanto da arquitetura espetaculosa,” diz Arthur.

A multiplicação de construções em São Paulo não o incomoda tanto. “As cidades mudam e têm que mudar, o problema não é a  ocupação mas os maus projetos de ocupação,” comenta. Entre as frases que escolheu para seu livro, as referentes à capital paulista não são, porém, das mais elogiosas: “São Paulo é como se Los Angeles tivesse vomitado em Nova Iorque,” de Anthony Bourdain, chef de cozinha e escritor.

Sua ideia para o livro surgiu de episódios de esquecimento que começaram após a pandemia. Esqueceu, por exemplo, da palavra “aspirador de pó”, entre outras banais. Preocupado, consultou-se com três médicos que não diagnosticaram qualquer problema relacionado ao Alzheimer ou demência. Provavelmente, fadiga mental.

Colecionador compulsivo de diversos objetos, desde rolhas de garrafas, caixas de fósforo, brinquedos e máscaras, não quis perder as frases que juntou e considerava importantes. Algumas vezes as ouvia de algum parente, retirava dos clássicos ou lia em algum boteco de estrada. “Se melhorar um centímetro estraga o metro,” veio do restaurante Casa do João, em Bonito, Mato Grosso do Sul.

A menor frase do livro tem duas palavras.  “Jovens, envelheçam!”, de Nelson Rodrigues. A maior, com mais de 200, foi retirada do filme Aos olhos de Ernesto, dirigido por Ana Luíza Azevedo. É a carta de um pai ao filho. Sobre seu próprio pai, comerciante, Casas não se refere como ídolo. “Longe disso,” responde, “foi um excelente pai, mas meu ídolo na infância era o Batman.”

Com mais de 500 projetos realizados, prêmios de várias instituições e publicações nas grandes revistas de arquitetura e design mundiais, Casas pretende agora se dedicar mais a seu Instituto de Inovação e Arquitetura Contemporânea, que ocupará a casa onde funcionava seu escritório.

Sua ideia é resgatar formas construtivas usadas no passado no  Brasil, e por algum motivo abandonadas. Também quer procurar e descobrir talentos jovens nas escolas, para incentivar o desenvolvimento deles, com bolsas e financiamento.

A arquitetura brasileira, define, sempre teve muita transparência, muita interação de ambiente externo com espaço interno. É assim, defende ele, com Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha. E é deste último uma das frases escolhidas para definir sua profissão: “a arquitetura existe para amparar a imprevisibilidade da vida.”

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