Fraude na PDG? Suposto M&A vira um mistério
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O que era uma proposta agora virou uma “suposta proposta”.
O comunicado da PDG Realty afirmando que recebeu uma oferta de aquisição de uma empresa de Hong Kong começou a levantar suspeitas no mercado de que tudo não passa de uma mentira.
Depois da divulgação do suposto interesse, o grupo Sun Hung Kai Properties (SHKP) negou a pelo menos dois veículos – o Estadão e o Monitor do Mercado – que tenha feito qualquer proposta.
Além disso, o grupo disse não estar relacionado de qualquer forma, direta ou indiretamente, à SHKP Real Estate Development e à SHKP Global, que assinam a proposta divulgada pela PDG na quarta-feira.
Pressionada a se posicionar, a PDG afirmou hoje, em fato relevante, que está apurando a origem do documento que diz ter recebido com a suposta proposta, assim como a posição do grupo de Hong Kong publicada na mídia.
Na sua justificativa para divulgar a suposta oferta, disse que, “pela natureza do assunto e considerando possíveis oscilações com seu papel, a companhia providenciou a imediata publicidade da íntegra da proposta.”
De fato, o comunicado de quarta mexeu com as ações da PDG, que dobraram de valor no pregão de quinta, de R$ 0,01 para R$ 0,02.
No texto, a incorporadora disse ter recebido uma oferta de US$ 29,6 milhões da SHKP Real Estate Development. Ressaltou que a proposta não havia sido solicitada e que nenhum contato havia sido feito com a empresa de Hong Kong até então.
No posicionamento de hoje, disse que fez “contato preliminar” com quem enviou a proposta, mas ainda sem obter mais detalhes.
O comunicado com a suposta oferta foi publicado poucos dias depois de uma troca no comando da empresa, com Mauricio Tisio de Souza assumindo as cadeiras de CEO e diretor de RI.
Na comunicação atribuída à empresa de Hong Kong — assinada por Chen Wei, suposto diretor de fusões e aquisições da SHKP Global —, a possível compradora afirmava estar em uma “forte campanha de internacionalização” e mirando na PDG para avançar no Brasil. Um dos principais interesses do grupo na PDG seria o landbank no estado de São Paulo.
O Metro Quadrado tentou falar com Wei por meio do contato informado no fato relevante. Mas a mensagem retornou: o endereço de e-mail não foi encontrado ou não pode receber mensagens.
A suspeita de fraude acaba deixando o mercado ainda mais ressabiado com a PDG, uma empresa que saiu de uma recuperação judicial em 2021 mas nunca voltou a ser o que era, enfrentando a resistência de investidores para comprar a sua tese de reestruturação.
No seu auge, no início da década passada, a empresa chegou a valer R$ 15 bilhões. Hoje, é uma penny stock, valendo R$ 17,4 milhões, com um passivo total de R$ 3,8 bilhões e resultados no prejuízo.
De olho na movimentação, a CVM disse ao Metro Quadrado que já está analisando o caso em um processo aberto hoje na Gerência de Acompanhamento de Empresas.