Corretor de luxo: o brasileiro que leva os ultrarricos aos apês mais exclusivos de NYC

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NOVA YORK – Harry Nasser brincava na portaria do apartamento da família no Guarujá, no litoral de São Paulo, quando ouviu uma mulher perguntar ao porteiro se havia apartamentos disponíveis para locação. 

“Eu tenho o apartamento da minha avó para alugar,” disparou o menino de oito anos ao se apressar em direção à visitante no hall.

“Esse foi o meu primeiro deal em real estate,” ele se recorda décadas depois, aos risos, enquanto recebia o Metro Quadrado em seu escritório na Madison Avenue.

De comissão, ganhou da mulher o equivalente a apenas US$ 20, valor que deixou o seu pai indignado. “Ela deveria ter me dado mais, dizia ele. Mas eu me diverti.”

Hoje aos 61 anos de idade, o brasileiro está na lista dos principais corretores de imóveis da Sotheby’s International Realty, o escritório especializado em negócios imobiliários de alto luxo em Nova York. 

Ele chegou aos Estados Unidos em 1983, aos 18 anos, para estudar administração de empresas em Chicago, e nunca mais voltou a morar no Brasil. A entrada no mercado imobiliário não foi imediata.

Primeiro empreendeu no ramo de moda. Importava roupas da China para revender no atacado nos EUA. 

Em 2008, durante a crise financeira global, desencadeada pela falência da Lehman Brothers, Harry decidiu que era hora de encerrar a companhia ligada ao varejo e pensar em um novo negócio. 

“Eu tinha duas grandes paixões: o mercado imobiliário e o mundo das artes. Mas pensei que trabalhar com arte seria algo muito etéreo,” disse. “Mesmo quando eu mexia com roupas eu já fazia negócios em real estate, só que para mim mesmo. Comprava, melhorava, vendia e assim foi.” 

Foi no auge da crise imobiliária que o brasileiro decidiu abraçar o tino para os negócios com imóveis. “Eu vi que o que eu fazia para mim mesmo poderia ajudar outras pessoas a comprar e vender imóveis.”

Harry Nasser ok

Com 14 anos de carreira no setor, o brasileiro hoje trabalha com prédios localizados no coração de Manhattan começando em torno de US$ 5 milhões e podendo chegar a dezenas de milhões, a depender da localização.

Cerca de 25% da carteira de clientes de Harry são investidores brasileiros, outros 25% são asiáticos, e a metade restante são investidores americanos.  

Sem dar nomes, Harry diz que os clientes são “famílias abastadas do Brasil e de outros países” que querem estar no centro do mundo — herdeiros de companhias no agronegócios, mineração, mercado financeiro e, no geral, pessoas ligadas ao mundo das artes e à cultura. 

“O alto luxo é meu ganha-pão, mas não sou esnobe e trabalho com imóveis mais simples se alguém aparecer,” disse ele. 

Harry diz que 2025 deve ser bom para os negócios. Argumenta que os imóveis em Nova York estão em média 20% mais baratos no pós-pandemia devido à demanda menor depois da reprecificação dos anos anteriores — para ele, uma oportunidade para investidores brasileiros.

“Eu tenho um cliente iraniano que já comprou três apartamentos de uma só vez,” disse. “Mas aqui não se trata apenas de poder pagar. Alguns edifícios escolhem as pessoas que eles querem como vizinhos.”

Em regiões nobres como o Upper West ou o Upper East Side, os tradicionais “co-ops” têm em média apenas 5% de negociações finalizadas, diz Harry, o que é parte do padrão de exclusividade desses prédios. 

Se um comprador poderá ou não fazer parte do “clube”, isso será decidido na assembleia de condôminos. “Se um dos moradores não gostar da cor do seu sapato, pronto, já era,” disse. “A Madonna já foi barrada de comprar imóveis em edifícios de co-ops aqui em Manhattan, porque ninguém quer tê-la como vizinha. Imagina acordar e ter a fachada cheia de paparazzi?”

Harry diz que é comum investidores brasileiros se assustarem com as exigências para fechar uma aquisição, mesmo que milionária.

Antes de assinar o cheque é preciso mostrar, em muitos casos, boa parte dos seus registros financeiros pessoais, ou da empresa, algo pouco usual no Brasil. 

Um exemplo claro dessas diferenças está no fato de que todas as operações de compra e venda de imóveis na cidade são informações públicas, de acesso livre.

Harry se adapta à situação para não perder a oportunidade de fechar um negócio, assim como quando correu para fisgar a mulher que alugou o apartamento da sua avó no Guarujá.

“Sei que o brasileiro não gosta de fazer esse tipo de divulgação de informações financeiras e pessoais, então, para alguns clientes, eu já indico os apartamentos do modelo que não pede esse tipo de exigência.” 

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