CBIC corta projeção de PIB da construção

Colocando na conta os efeitos de uma Selic estratosférica, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) cortou quase pela metade a projeção de expansão do PIB do setor em 2025.
A estimativa de avanço foi revisada de 2,3% para 1,3%, com a CBIC afirmando que a taxa básica de juro tem sido apontada pelos empresários como o maior problema do setor por quatro trimestres seguidos.
Ao longo dos últimos 12 meses, a Selic saltou de 10,5% para 15%.
O impacto começou a aparecer com força nos dois primeiros trimestres do ano, quando o PIB da construção recuou 0,6% e depois 0,2%.
A confiança dos empresários também caiu para 48 pontos, o menor nível desde 2020, ao mesmo tempo em que a base de financiamento imobiliário ficou mais frágil.
Entre janeiro e setembro, a poupança registrou captação líquida negativa de R$ 60 bilhões, no quinto ano consecutivo de perda da principal fonte de recursos do setor.
No mesmo período, o volume de unidades financiadas caiu 20% em relação a 2024, e o financiamento para a construção recuou 53%.
“Nós sempre falamos que demora de seis meses a um ano para gerar efeitos na construção civil. Com a elevação da taxa a partir do terceiro trimestre de 2024, houve um freio na construção civil,” disse Renato Correia, o presidente da CBIC.
Mesmo com o cenário de crédito mais apertado, o mercado de trabalho vem ajudando a sustentar parte da atividade do setor.
O nível de atividade do setor está 23% acima do patamar pré-pandemia, e a construção civil utiliza hoje 67% de sua capacidade produtiva.
De janeiro a agosto, foram abertas 194,5 mil vagas com carteira assinada — uma queda de 9% em relação a 2024, mas suficiente para manter o número total de empregados em cerca de 3 milhões, próximo do recorde histórico de 2013, apesar de as empresas apontarem que há uma escassez na oferta de novos profissionais.
“A construção civil está com seu patamar de atividades muito elevado e o mercado de trabalho mostra isso,” disse Ieda Vasconcelos, economista-chefe da CBIC.
Os custos da construção também estão pesando para as empresas. O INCC acumulou alta de 6,78% em 12 meses até setembro, acima da inflação oficial, puxada principalmente pela mão de obra, que ficou quase 10% mais cara no período.
A combinação de demanda por profissionais e taxa de desemprego em 5,6% — a menor desde 2012 — vem pressionando salários e ampliando a dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados.
Ao mesmo tempo, a CBIC projeta que a atividade volte a ganhar fôlego a partir de 2026, à medida em que a Selic passa a cair e o setor começa a sentir os efeitos do pacote de estímulos ao crédito imobiliário que o governo anunciou neste mês.
O novo modelo deve injetar R$ 37 bilhões no crédito, enquanto o programa Reforma Casa Brasil prevê mais R$ 40 bilhões para pequenas reformas e ampliações residenciais.







