A construtora que vai tirar do papel o primeiro túnel submerso do Brasil

Depois de quase 100 anos, o projeto do túnel que ligará Santos e Guarujá vai sair do papel.
A portuguesa Mota-Engil venceu o leilão que definiu a concessionária responsável pela construção do túnel submerso – uma obra que será financiada pelos governos federal e estadual e cujo protagonismo está sendo disputado pelo presidente Lula e o governador Tarcísio de Freitas a um ano de uma eleição em que eles podem se enfrentar.
A proposta vencedora tem um deságio de 0,5% sobre o valor estimado pelo governo federal, de R$ 1,7 bilhão. A companhia superou a espanhola Acciona em leilão disputado na B3.
A Mota-Engil vai construir o primeiro túnel submerso do Brasil, que terá 1,5 km de extensão, dos quais 870 metros serão imersos. A entrega da obra está prevista para os próximos cinco anos.
A concessão terá 30 anos, incluindo a construção, manutenção e operação do túnel. No Brasil, a Mota-Engil já atua em outros projetos de infraestrutura, como a implementação do VLT de Salvador.
Será a maior obra já contratada no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no valor de R$ 5,1 bilhões, metade bancada pelo governo federal e a outra pelo estadual. O restante será aportado pela concessionária, elevando o total para R$ 6,8 bilhões.
“O túnel de Santos é um projeto fundamental para São Paulo, para o Porto de Santos e para o Brasil,” disse Manuel Antônio Fonseca Vasconcelos Mota, vice-presidente da Mota-Engil, durante o evento na B3.
O projeto é inspirado em obras consolidadas na Europa e na Ásia, como o Eurotúnel, que liga o Reino Unido à França; o Seikan, que conecta as ilhas de Honshu e Hokkaido, no Japão; e o Fehmarnbelt, em construção para unir a Dinamarca à Alemanha e que deve se tornar o maior túnel imerso do mundo.
A ideia do túnel Santos-Guarujá surgiu na década de 1920 com o engenheiro Enéas Marini, mas o projeto se arrastou por décadas e ganhou diferentes padrinhos políticos.
Geraldo Alckmin tentou avançar com a obra quando era governador de São Paulo. Já no governo Bolsonaro, o então ministro Tarcísio de Freitas barrou a proposta de uma ponte e defendeu o túnel submerso, alinhando estado e governo federal.
O túnel Santos-Guarujá terá seis faixas de rolamento, divididas igualmente entre os dois sentidos. A expectativa é que o tempo médio de travessia – hoje de cerca de 20 minutos por balsa – caia para 2 minutos.
Para o presidente da Associação do Porto de Santos, Anderson Pomini, a ligação das duas cidades mudará a realidade logística do País, dando tração aos negócios do maior complexo portuário da América Latina. “Essa obra é muito mais do que uma ligação entre o ponto A e B,” disse.
Pomini atribuiu ao ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, o sucesso do leilão.
O ministro foi o nome do governo federal responsável por costurar o projeto com o estado de São Paulo e o governador Tarcísio de Freitas.
À frente da pasta, Costa Filho tirou do papel R$ 30 bilhões em concessões portuárias em 2024.
“Essa obra simboliza mais do que uma simples conexão; ela revela que, quando nós brasileiros trabalhamos juntos, concretizamos aquilo que muitos chamavam de impossível,” disse Pomini.
Além da ligação viária, o principal benefício logístico será para o escoamento de cargas.
Com a inauguração, o Porto de Santos não precisará mais interromper operações durante a passagem das embarcações de travessia.
Para a CEO da Erea, Clarisse Etcheverry, a aprovação da concessão deve atrair novos projetos logísticos para a região do porto – que ganhará maior capacidade de escoamento – e valorizar todo o entorno.
“Hoje essa é uma região que sofre com uma logística precária, que atrapalha os negócios. Agora vemos a possibilidade de surgirem novos pólos logísticos capitaneados por essa melhoria de acesso viário,” disse.