A ousada proposta para aumentar a ilha de Manhattan

NOVA YORK – Uma proposta ousada apresentada por um economista que leciona na Rutgers University reacendeu o debate sobre o futuro urbano da cidade: expandir a ilha de Manhattan para o sul com a construção de uma ilha artificial chamada New Mannahatta.
A ideia do professor Jason Barr prevê adicionar pouco mais de 7 km² ao território da cidade como resposta a duas das maiores crises enfrentadas pela metrópole: a escassez de moradia e a vulnerabilidade frente às mudanças climáticas.
A primeira crise – habitacional – é reflexo do alto custo de vida da cidade, especialmente nos aluguéis. Um apartamento de apenas 45 m² pode custar US$ 3,7 mil por mês.
A segunda – climática – veio à tona depois que o furacão Sandy, de 2012, mostrou o risco que tempestades e o aumento do nível do mar representam para a cidade.
O aumento territorial poderia, segundo o economista, mitigar ambos os problemas.
A ideia não é nova, e pode representar mais um capítulo da história de uma cidade com capacidade de reinvenção ilimitada. Desde os tempos coloniais, a ilha já passou por diversos processos de expansão.
Em 1623, quando os holandeses fundaram Nova Amsterdam, o litoral na ponta sul era muito menor, se estendendo até as atuais ruas Pearl e Greenwich. Um pouco acima dali, um muro de mais de 3,5 metros delimitava a colônia, onde hoje fica a famosa Wall Street.
Já em 1800, os próprios moradores da cidade criaram cerca de 127 acres de terras recuperadas (aproximadamente 0,5 km²). Em 1970, os escombros das escavações do complexo do World Trade Center e de túneis de água ajudaram a formar o Battery Park City, outro exemplo de território artificial.
Também houve ideias que não saíram do papel. Em 2011, o professor Vishaan Chakrabarti, da Columbia University, sugeriu unir Manhattan à Governors Island, o que criaria um novo bairro chamado LoLo.
A proposta de Jason Barr, apresentada em 2022, foi batizada de New Mannahatta em homenagem ao nome indígena original da ilha.
O plano prevê a criação de uma nova faixa de terra de aproximadamente 4 km ao sul de Manhattan, incorporando a região de Governors Island e somando 1.760 acres (ou 7,12 km²) ao território da cidade — um aumento de 12% na área atual da ilha.
A nova ilha seria elevada em até 4,5 metros em relação ao nível do mar e contaria com um cinturão pantanoso ao redor, com a função de absorver tempestades e se preparar para futuras elevações do nível do oceano.
Com capacidade para abrigar até 247 mil pessoas, o novo bairro contaria com cerca de 178 mil unidades habitacionais, além de parques, ciclovias, espaços para caminhadas e uma extensão das linhas de metrô 1 e G, integrando a região ao sistema de transporte da cidade.
O custo estimado gira na casa de dezenas de bilhões de dólares, e o projeto poderia levar décadas para ser concluído.
A New Mannahatta pode ajudar a corrigir o desequilíbrio habitacional de Nova York: entre 2010 e os anos seguintes, o número de empregos cresceu 22%, mas o número de moradias subiu apenas 4%.
Apesar dos benefícios prometidos, o projeto também levanta preocupações.
Críticos apontam para os possíveis impactos ambientais, os custos exorbitantes e os desafios de engenharia de uma obra dessa magnitude.
A discussão está aberta, e provavelmente estará no centro dos debates urbanos pelos próximos anos.
Alexandre Cima é engenheiro civil.