Opinião/ As grandes cidades do Brasil precisam de mais adensamento

As grandes cidades do Brasil precisam de mais adensamento
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As grandes cidades do Brasil estão indo na contramão das melhores práticas urbanísticas quando se analisa onde as pessoas estão indo morar.

Segundo dados do último Censo de 2022, as populações metropolitanas estão crescendo em direção às regiões periféricas e não às suas regiões centrais.

Em um recorte de duas décadas, entre 2000 a 2022, a população nas 10 maiores regiões metropolitanas brasileiras cresceu 15,8%, enquanto nas suas áreas centrais encolheu 2,7%.

Se a comparação for entre o crescimento populacional nas 10 maiores capitais com o de suas respectivas áreas metropolitanas, o avanço foi 6 pontos percentuais menor nas capitais. 

Isso é um problema porque cidades com áreas centrais mais populosas e adensadas permitem melhor qualidade de vida da população, pela redução do tempo gasto em viagens e maior facilidade de acesso a equipamentos de saúde, educação, cultura e lazer.

Além disso, o adensamento das regiões centrais promove a redução de emissões de gases de efeito estufa devido à menor poluição gerada pelo transporte, à diminuição do desmatamento nas franjas das cidades, e à redução da extração de matéria-prima para novas construções. 

Outro argumento importante é o da maior eficiência nos gastos públicos.

A expansão horizontal das cidades em direção às suas periferias e terrenos ainda não dotados de infraestrutura requer mais investimentos per capita em energia, água, saneamento e transporte, na comparação com o crescimento vertical.

Quando o crescimento ocorre de modo fragmentado ou não-contíguo, o custo de implementação de serviços por quilômetro linear é mais elevado.

O resultado disso é o consumo de terras que não produzem as receitas públicas necessárias para o bom provimento de utilidades públicas.

A informalidade que acompanha este padrão territorial torna o quadro institucional ainda menos eficaz para a atuação dos governos.

Entre os exemplos positivos, chama a atenção o desempenho de São Paulo e Rio de Janeiro. Ambas as cidades tiveram crescimento de população nas suas áreas centrais em patamares semelhantes aos crescimento de suas regiões metropolitanas.

Em São Paulo, 13,2% na área central e 15,8% na região metropolitana. No Rio, 6,2% na área central e 6,8% na região metropolitana.

As duas contam com políticas públicas de atração de moradores para as regiões centrais, como é o caso do Reviver Centro no Rio e o Todos pelo Centro em São Paulo. São bons exemplos a serem levados a outras capitais.

O arquiteto e urbanista Washington Fajardo, ex-secretário de Planejamento do Rio e autor de políticas públicas que fomentam a revitalização de áreas centrais, observa que as áreas centrais das cidades brasileiras são muito pouco adensadas em comparação com outras ao redor do mundo, tanto em países ricos quanto em desenvolvimento.

Por exemplo, enquanto as regiões centrais de São Paulo e Rio de Janeiro têm densidades de 15 mil e 8 mil habitantes por quilômetro quadrado, respectivamente, Nova Iorque, Barcelona e Santiago do Chile atingem 29 mil, 23 mil e 20 mil.

A implementação de políticas de adensamento deve ser liderada pelas cidades brasileiras, com políticas contundentes de verticalização e adensamento urbano nas regiões centrais, foco dos investimentos públicos nessas áreas e congelamento do espraiamento.

Os governos estaduais e federal também podem ter papéis relevantes com investimentos em equipamentos públicos e em segurança nessas regiões.

Entre as políticas públicas mais eficazes para aumentar o adensamento nas regiões centrais estão os incentivos ao retrofit (modernização) de prédios antigos e a conversão de prédios comerciais para o uso residencial, além da urgente venda de imóveis públicos ociosos.

O aumento do adensamento dos nossos centros deve ser um objetivo permanente dos governos. Centros vivos e vibrantes representam cidades mais saudáveis e sustentáveis.

Felipe Góes é chairman da São Carlos Empreendimentos

 

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