Bairro planejado – o último de Jaime Lerner – começa a sair da prancheta

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A quase nove quilômetros do centro de Curitiba, começa a tomar forma em Pinhais o último projeto assinado pelo urbanista curitibano Jaime Lerner, morto há quatro anos.

Ex-prefeito da capital paranaense e ex-governador do estado, Lerner deixou pronto um projeto de bairro planejado que será construído em cima do Autódromo Internacional de Curitiba, desativado e abandonado desde 2021.

O ponto central é criar um bairro onde o essencial possa ser feito em no máximo 15 minutos de distância, por meio de deslocamentos menos poluentes como bicicleta, caminhada e transporte público — um conceito disseminado pelo urbanista colombiano Carlos Moreno, professor da Sorbonne e uma das apostas da prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

A escolha do autódromo de Curitiba para o bairro foi uma sugestão do próprio Jaime em 2015, em um jantar com o engenheiro que está tocando a empreitada, Fernando Bau.

Fernando, que é CEO da BairrU – especializada em bairros planejados e loteamentos residenciais – conta que Lerner dizia que só projetaria o bairro se as pistas de corrida fossem mantidas, “porque a alma do projeto é a pista.”

jaime lerner

“Ele chegou a brincar que, se as pessoas aceitam esse tipo de logística em Mônaco, por que não aceitariam em Pinhais?” o engenheiro disse ao Metro Quadrado.

Batizado de Parc Autódromo, o bairro planejado vai manter 70% do traçado das pistas e é hoje o maior projeto de desenvolvimento urbano do Paraná, com 560 mil metros quadrados de área total, dos quais 130 mil voltados para áreas verdes e de lazer. 

No início do trabalho, foi preciso pensar em um ponto do terreno que servisse de coração do bairro, uma referência para o entorno. A escolha se deu pelo centro do circuito original, onde há um bosque preservado, com a vista para a Serra do Mar de um lado e o pôr do sol do outro. 

“Um bairro planejado não é apenas um conjunto de ruas e edificações. Precisa ser um lugar um lugar onde as pessoas querem estar,” diz Yasmin de Nadai, arquiteta e gerente de produto da BairrU.

A ideia é que sejam construídas 300 casas, 40 torres residenciais e comerciais, além de 200 lojas, entre fachadas ativas e comércios nas ruas principais, tudo em parceria com incorporadoras. Os preços das habitações podem variar de R$ 200 mil a R$ 5 milhões.

Até o momento, foram investidos R$ 30 milhões na fase de pré-projeto. E mais R$ 200 milhões serão aportados na obra para infraestrutura aberta, que terá início em abril, e R$ 2,5 bilhões devem ser alocados na construção de residências e comércios.

Fernando Bau okO VGV estimado é de R$ 5 bilhões. As vendas dos primeiros terrenos para casas começam em março, e cinco torres residenciais estão em pré-projeto.

O Parc já tem um acordo fechado com o Colégio Âncora, que ficará na via principal do bairro, a avenida Jaime Lerner. Outras negociações estão em andamento, com um supermercado e um posto de gasolina, por exemplo.

A BairrU foi criada em 2015 por Fernando, quando ele decidiu voltar a morar em Curitiba, depois de anos vivendo em São Paulo, onde foi CEO da Estre Ambiental.

O Parc Autódromo é o seu primeiro projeto. Mas ele também já fechou negócio para a construção de outro bairro em Guarapuava, a 250 quilômetros de Curitiba, apelidado de BairrU das Cerejeiras.

O bairro do Autódromo, segundo ele, lembra um condomínio do Alphaville, com a diferença de que será aberto à comunidade ao redor, num conceito de open-mall, seguindo a vontade de Jaime de criar um local onde as pessoas possam morar, estudar, trabalhar e se divertir no mesmo espaço.

A proposta, porém, só passou a fazer sentido para Fernando depois que ele visitou a Cidade Pedra Branca, um bairro planejado a 22,5 km de Florianópolis, no município de Palhoça, que também contou com a participação do premiado urbanista. 

O bairro se estabeleceu em 1999 por meio da venda de lotes residenciais de uma fazenda familiar da área. Hoje, a Cidade Pedra Branca é repleta de comércios e prédios, e se destaca pela segurança, com crianças indo e voltando da escola sozinhas.

Em Curitiba, Fernando diz que seria muito mais fácil fazer o óbvio no autódromo, e subir um muro para construir três ou quatro condomínios que seriam vendidos em dois dias. 

Mas preferiu assumir a missão de tocar o projeto de Jaime e entregar “a última joia da coroa” do urbanista, responsável por tornar Curitiba a capital ecológica do Brasil, cidade que recentemente inspirou o cineasta Francis Ford Copolla para o filme Megalópolis. 

“Ter a responsabilidade de tangibilizar aquilo que ele acredita, e tentar colocar isso no mundo é um negócio único, e um presente para Curitiba,” disse.

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