Como o metrô pode reprecificar a Gávea, na Zona Sul do Rio

Como o metrô pode reprecificar a Gávea, na Zona Sul do Rio
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Um dos bairros mais agradáveis da Zona Sul do Rio, a Gávea ainda sofre com a falta de mobilidade e segue à espera do metrô.

O mercado imobiliário, também.

O bairro vive uma seca de lançamentos desde 2023, mas uma série de incorporadoras aguarda o avanço das obras da estação Gávea, da Linha 4, para destravar empreendimentos.

A estação, que começou a ser construída em 2014, parou por falta de recursos e só foi retomada em 2023. Hoje, a entrega está prevista para 2030.

Localizado abaixo da Praça Sibélius, com saídas previstas próximas à PUC-Rio e à Praça Santos Dumont, o metrô servirá como elo entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca.

Pela ausência de metrô e por ser cercada de natureza, a Gávea é vista pelo mercado como um bairro isolado, de difícil acesso, e que acaba criando barreiras para o aumento da oferta de imóveis.

Entre as empresas que estão de olho na Gávea e acompanham as obras de perto estão nomes como Azo, TGB e Mozak e Performance.

A Azo, por exemplo, está preparando um lançamento a poucos metros da futura estação. O CEO José de Albuquerque diz que o anúncio da retomada das obras aumentou significativamente o interesse de potenciais compradores, sobretudo investidores de locação. 

“A valorização ainda não se refletiu nos preços atuais, mas a demanda já cresceu. Estamos diante de uma janela de oportunidade,” ele disse ao Metro Quadrado.

Jose de Albuquerque ok

O valor médio do metro quadrado da Gávea gira entre R$ 12 mil e R$ 14 mil em imóveis usados, e entre R$ 20 mil e R$ 25 mil em lançamentos, enquanto em Ipanema e no Leblon os preços chegam a R$ 40 mil.

Com Ipanema e Leblon já consolidados nos patamares mais altos da cidade, e com a falta de terrenos disponíveis em bairros tradicionais, a Gávea pode funcionar como um novo eixo de absorção.

Antiga área de chácaras e engenhos, o bairro começou a se consolidar como zona residencial no início do século 20, preservando o caráter arborizado, as ruas estreitas e a baixa verticalização. 

A criação da PUC-Rio, na década de 1940, e do Planetário, nos anos 1970, reforçaram o perfil acadêmico e cultural da região, que também passou a atrair moradores em busca de tranquilidade sem abrir mão da centralidade.

Para Elcilio Britto, sócio da franquia da imobiliária Lopes no Rio, o bairro tem dois perfis bem definidos: o da juventude do Baixo Gávea, com bares, restaurantes e vida noturna, e o das famílias tradicionais, localizadas em casas e condomínios na parte mais alta do bairro. 

Segundo ele, há imóveis na região avaliados em até R$ 25 milhões, mas também há uma nova geração, de filhos e netos de moradores antigos, que busca permanecer no bairro por meio de unidades menores e mais modernas.

“A Gávea é como um grande condomínio. É pequeno, consolidado, e com muita tradição,” ele disse.

Para Homero Neto, diretor da construtora JB Andrade, o destravamento da Gávea com a chegada da estação pode reequilibrar a oferta de unidades compactas, um perfil que tem crescido em toda a cidade, especialmente entre jovens e investidores.

“A Zona Sul ainda carece de apartamentos pequenos. E a Gávea, com a PUC e seu comércio próprio, é um ponto estratégico para esse perfil,” ele disse. 

A estação também tem o apoio de moradores, ao contrário do que ocorreu em Higienópolis, um dos bairros da elite paulistana que resistiu à chegada do metrô.

Durante os anos de paralisação, a associação de moradores Ama-Gávea pressionou o poder público pela retomada das obras, organizando em 2024 uma manifestação pedindo celeridade.

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“Todo lugar que recebe transporte de qualidade é beneficiado. Isso vale para quem mora, para o comércio e para os serviços,” disse Pedro Wahmann, o presidente do Secovi Rio.

Em bairros consolidados, a presença do metrô costuma puxar os preços residenciais entre 5% e 10% acima da inflação. 

Um exemplo é a abertura da linha Q, na Second Avenue, no Upper East Side, em Nova York, que resultou em uma valorização média de até 32% nos imóveis do entorno. 

No Rio, o próprio histórico local confirma esse movimento. Bairros como Copacabana, Ipanema e Leblon também viveram saltos significativos de valorização com a expansão do metrô.

“Não tem como o maior polo universitário da cidade continuar sem metrô. A Gávea não é um relicário, é parte viva da cidade,” disse Homero. 

“Se exclusividade é manter a Gávea fora do mapa, então talvez esteja na hora de redesenhar esse mapa.”

 

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