Em Berlim, um aeroporto desativado vai virar um novo bairro

BERLIM — Na capital alemã, os aeroportos têm mais de uma vida.
Construído pelos nazistas, o Tempelhof foi convertido em um parque público após seu fechamento em 2008, enquanto o originalmente soviético Schönefeld serviu de base para a edificação do Berlim-Brandemburgo, que há cinco anos concentra os serviços aeroportuários da cidade.
Agora é a vez do Tegel — o aeroporto erguido do lado ocidental de Berlim durante a Guerra Fria e que foi o principal terminal de passageiros da cidade até o seu fechamento em 2020 — passar por uma requalificação.
Durante as próximas décadas, o terreno de 461 hectares deve receber pelo menos 8 bilhões de euros em investimento público e privado para passar por uma urbanização sustentável com 5 mil moradias, universidade, hub de tecnologia e área de conservação.
Discutido desde 2012, o projeto batizado de Berlin TXL (o código do aeroporto) não é uma novidade.
Mas vários desafios — que vão desde o financiamento até a necessidade de varrer toda a área do aeroporto para garantir que não restam vestígios de bombas de algum dos conflitos de que a cidade foi palco no último século — estão tendo que ser superados antes que o novo bairro de Berlim comece a tomar forma.
Vale notar, nessa linha, que algumas áreas do aeroporto estão sendo utilizadas para acomodar refugiados desde 2022 e manterão essa atribuição até 2031, segundo o governo da cidade.
Apesar de adicionar complexidade às obras, o cronograma não deve mudar se o prazo estabelecido não se estender, a Tegel Projekt, estatal responsável pelo projeto, disse ao Metro Quadrado.
Imprevistos à parte, há agora um progresso visível nas obras do Berlin TXL e os primeiros ‘residentes’ já estão instalados em prédios restaurados do antigo aeroporto.
São cerca de 40 empresas e instituições de pesquisa — focadas em temáticas sustentáveis como energia e mobilidade — que chegaram durante a primeira fase de desenvolvimento do Urban Tech Republic, como é chamado o hub de tecnologia do bairro.
No fim das obras, a expectativa é que até 1 mil empresas tenham operações ali, em uma estrutura que combina o aproveitamento de terminais, hangares e outros edifícios do velho Tegel com a criação de terrenos de 3 mil a 200 mil metros quadrados para aluguel (o Estado manterá a propriedade de todos os imóveis do bairro e os disponibilizará para locação).
O projeto divide o hub em três áreas: o parque industrial, que receberá áreas produtivas maiores; a área comercial, que terá espaços médios compatíveis com desenvolvimento e produção; e o campus, espaço para pesquisa e que servirá de faculdade para 2.500 alunos da Universidade de Ciências Aplicadas e Tecnologia de Berlim (BHT) a partir de 2029.
A BHT ocupará o antigo Terminal A do Tegel, o icônico edifício brutalista em formato hexagonal.
Já a parte residencial do projeto, batizada de Schumacher Quartier, vai ser construída do zero em um terreno de 46 hectares a leste da estrutura existente.
A ideia é que o bairro seja uma referência em tecnologias urbanas sustentáveis, como a utilização de madeira nas construções e de um sistema de retenção de águas pluviais que elimina a necessidade de drenagem convencional.
O trânsito de automóveis também será restrito e a urbanização contará com parques, escola, creche e centros de recreação e comercial.
Dos 5 mil apartamentos previstos, os primeiros 810 já tiveram seu plano de desenvolvimento aprovado. As obras — que são responsabilidade de empresas estatais de habitação — devem começar em 2026, e os primeiros inquilinos receberão suas chaves em 2028.
Como Berlim vive uma intensa crise habitacional, com baixo estoque de moradias e preços galopantes, pelo menos 35% dos imóveis serão oferecidos à população com aluguel subsidiado, e outra parte deve ser reservada a estudantes.
Pensando nisso, o governo já planejou mais 4 mil casas, que serão construídas posteriormente em áreas vizinhas ao Schumacher Quartier e batizadas de Cité Pasteur e TXL Nord.
Estão previstos ainda uma linha de bonde, que conectará todas as áreas do bairro; e um parque com cerca de 152 hectares de área verde — o Tegeler Stadtheide — que deve ficar pronto em 2030.
Dividida em várias etapas, a construção do Berlin TXL deve avançar 2040 adentro, mas a Tegel Projekt espera que o processo nunca termine.
“As áreas de pesquisa e indústria nunca estarão verdadeiramente ‘concluídas’ – elas se desenvolverão e mudarão de maneira ágil.”