Na Grande BH, expansão do metrô empurra o mercado imobiliário

Na Grande BH, expansão do metrô empurra o mercado imobiliário
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O mercado imobiliário de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, está ganhando um belo empurrão. 

A cidade vai ganhar três novas estações, todas conectadas à Linha 1 do metrô da Grande BH – e as incorporadoras já estão se preparando para surfar o aumento da demanda por moradia esperado para o entorno.

“Os terrenos valorizam, comércios abrem e a roda do mercado gira. É um fator que altera o status quo,” o incorporador Evandro Negrão de Lima Jr, presidente de um dos principais players da cidade, a Sancruza, disse ao Metro Quadrado.

O metro quadrado médio da cidade já subiu 30% desde dezembro de 2022, quando a expansão do metrô ainda não havia sido anunciada, e agora está em R$ 5.619, segundo levantamento da Fipe feito com base em anúncios nos portais Zap Imóveis e Viva Real, do Grupo OLX.

E o número de unidades lançadas em Contagem quase triplicou no primeiro semestre, saltando para 1.365, contra 486 em igual período do ano passado, segundo o Sinduscon-MG.

Conhecida por ser uma cidade industrial, Contagem tem apenas uma estação em operação, no bairro Eldorado. Das três novas, uma já está em construção, em Novo Eldorado, com previsão de entrega em 2026, e outras duas foram anunciadas recentemente, nos bairros Parque São João e Beatriz, ainda sem previsão.

Com a expansão do metrô, a Prefeitura espera implantar em 2026 o Sistema Integrado de Mobilidade (SIM), que conecta os diferentes modais de transporte.

“A região do Novo Eldorado, que já possui comércio consolidado e ligação com o hipercentro de BH, deve sofrer valorização imobiliária imediata. Já a área do viaduto Beatriz tende a se transformar em um novo polo de atração imobiliária, sobretudo se houver integração com o SIM,” disse a urbanista Paola Rogedo Campos.

A ampliação do metrô é a segunda anunciada em três anos na Grande BH, após um hiato de duas décadas, e vai reduzir uma distorção histórica da região metropolitana em termos de mobilidade urbana, aumentando a conexão com a capital.

“Não existe cidade no mundo, com 2,5 milhões de habitantes, vizinha de uma cidade de 500 mil habitantes, que não tem uma linha de metrô conectada,” disse o professor do Instituto de Geociências da UFMG, Rodrigo Affonso de Albuquerque Nóbrega. “Com o PIB de Minas, temos que reformar vários pontos da casa ao mesmo tempo.”

O serviço é operado pelo Metrô BH, do Grupo Comporte, que venceu o primeiro leilão após a privatização da subsidiária estadual da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), em 2023, e abriu caminho para a concessão por 30 anos.

A nova expansão (que adiciona 3,6 quilômetros à linha) foi revelada no mês passado, junto com o anúncio de um aporte de R$ 1 bilhão do governo federal, por meio do Novo PAC Seleções 2025, nos eixos de Mobilidade Urbana e Renovação de Frota (Refrota).

Com a confirmação do aporte do governo federal, o CMI-Secovi-MG acredita que as empresas devem acelerar os estudos de viabilidade e de terrenos em Contagem.

É o caso da MRV, que atua em Contagem desde 1981 e lançou 80 empreendimentos no período. Hoje, são cinco em construção, todos dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, com 1.360 unidades ao todo. Três destes conjuntos residenciais ficam a menos de dois quilômetros das futuras estações.

“Estamos acompanhando de perto as transformações do metrô para avaliar novas oportunidades,” disse o gestor de Desenvolvimento Imobiliário da construtora, Cesar Merthon.

Entre urbanistas, o alerta fica por conta da possibilidade de o adensamento oriundo da expansão do metrô poder significar inclusão ou expulsão. 

“Se for acompanhado de habitação popular próxima às estações, instrumentos de contenção da especulação imobiliária, calçadas e ciclovias seguras e espaços de convivência, pode aproximar casa e trabalho, reduzir desigualdades e melhorar a vida urbana,” disse a urbanista Ísis Detomi, pesquisadora do grupo Cosmópolis, da UFMG.

“Sem essas medidas, o que ocorre é gentrificação: os preços sobem, quem mais precisa do metrô é empurrado para longe e a desigualdade se aprofunda.”

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