Opinião/ Porto Maravilha pode se valorizar tanto quanto a Barra

Quem viveu o salto patrimonial dos terrenos da Barra da Tijuca pode se preparar para o que vai acontecer com a região do Porto, o antigo centro econômico e logístico da cidade do Rio de Janeiro.
O Porto está tentando se firmar como um novo polo imobiliário, uma posição que a Barra da Tijuca conquistou décadas atrás. Até meados do século XX, a Barra era um vasto brejo, de difícil acesso e pouca ocupação urbana.
A mudança começou a acontecer com o plano urbanístico idealizado por Lúcio Costa, que vislumbrou a Barra como uma espécie de “Miami brasileira”.
O projeto previa largas avenidas, condomínios horizontais e uma integração harmoniosa entre a urbanização e a natureza, revolucionando a forma de pensar e ocupar esse território.
Nos anos 1970, marcos como a construção do Barra Shopping, a urbanização acelerada da região e a criação de grandes vias de acesso, como a Autoestrada Lagoa-Barra e, posteriormente, a Linha Amarela, impulsionaram o crescimento populacional e a valorização dos terrenos.
A região se consolidou como o principal vetor de expansão da cidade nas décadas de 1990 e 2000, abrigando uma nova classe média em busca de segurança, infraestrutura e qualidade de vida. O salto foi impressionante: de 24 mil habitantes em 1980 para mais de 394 mil em 2020.
Esse movimento gerou enorme valorização patrimonial para aqueles que acreditaram no potencial da região décadas atrás. A Barra transformou-se em um dos metros quadrados mais valorizados da cidade, consolidando-se como um caso clássico de geração de riqueza a partir da antecipação de ciclos de desenvolvimento urbano.
Hoje, o Rio de Janeiro vive um novo ciclo transformador, desta vez voltado à região central da cidade — mais especificamente à zona portuária e ao Centro Histórico.
O projeto Porto Maravilha, iniciado com a revitalização da área portuária e obras como os túneis da Via Expressa, o Museu do Amanhã e o Boulevard Olímpico, abriu caminho para o renascimento imobiliário da região. Desde 2021, foram lançados mais de 12 empreendimentos residenciais no Porto, totalizando cerca de 9.100 unidades habitacionais.
A estimativa é de um aumento de 90% na população da região, com mais de 27 mil novos moradores. Em 2023, o Porto Maravilha liderou os lançamentos verticais do Rio, com 42% do total de novas unidades, superando até a Barra da Tijuca.
Além disso, a chegada do polo tecnológico Porto Maravalley — com destaque para o IMPA Tech — tem posicionado a região como um novo polo de inovação, ciência e moradia, atraindo jovens, startups e investidores atentos à transformação em curso.
Complementando essa dinâmica de reocupação urbana, o Projeto Reviver Centro, instituído pela Lei Complementar nº 229/2021, tem como objetivo transformar o Centro do Rio em um lugar para se viver novamente. O projeto busca estimular o uso residencial em imóveis subutilizados, promover áreas verdes, incentivar a mobilidade ativa e atrair novos moradores para a região.
Desde sua implementação, o programa já atraiu 47 projetos residenciais, com mais de 2.800 unidades aprovadas ou licenciadas. Mais da metade dessas unidades foram adquiridas por famílias com renda de até 10 salários mínimos, e 35% por investidores — um indicativo claro do interesse do mercado em apostar no renascimento do Centro.
O projeto também oferece incentivos fiscais como isenção de IPTU, ITBI e ISS para novas construções ou reformas, além de programas de locação social, moradia assistida e incentivos culturais.
A proposta é devolver ao Centro seu protagonismo histórico, cultural e urbano, agora com uma nova vocação: ser também um excelente lugar para morar.
O tempo, por sua vez, é o grande aliado do investidor paciente.
As cidades crescem, a população aumenta, e a demanda por moradia e infraestrutura não recua. O solo urbano é finito — e por isso, cada metro quadrado bem escolhido é uma oportunidade de gerar valor.
A trajetória da Barra da Tijuca e o renascimento do Centro do Rio com os projetos Porto Maravilha e Reviver Centro demonstram, com clareza, o poder do mercado imobiliário como gerador de riqueza patrimonial.
Investidores atentos ao planejamento urbano, aos movimentos do poder público e aos ciclos de valorização territorial conseguem não apenas proteger seu capital, mas multiplicá-lo ao longo do tempo.
O que ontem foi brejo ou abandono, hoje se torna oportunidade. A cidade está em constante reinvenção — e quem enxerga além das aparências pode participar ativamente da construção de um novo legado, tanto pessoal quanto coletivo.
Leonardo Schneider é vice-presidente do Secovi Rio e CEO da administradora Apsa.