Os arquitetos por trás da nova sede do Governo de São Paulo

Os arquitetos por trás da nova sede do Governo de São Paulo
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Antes mesmo de riscar a primeira linha do projeto da nova sede do governo de São Paulo, os arquitetos Pablo Chakur e Fernanda Ferreira decidiram voltar no tempo.

Vencedores do concurso promovido pelo governador Tarcísio de Freitas, os fundadores do escritório Ópera Quatro entenderam que o trabalho exigiria um mergulho na história dos Campos Elíseos, o bairro da região central que voltará a abrigar a sede do Executivo estadual, 60 anos depois da construção do Palácio dos Bandeirantes no Morumbi.

Na década de 1930, a região já revelava uma paisagem urbana diversa, feita de palacetes imponentes, vilas operárias e construções geminadas. 

Essa mistura de escalas virou referência para o desenho arquitetônico da nova sede: um projeto que respeitasse a heterogeneidade do entorno, replicando os diversos tamanhos de edifícios por ali, e que se integrasse à cidade em vez de se impor.

07 06 Pablo Chakur ok

A dupla trabalhou usando como base os quatro lotes que somam cerca de 42 mil metros quadrados e devem ser ocupados por 24 secretarias e cerca de 22 mil funcionários, dos 288 mil m² de área disponível ao redor da Praça Princesa Isabel.

Agarrados à ideia de representar a morfologia urbana de São Paulo – em vez de apenas criar um edifício igual em cada lote – Pablo e Fernanda propuseram um conjunto de dois prédios por espaço, cada um com alturas e proporções diferentes do outro.

A organização ajudaria também na melhor acomodação das secretarias, que podem variar de apenas oito funcionários a quatro mil – uma abordagem que os ajudou a sair na frente dos 43 concorrentes e conquistar o júri por unanimidade.

“Nosso maior medo era transformar a sede em um elefante branco. Por isso, pensamos no projeto não como objeto, mas como cidade,” Pablo disse ao Metro Quadrado.

Lançado em março de 2024, o concurso vencido pela dupla chegou a receber críticas do mercado por não ter permitido a entrada de competidores internacionais: alguns players viram na restrição uma incoerência com a postura liberal da gestão Tarcísio.

Para sair do papel, o projeto ainda depende da definição da empresa que vai tocar as obras; o edital, publicado neste mês, também não permite estrangeiros.

Além disso, ainda falta o leilão que o governo deve fazer até outubro com investidores interessados em assumir a concessão para implantar, gerir e operar a nova sede por 30 anos, um projeto que deve exigir R$ 5,4 bilhões em investimentos.

Um dos objetivos de Tarcísio com a nova sede é revitalizar o Centro, uma região que ainda desperta insegurança por seu estado de abandono – e que impactou Pablo em suas primeiras visitas para estudar o bairro.

“Foi uma surpresa. Quando andei por ali, percebi o quanto era necessário fazer algo,” ele disse. “É acima de tudo um projeto urbano.”

Na tentativa de reativar a vida urbana no entorno, mais de 20 mil metros quadrados serão usados por lojas no térreo da nova sede, as chamadas fachadas ativas – um tema que recebeu tratamento diferente entre os escritórios que participaram do concurso.

Alguns concorrentes apostaram em elevar os acessos dos funcionários, colocando as entradas administrativas acima de uma plataforma de lojas. 

O Ópera Quatro foi na direção oposta. 

“Se queremos revitalizar o chão da cidade, deixá-lo vivo, por que tirar as pessoas dali?,” disse Pablo. 

A proposta mantém todo o acesso no nível da rua, garantindo que milhares de servidores passem em frente aos comércios, além daqueles que já frequentam o bairro.

Com a chegada do comércio e o aumento do fluxo, a expectativa é que as ruas se tornem mais seguras e haja uma revalorização dos imóveis da região, gerando oportunidades de lançamentos residenciais. 

O próprio governo já anunciou seis mil unidades de habitação social para o entorno da praça.

A revitalização, no entanto, não pode ser confundida com gentrificação, pontuaram os arquitetos.

07 06 Fernanda Ferreira ok“Todo mundo fala de gentrificação, mas o que aconteceu ali foi o contrário. As pessoas foram embora por causa da violência,” disse Fernanda.

“O plano é tentar trazer essas pessoas de volta, mas a arquitetura não resolve sozinha. Tem que vir junto limpeza urbana, saúde, moradia social, segurança.”

O projeto também amplia a praça e transforma as ruas que cortam o terreno em calçadões, permitindo a circulação de pedestres entre as quadras.

A intenção é que o espaço se prolongue – com transições suaves entre praça, rua e edifícios – para o Centro se tornar novamente um lugar para circular sem pressa, e não apenas para atravessar, disseram os arquitetos.

O cronograma prevê que a construção deve começar entre 2026 e 2027, e a nova sede estará pronta até 2030.

Como um projeto desta escala pode paralisar a região, os arquitetos pensaram também em como executá-lo com o mínimo de impacto social possível.

Uma das soluções previstas é a possibilidade de desmobilizações parciais. 

A ideia é iniciar a construção por áreas mais fáceis de liberar, como estacionamentos ou terrenos vazios, enquanto se negociam as desapropriações mais complexas. 

“Se as pessoas que moram no centro hoje conseguirem continuar morando amanhã, com melhores condições, saberemos que tudo isso valeu a pena,” disse Pablo.

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