São Paulo vive um apagão verde, diz Ricardo Cardim

São Paulo está vivendo uma espécie de apagão verde.
A cidade que já foi referência em urbanização arborizada hoje vê grandes áreas tomadas por cimento ou por árvores anãs, que nunca atingem tamanho suficiente para oferecer sombra, reduzir calor ou filtrar poluentes de forma efetiva, mesmo em bairros pensados para terem árvores, segundo o paisagista Ricardo Cardim.
“O cidadão olha uma muda de Ipê amarelo e imagina que ali vai nascer uma árvore capaz de trazer benefícios significativos, mas ela mal chega a três metros, equivalente a um galho de uma árvore adulta,” ele disse num debate na Câmara Municipal de São Paulo, como parte dos preparativos para a COP30.
Historicamente, áreas periféricas sempre foram menos arborizadas, mas já faz um tempo que o apagão verde tem afetado até mesmo bairros de classes mais altas, como Jardins, Vila Madalena e Higienópolis, ele disse.
No século XIX, São Paulo era conhecida como São Paulo dos Campos de Piratininga, um cerrado de altíssima biodiversidade que incluía mata trânsita úmida e espécies hoje raras ou extintas, como a Melancia do Cerrado.
Com a expansão urbana ao longo do século XX, grande parte desse ecossistema foi substituída por ruas asfaltadas e avenidas arborizadas com espécies exóticas, alinhadas para criar grandes alamedas.
Esses corredores verdes, muitas vezes projetados para bairros-jardim, ofereciam sombra contínua, copas que se encontravam e uma sensação de frescor natural que hoje praticamente desapareceu.
“Ruas como a Alameda Santos eram verdadeiros túneis verdes, com copas que se encontravam e davam sombra completa. Essas árvores ficaram doentes e, ao final do seu ciclo de vida, desapareceram,” disse ele.
Os impactos se multiplicam ao se observar os efeitos sobre a infraestrutura urbana, já que a impermeabilização do solo, aliada à falta de árvores de grande porte, intensifica enchentes e acentua o calor, transformando bairros antes agradáveis em ilhas de calor.
“Quando estava se desenvolvendo, São Paulo tinha orgulho de ser a cidade que mais crescia, mas só em relação a cimento,” disse Cardim. “Precisamos começar a investir na urbanização dessa cidade bilionária de forma bilionária.”