Como o aflalo/gasperini está surfando o boom dos corporativos em São Paulo

Da Faria Lima à Paulista, São Paulo tem vivido um boom de novos prédios corporativos – e há um escritório de arquitetura em especial que tem sido procurado com frequência para projetá-los: o aflalo/gasperini arquitetos.
Levam a assinatura do escritório projetos novos como o Super JK, da GTIS Partners; o Passeio Paulista, empreendimento de uso misto desenvolvido pela Brookfield com a incorporadora Fibra Experts; e o Edifício JFL 125, multiuso da JFL Living na Rebouças.
Mas um dos que mais recebem a atenção do escritório é o Salma Tower, menos por questões estéticas como a integração do imóvel com o bairro em um hall projetado sem muros ou gradis, e mais pela eficiência no desenvolvimento do projeto.
Embora o pós-pandemia tenha dado mais importância a demandas ligadas ao bem-estar dos funcionários, o preço final do projeto ainda é o fator que pesa mais.
“Quanto menor for a conta do prédio, melhor é o projeto como um todo,” o sócio-diretor Roberto Aflalo Junior disse ao Metro Quadrado.
Para o Salma Tower, localizado no encontro da rua Professor Atílio Innocenti com as avenidas Horácio Lafer e Faria Lima, o escritório dividiu o edifício em três blocos, com os vãos revestidos de uma floresta suspensa.
“O corporativo tem que trabalhar com fundamentos importantes, como bons materiais e pé-direito alto, que permita alterações conforme a mudança dos inquilinos,” afirma.
A escolha da fachada também pesa. “O tipo de vidro impacta diretamente a regulação de calor, o que pode representar uma grande economia para o condomínio.”
Esses critérios têm se repetido nos lançamentos mais recentes. Dos 12 projetos fechados no pós-pandemia, 10 são edifícios corporativos “puro-sangue” ou de uso misto que seguem essa mesma lógica.
Hoje, uma demanda muito comum das incorporadoras — a fachada ativa — já foi um obstáculo para o escritório. “Em normas anteriores, nas últimas três décadas, o regimento dificultava o uso misto e penalizava empreendimentos com espaço comercial no térreo,” diz Roberto.
Hoje, o Plano Diretor incentiva que os edifícios possuam fachadas ativas, com térreos ocupados por pequenos negócios, como cafés e restaurantes.
Sobre o retorno ao presencial no pós-pandemia, o arquiteto vê com certa crítica a ideia de que os escritórios vão ter cada vez mais espaços de convivência para os funcionários.
Ele diz que é preciso ponderar o custo dos empreendimentos, e que nem todas as companhias conseguem manter esse tipo de benesse para os funcionários.
“Na Faria Lima, quando falamos das empresas riquíssimas, elas têm a prerrogativa de dar quantos metros quadrados forem precisos para os funcionários. Mas quando você entra em uma empresa de porte médio, a situação é diferente e a equação é sobre o custo do projeto,” diz.
A vocação do aflalo/gasperini para empreendimentos corporativos vem de longa data — e foi o motivo pelo qual a empresa nasceu há 60 anos.
Em 1962, Plínio Croce, Roberto Aflalo e Gian Carlo Gasperini se uniram para participar de um concurso da União Internacional de Arquitetos (UIA) para criar, à época, a maior e mais alta torre de escritórios no centro de Buenos Aires.
O trio superou centenas de propostas e projetou o edifício Peugeot — um case de brutalismo à brasileira, com concreto armado, 45 andares, dois auditórios, uso misto, vão livre e fachada ativa com comércio. Ali nascia a verve do escritório para os imóveis comerciais.
Apesar de a estreia ter sido na Argentina, foi em São Paulo que o escritório se consolidou como um dos principais nomes da arquitetura corporativa, com projetos que vão do Centro à Faria Lima e à Berrini.
“Não sei se foi um pouco de sorte, mas nós acabamos sempre envolvidos com projetos corporativos ao longo da nossa história,” diz Roberto.
A proximidade com esse mercado foi o que motivou, no início dos anos 2000, a mudança da sede do Centro para a Vila Olímpia — movimento para se aproximar dos clientes que começavam a ocupar o eixo da Marginal Pinheiros, após a Operação Urbana Consorciada Faria Lima.
“A história do nosso escritório faz parte da história da arquitetura da cidade. Nas décadas de 1990 e 2000, fizemos grandes edifícios corporativos, como a sede do Citibank, da IBM e o Rochaverá Towers,” diz Grazzieli Rocha, sócia-diretora.
Hoje, o escritório tem 10 empreendimentos em fase de lançamento ou construção, entre projetos comerciais e residenciais para incorporadoras como Even, Yuny, Helbor, Benx e You, Inc.
Roberto diz que a decisão entre lançar um corporativo puro-sangue ou um imóvel de uso misto dependerá da localização e da disponibilidade de CEPACs, que serão leiloados pela Prefeitura de São Paulo em 19 de agosto — o último certame da Operação Urbana Faria Lima.
“Ali, não há dúvida: pode construir o que for que vai ter ocupação de alto padrão,” diz Roberto.