Escritórios: O abismo de preços entre a Faria Lima e o resto da cidade

O trecho mais procurado para escritórios na Faria Lima nunca esteve tão caro em relação ao restante de São Paulo — um abismo que divide o mercado corporativo da cidade em dois.
Na faixa que vai do cruzamento com a Avenida Juscelino Kubitschek até o bairro Cidade Jardim, onde ficam os prédios mais novos e badalados, o aluguel do metro quadrado já ultrapassa os R$ 300, segundo a Cushman & Wakefield.
E já se aproxima dos R$ 400 no caso dos edifícios do tipo boutique — com lajes menores do que os prédios tradicionais, mas com uma estrutura igualmente sofisticada.
São as maiores cifras registradas em São Paulo, diz a Cushman.
Na parte menos nobre da avenida, perto do Largo da Batata, os aluguéis caem para R$ 160 a R$ 170 por m², próximos do que se encontra também na Rebouças. Na Chucri Zaidan, outro destino tradicional de escritórios, fica um pouco acima dos R$ 100. A média da cidade é de R$ 131,50.
Há 20 anos, era possível alugar escritórios na Faria Lima a R$ 75 o metro quadrado, 50% acima do que se encontrava na Marginal Pinheiros, a R$ 50. Agora, os preços na Faria Lima estão 200% maiores que os da Marginal, compara Rodrigo Abbud, head da vertical de real estate do Patria no Brasil.
“Essa divergência nunca esteve tão grande,” ele disse ao Metro Quadrado.
Depois de ter chegado a bater 21% na pandemia, a taxa de vacância dos prédio A e A+ da Faria Lima caiu para 10%, segundo a Cushman. Na JK, está em 2,4%.
Hoje, o único prédio do eixo com mais de 10 mil m² de área consecutiva disponível é o JK Square.
Os preços altos se explicam não apenas pela pouca oferta disponível, mas também pela importância que o setor financeiro e as empresas que estão na sua órbita dão à área.
“Tem que estar aqui na Faria Lima porque o cliente está aqui, o concorrente está aqui, o status está aqui,” disse um gestor.
No entanto, já há um movimento de algumas empresas de buscar outros endereços, mesmo que seja para levar só os times de backoffice, enquanto os profissionais que lidam com os clientes seguem na Faria Lima.
É o caso da XP, que no mês passado anunciou que locou 12 mil m² na Chácara Santo Antônio, para receber a equipe de tecnologia. Já a diretoria e as áreas ligadas aos negócios de research e gestão devem permanecer no São Paulo Corporate Towers, na JK.
“Talvez a gente tenha chegado a um teto de preço na Faria Lima,” disse um analista do setor imobiliário.
Abbud, porém, não vê risco de o preço assustar empresas e aumentar a vacância. O gestor acredita que há espaço para que os aluguéis subam ainda mais.
O custo de produção de um prédio na Faria Lima está na faixa de R$ 35 mil a R$ 36 mil por m², com poucos terrenos disponíveis. Considerando um aluguel da ordem de 1% desse valor, os preços ainda poderiam chegar a R$ 360.
“A demanda continua sólida, os valores de locação continuam subindo e o estoque futuro é extremamente limitado,” ele diz.
Entre os inquilinos que ajudam a manter o preço em alta estão as casas de wealth management, que precisam estar na Faria Lima e conseguem dar conta dos valores elevados por terem times enxutos.
“Eles não fazem tanto a conta por metro quadrado, porque é uma ocupação pequena. Se fossem 10 mil m², estariam mais preocupados com o preço,” diz Renato Almeida, diretor de transações da Cushman.
Em vez de a Faria Lima estacionar no preço, a tendência é que as outras regiões se valorizem, absorvendo parte da demanda que não conseguiu espaço no centro financeiro de São Paulo, em um movimento de catch up.
“Em algum momento a Park Avenue em Nova York teve um declínio porque outras regiões cresceram? Não, os bancos de investimentos querem estar lá e a Faria Lima é isso por aqui, um endereço que se consolidou como um centro financeiro e vai continuar assim,” diz Abbud.