No Jardins, falta espaço para restaurantes

No Jardins, falta espaço para restaurantes
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Um ingrediente essencial para a operação dos restaurantes está em falta no Jardins: espaço. 

Empresários do setor de alimentação têm sofrido para encontrar imóveis e manter as portas abertas em uma das regiões mais nobres de São Paulo.

As construtoras e incorporadoras vêm comprando casas que antes abrigavam esses pequenos negócios para transformá-los em edifícios — um movimento que, segundo especialistas, tem comprimido o espaço da gastronomia no bairro.

“Essa verticalização e concorrência com as incorporadoras têm penalizado os pequenos empresários do ramo alimentício, que sofrem para encontrar endereços,” o corretor Daniel Araújo, fundador da Araújo Imóveis, disse ao Metro Quadrado.

O aumento do custo imobiliário tornou a conta ainda mais difícil.

Daniel Araujo ok 1

 “Antes da pandemia, era possível alugar espaços a R$ 100-R$ 120 o metro quadrado. Hoje, nas áreas menos nobres, não sai por menos de R$ 150; nas vias mais disputadas, passa de R$ 200,” diz Araújo. 

“Para quem vai abrir restaurante, a conta simplesmente não fecha, mas o Jardins é premium e todo mundo quer estar aqui.”

O caso da empresária Juliana Duarte ilustra bem esse movimento.

Ela investiu R$ 2 milhões para abrir um restaurante no Jardim Paulista, mas menos de dois anos depois decidiu “entregar o ponto” quando o proprietário pediu um reajuste de 50% no aluguel.

“O Jardins está na lista dos bairros que mais abrem e fecham restaurantes. São lugares muito valorizados, mas sem tanto movimento para justificar,” disse.

Além do aluguel, a insegurança também pesou: em 18 meses, Juliana foi assaltada cinco vezes. 

Segundo ela, muitos proprietários preferem manter imóveis vazios à espera de propostas das incorporadoras, o que aumenta a vacância e a sensação de insegurança. 

Agora, seu plano é reabrir o restaurante da família em um espaço menor, em bairros como Pinheiros, Vila Clementina ou Perdizes.

Mesmo quando o preço não é o problema, há outro obstáculo: as restrições de zoneamento. 

Tradicionalmente residencial, boa parte das ruas e avenidas do Jardins não permite o uso do solo para bares e restaurantes — atividades restritas às áreas de Zona Mista e de Corredor.

Nesses casos, os estabelecimentos só podem operar sem restrições de tamanho e público a partir da classificação ZCor 3.

A expectativa, diz Araújo, é que a Prefeitura reclassifique ruas do bairro nas próximas atualizações do Plano Diretor, ampliando a permissibilidade do uso do solo.

Mas nem quando encontram imóveis adequados os restaurantes conseguem segurança.

Para não perder a chance de vender às incorporadoras, proprietários têm evitado contratos longos, superiores a cinco anos, por causa da obrigatoriedade de renovação garantida pela lei. 

“Hoje o proprietário só quer locar por no máximo quatro anos, porque ele sabe que, dependendo da região, vai aparecer uma construtora querendo comprar o imóvel dele por um valor muito acima de mercado,” diz Lacides de Souza, consultor da Abrasel, ao Metro Quadrado.

Segundo ele, sem contratos de pelo menos cinco anos com direito de renovação, dificilmente os empresários conseguem retorno sobre os investimentos.

Se esse cenário persistir, o Jardins pode perder protagonismo na cena gastronômica paulistana, enquanto outros bairros atraem novos negócios. 

“Há 15 anos, falávamos dos Jardins como um polo gastronômico. A tendência é cada vez mais o bairro se verticalizar e ter menos espaço para restaurantes,” diz Lacídes.

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