O novo prazo para o Emiliano tirar do papel o hotel de Paraty

Mesmo antes de construir seu primeiro hotel em São Paulo, o fundador do Grupo Emiliano, Carlos Alberto Filgueiras, já planejava a construção de um hotel de luxo em Paraty.
Agora, mais de duas décadas após a compra do terreno, seu filho e atual CEO do grupo, Gustavo Filgueiras, se prepara para finalmente tirar esse empreendimento do papel, e espera começar as obras em até 12 meses.
O projeto original foi assinado pelo Foster+Partners — o primeiro design do renomado escritório britânico de arquitetura no Brasil — e ficou pronto no final de 2009.
Entraves com mudanças de legislações ambientais atrasaram o andamento, e o projeto foi interrompido após a morte de Carlos Alberto em um acidente aéreo em 2017.
Mas o sonho de construir um Emiliano em Paraty permaneceu e Gustavo decidiu retomar os processos para aprovação do empreendimento em 2019, obtendo as licenças necessárias em 2025.
O projeto foi atualizado desde a concepção original e teve a área construída reduzida em 70% para se adequar às legislações vigentes. A proposta é preservar 98% da área total do terreno, edificando cerca de 9 mil metros quadrados de um total de 450 mil m².
Serão construídas 67 cabanas integradas à paisagem local. Haverá ainda um centro gastronômico e um spa que é um dos pilares do projeto.
“Muitas dessas áreas que serão implementadas já não têm vegetação, então a subtração vegetal deve ficar por volta de 1% da área total,” Gustavo disse ao Metro Quadrado.
Ainda assim, por ser construído em uma área de preservação ambiental, o futuro hotel gerou polêmica com parte da comunidade local e virou alvo de uma ação do Ministério Público Federal.
O MPF pede a suspensão da licença de instalação e a aplicação de multas ao município, ao estado e ao Grupo Emiliano.
O CEO afirma ter tranquilidade em relação a todos os aspectos técnicos do projeto e confiança na resolução do imbróglio judicial.
“Acredito que isso vai ser resolvido em breve, porque fizemos muitos estudos, inclusive além do que é o convencional e que nos foi exigido repetidamente.”
O Emiliano negocia um investimento de cerca de R$ 1 milhão em contrapartidas que incluem a revitalização da Praça da Igreja de Paraty Mirim e a construção de um píer para a comunidade do Saco do Funil.
O grupo também conduz estudos complementares — incluindo um levantamento individual das árvores e de manejo de animais — que devem ser concluídos em um mês e está em processo de detalhamento da logística dos canteiros para minimizar o impacto ambiental das obras.
Considerando esse processo e o embate com o MPF, a expectativa do executivo é de um prazo mínimo de um ano para o início das obras — que devem durar de dois anos e meio a três anos, colocando a possível data de inauguração do hotel em 2029.
O grupo está em discussão com potenciais investidores para o projeto e definindo qual é a cifra necessária para colocar o Emiliano de Paraty de pé, mas Gustavo diz que são “números altos”.
“É um produto hoteleiro e uma construção de altíssimo nível. Hoje um hotel desse patamar não custa menos de R$ 15 mil a R$ 20 mil por m².”
Conhecida pelo seu centro histórico pelas praias no entorno, Paraty tem também uma extensa agenda de feiras ao longo do ano – como a Flip, de literatura, e festivais de cachaça e jazz – o que garante fluxo de turistas em todas as estações.
A expectativa do Emiliano é também obter o retorno do investimento com a demanda de consumidores de luxo que buscam experiências genuínas em comunidades caiçaras.
“Existe um público que, fora a passagem aérea e traslado, deve gastar, por dia e por pessoa, por volta de R$ 8 mil a R$ 10 mil reais, incluindo experiências, compras e artesanato,” disse Gustavo.
O CEO espera gerar cerca de 1,4 mil empregos diretos e indiretos, priorizando a contratação de moradores locais, e fomentar a economia da região com a inauguração do hotel.
Essa também é a expectativa de uma moradora de Paraty criada na propriedade vizinha ao futuro empreendimento, o Sítio Funil.
Julli Mariano teve que deixar a região para buscar oportunidades de estudo e trabalho, mas espera que, com a previsão do oferecimento de cursos de capacitação para os moradores locais, o hotel facilite o desenvolvimento das próximas gerações.
“Espero que meu filho, meus primos mais novos, não precisem sair de lá, ter que morar em outro lugar e enfrentar tudo isso para ser alguém, porque a capacitação e o emprego estarão na porta de casa.”
Além do trabalho direto no hotel, Julli espera que os turistas atraídos pelo empreendimento de luxo também movimentem a economia com a compra de produtos e de experiências vendidas pelos moradores locais.
“Paraty tem uma cultura riquíssima e não queremos acabar com isso, muito pelo contrário. A gente vive disso, o cliente quer isso e, hoje, ele só paga se tiver uma entrega autêntica,” disse Gustavo.