Opinião/ O retorno ao presencial está longe de ser uma linha reta

O retorno ao presencial está longe de ser uma linha reta
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Nos últimos anos, a relação entre empresas e seus escritórios passou por uma profunda transformação, e o que parecia uma solução temporária virou um desafio permanente.

O retorno ao modelo presencial deixou de ser apenas uma questão operacional para se tornar uma decisão estratégica, carregada de complexidade, nuances e, em muitos casos, incertezas.

A recuperação do mercado de escritórios no Brasil é um fato, mas ainda está longe de significar um retorno total e uniforme.

Vivemos, sim, um momento de retomada, especialmente em regiões de São Paulo como a Rebouças e a Chucri Zaidan, onde vemos um adensamento mais consistente da ocupação.

Bancos e instituições financeiras, por exemplo, já decretaram o retorno integral. Mas a verdade é que o retorno não é uma linha reta e tampouco pode ser tratado como tal.

Para muitas empresas, voltar ao presencial continua sendo um tabu. O motivo? Mais do que a resistência de colaboradores, trata-se de uma equação complexa: o custo de capital ainda elevado, a necessidade de fazer valer cada metro quadrado ocupado, o novo perfil dos talentos e a reconfiguração da produtividade.

Não é apenas sobre espaço, é sobre cultura, estratégia e propósito.

Há também uma “fuga silenciosa” de talentos acontecendo: profissionais que repensam seu vínculo com empresas que exigem presença irrestrita, sem oferecer uma proposta de valor clara para o retorno.

Em paralelo, há movimentos como o flight to quality, em que empresas abandonam escritórios antigos e apostam em lajes mais modernas, sustentáveis e bem localizadas, com um entorno que oferece mobilidade, serviços e segurança (fatores que pesam na decisão do trabalho presencial).

Outro modelo que tem bastante adesão, principalmente nos setores de tecnologia e financeiro, é o hub and spoke, em que a sede da empresa se mantém na localização premium, mas conta com escritórios descentralizados alocados em espaços mais acessíveis para colaboradores e clientes.

O que se observa, hoje, é que as companhias que tomam decisões assertivas sobre seus espaços físicos o fazem com base em dados, escuta ativa e um entendimento real do papel do escritório em suas operações.

Há quem adote o modelo híbrido como regra, quem reforce o presencial e quem opte pela flexibilidade como valor. Não existe uma receita única.

O importante é que a decisão não seja fruto do improviso, mas sim de uma análise profunda, alinhada aos objetivos do negócio.

A pergunta já não é mais “voltar ou não voltar?”. A pergunta agora é: qual a estratégia por trás da presença?

*Matheus Cardoso é presidente da Cushman & Wakefield na América do Sul

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