Prédio de Lúcio Costa entra na leva de retrofits do Rio

No coração da Candelária, no Centro do Rio, um antigo edifício projetado por Lúcio Costa começa a se transformar em um conjunto de estúdios compactos.
A iniciativa é encabeçada pela CIX Capital – a gestora da família Zogbi – que criou um fundo focado em retrofits na região para participar do Reviver Centro, o programa da Prefeitura que dá incentivos às empresas para transformar prédios antigos em desuso em residenciais.
A incorporadora é a Fator Realty.
Juntas, as duas empresas pretendem entregar em 2027 um edifício rebatizado de Brise, com apartamentos de 25 a 40 metros quadrados, voltados para a classe média.
O investimento inicial no Brise é estimado em R$ 50 milhões, com VGV acima de R$ 100 milhões.
“O Centro do Rio está vivendo um momento oportuno. Há uma vacância enorme de escritórios e uma demanda crescente por residenciais bem localizados. O retrofit captura exatamente essa diferença de valor,” Carlos Balthazar, o CEO da CIX, disse ao Metro Quadrado.
Na região, enquanto o metro quadrado de lajes corporativas é negociado a R$ 2 mil, imóveis residenciais já alcançam R$ 12 mil, segundo o CEO.
O prédio construído em 1969 foi desenhado à distância por Lúcio Costa, que enviava cartas com croquis durante um período em que estava fora do Brasil.
Na época, o arquiteto já era conhecido pelo seu trabalho em Brasília em parceria com Oscar Niemeyer, e chegou a trocar ideias com Candido Portinari sobre o projeto, numa rara colaboração entre os dois.
Os famosos azulejos da fachada do edifício levam sua assinatura e serão preservados, assim como o traçado original.
“Nosso objetivo é restaurar e valorizar esses elementos, criando inclusive um projeto de iluminação para destacar a fachada,” disse Vasco Rodrigues, o CEO da Fator Realty. “Quando você olha de dentro de um futuro apartamento e vê a cúpula da Candelária na janela, parece que está em uma cidade europeia.”
O edifício, conhecido até então como Condomínio João Úrsulo, ficou vazio após a saída de instituições financeiras na pandemia, num cenário que se repetiu em diversas quadras do Centro.
Antes disso, o imóvel havia passado por um retrofit completo em 2015, quando recebeu novos elevadores, ar-condicionado, sistemas elétricos e hidráulicos modernizados.
O bom estado de conservação surpreendeu os incorporadores e facilitou a conversão para residencial.
“Esse era o antigo coração dos bancos. Todos queriam estar ali. Agora, a vocação é claramente residencial. O Reviver Centro abriu essa possibilidade ao derrubar a antiga vedação ao uso habitacional,” disse Balthazar.
A CIX já tem experiência com retrofits em São Paulo e nos Estados Unidos, e o Brise é sua estreia no mercado carioca.
A gestora e a Fator já estudam mais três ou quatro imóveis no Centro, ampliando a aposta em uma região que, segundo Rodrigues, virou a Zona Sul do Centro, por ter prédios mais soltos, ruas largas e luminosidade incomum para o bairro.
O incorporador acredita que a transformação pode ser tão profunda quanto a que a Barra da Tijuca viveu nos anos 1980.
“O Centro já está com outra cara. Nós só precisávamos acreditar de novo que havia vida ali,” disse Rodrigues.