A construtora onde todos os filhos querem assumir o negócio

A construtora e incorporadora paulistana Conx caminhar para virar um caso raro de sucessão familiar no mercado imobiliário.
Enquanto as novas gerações de famílias do setor estão preferindo seguir outras carreiras, a companhia conseguiu a proeza de engajar os quatro filhos dos dois fundadores, Yorki Estefan e Ricardo Luna.
Gabriel Luna, o filho mais velho de Ricardo, e os trigêmeos Rodrigo, Luiza e Guilherme Estefan são responsáveis, cada um, por uma frente distinta do negócio: finanças, novos negócios, projetos e obras, nesta ordem, cobrindo toda a cadeia da companhia.
A escolha de trabalhar na empresa fundada pelos pais não foi fruto de pressão familiar, mas de um processo natural.
O primeiro filho a se envolver com o negócio foi Guilherme, que entrou como estagiário em 2013.
Depois dele, Rodrigo chegou à empresa em 2020 após uma passagem pela MRV. Gabriel e Luiza entraram pouco depois, em meados de 2022, ele recém-saído da Loft, e ela da Cidade Matarazzo.
“Eu sempre quis ter experiência em outras empresas. Um dia, estava no Linkedin e vi uma vaga para a Conx. Naquele momento, já fazia sentido pegar meu aprendizado e levar para a empresa da família,” Rodrigo Estefan, o gerente de Novos Negócios, disse ao Metro Quadrado.
O movimento contrasta com o padrão observado em boa parte do setor, no qual a dificuldade de envolver os herdeiros tem levado companhias a apostar em executivos de mercado, principalmente entre as pequenas e médias empresas.
“Engajar jovens no mercado imobiliário é uma questão setorial, não particular. O setor não é o mais sexy para um recém-formado,” disse Gabriel Luna, o gerente de planejamento financeiro.
A presença da segunda geração da Conx contou com o empurrão com a reestruturação da governança iniciada em 2020, quando a empresa flertou com um IPO.
Na preparação, a companhia trouxe auditoria externa, criou conselho de administração e ampliou o seu compliance.
A abertura de capital acabou não ocorrendo em razão da pandemia, mas a estrutura permaneceu — e foi nesse ambiente que os herdeiros se integraram de forma mais sólida.
“Foi um dos momentos mais importantes da nossa história, porque a gente se obrigou a olhar para dentro e ganhar eficiência. De lá para cá, conseguimos triplicar o volume de produção com um crescimento marginal do quadro de pessoal,” disse Gabriel.
Fundada há 35 anos, a Conx surgiu como uma empresa voltada inicialmente a empreendimentos de médio e alto padrão em São Paulo.
Depois ampliou o escopo e foi a primeira empresa a lançar um projeto do Minha Casa Minha Vida na cidade, passando a atuar também na baixa renda.
A empresa tem crescido seu VGV em média 20% ao ano desde 2018 e prevê lançar R$ 850 milhões em 2025, com meta de chegar a R$ 1 bi até 2028, incluindo algumas parcerias com Eztec e o Grupo Lucio.
Não há previsão de quando a Conx fará uma nova tentativa de abrir capital, mas os filhos veem que a incorporadora ainda colhe frutos organizacionais do quase IPO.
“Nosso mercado é de longo prazo. Você compra o terreno hoje e o payback só chega anos depois. Às vezes é mais sexy ir para o mercado financeiro, mas aqui o propósito é outro, o de moradia,” disse Gabriel.
Não há hoje um sucessor definido para assumir a posição de CEO no futuro, mas todos estão dispostos a encarar a missão. Os fundadores, Yorki e Ricardo, seguem no comando da empresa e ainda devem permanecer à frente por alguns anos.
Gabriel e Rodrigo também integram o Secovi-SP, e querem mostrar aos pares que há espaço para uma nova geração no mercado imobiliário.
“O objetivo é deixar o Secovi mais jovem, mais próximo da realidade de quem está começando carreira no setor. Se queremos atrair talentos, precisamos falar a língua dessa turma,” disse Gabriel.