Eixo Platina: O sonho grande da Porte para a Zona Leste de SP

Nascido na Zona Leste de São Paulo, o empresário Marco Antônio Melro conhece bem as dores dos moradores locais, que em média enfrentam três horas e quarenta minutos por dia de deslocamento para trabalhar e estudar em outras áreas da cidade.
Com 4 milhões de habitantes, a ZL concentra 38% da população de São Paulo, mas apenas 8% dos empregos, em um cálculo proporcional ao número de moradores.
As queixas eram ainda maiores nos anos 80, quando Melro fundou a Porte Engenharia e Urbanismo para trabalhar no mercado imobiliário da região, construindo sobrados para venda e aluguel no Tatuapé.
A ausência de empreendimentos de alto padrão também provocava um êxodo de famílias que haviam enriquecido principalmente com o comércio local para bairros como Morumbi e Jardins.
“Isso é um problema para quem vai embora e deixa amigos, familiares e a empresa aqui, e também para a Zona Leste no longo prazo, porque o capital econômico e o cultural vai embora junto,” Melro disse ao Metro Quadrado.
Para mitigar a falta de estrutura, a Porte idealizou o Eixo Platina, um projeto de criação de um centro urbano em um trecho de cerca de três quilômetros paralelo à Radial Leste.
“Identificamos que não existia uma centralidade na região para que as forças políticas, econômicas e os trabalhadores pudessem se encontrar, e o Eixo pode ser esse centralizador,” disse Melro.
Localizado entre as estações de metrô Belém e Carrão, a primeira fase do Eixo, lançada em 2014, tem seis empreendimentos que somam um VGV de R$ 3,88 bilhões. Quatro deles já foram entregues, incluindo o Platina 220, um prédio de uso misto que tem 172 metros de altura e é o mais alto da cidade por enquanto — superando por dois metros o Mirante do Vale — e o Crona 665, o primeiro edifício 100% corporativo da região.
Agora, a Porte quer colocar ao menos outros seis projetos no mercado na segunda fase. Um deles, o Praça Japi, é um empreendimento de uso misto com estúdios, escritórios e VGV de R$ 320 milhões que está em fase de pré-lançamento.
Outros três projetos estão na fila e a incorporadora avança nas negociações para viabilizar mais dois empreendimentos.
Um dos principais objetivos do Eixo é atrair empresas e comércios, seja com ativos puramente corporativos ou de uso misto.
O fundador da Porte reconhece que fechar locações na região é um desafio. “Ainda há uma visibilidade enorme nas zonas Oeste e Sul que faz com que as empresas acabem ficando por lá, mesmo que a concorrência seja muito grande.”
A vacância na Zona Leste é de 31,9%, indicam dados da Binswanger que consideram o estoque de edifícios A e A+ da região. No trecho mais cobiçado da Faria Lima, por exemplo, a taxa é de 10,2%.
A Porte, no entanto, diz que tem conseguido bons resultados. Os dois primeiros prédios entregues, que somam cerca de 25 mil m² de salas comerciais e lajes corporativas, estão 100% locados.
O terceiro, porém, que tem 28 mil m², registra 50% de vacância dez meses após a entrega.
Entre os locatários mais relevantes dos edifícios estão nomes como o Itaú, que loca três andares do Crona 665, e a Sakura Alimentos. A Keeta, marca de delivery de comida da chinesa Meituan, também se instalou em um prédio da Porte para iniciar a operação no Brasil ainda neste ano.
Após a segunda fase do Eixo Platina, a empresa estuda estendê-lo para as direções leste e oeste e aproximá-lo do Centro.
Quando fundou a Porte em 1986, Melro começou construindo condomínios de prédios para amenizar as preocupações com segurança pública, que já existiam na época na Zona Leste.
A companhia buscou ainda atender outro gargalo da região, o da saúde, ao estruturar a vinda de um grande player hospitalar. O Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco foi inaugurado em 2008, viabilizado por uma operação de built-to-suit tocada pela Porte.
“Captamos os recursos na região mesmo, porque as pessoas tinham vontade de investir e colaborar com a área onde eles se desenvolveram.”
Segundo Melro, a experiência levou a Porte a se aprofundar ainda mais nos estudos de urbanismo. “Você pode esperar uma região se desenvolver sozinha, mas a degradação pode ocorrer também, e percebemos que a Porte poderia ter uma atuação importante nisso.”
Uma das bandeiras da empresa é afastar da Zona Leste a imagem de uma região perigosa para se morar e trabalhar.
A própria Porte teve sua imagem atrelada ao crime organizado após o ex-funcionário Vinicius Gritzbach, um delator do PCC, ser assassinado no ano passado, gerando suspeitas de supostas vendas de imóveis para traficantes.
Marco Antônio confirma que Gritzbach foi corretor da empresa por quatro anos, mas diz que o vínculo foi encerrado em 2018. A ligação com o tráfico foi negada em um inquérito já encerrado e sem implicações para a empresa, que trata o tema como “página virada”.
Além de trabalhar no Eixo Platina, a companhia está de olho nas possibilidades para a região da futura estação Anália Franco do metrô. “Entendemos que esse é outro eixo muito importante que precisa ser desenvolvido, mas o entorno dele é mais antigo e precisa de renovação.”
Segundo Igor Melro, o diretor comercial da Porte e filho do fundador, a empresa entregou recentemente um empreendimento com estúdios, salas comerciais e fachada ativa nessa região, e tem um projeto residencial de alto padrão, também com fachada ativa, já no início da obra.
“Trabalhamos bastante para que outras áreas possam ser adquiridas, mas nada ainda que seja do tamanho do que temos desenvolvido no Eixo Platina.”