A incorporadora que quer levar o paulista de Trancoso para BC

A incorporadora que quer levar o paulista de Trancoso para BC
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ITAJAÍ, Santa Catarina – Há uma nova tese em Balneário Camboriú e adjacências.

Depois de uma primeira onda de demanda por imóveis que atraiu gaúchos e catarinenses do interior, e de uma segunda com a turma do agro do Centro-Oeste e os estrangeiros, agora a missão é fisgar o exigente público paulista que costuma veranear em Trancoso.

Para que a coisa vingue, o mercado local está apostando em arquitetura autoral nos projetos, e assim conseguir responder sem gaguejar à primeira pergunta dos compradores de São Paulo: quem é o arquiteto?

Quem está liderando o movimento é a ABC Empreendimentos, a incorporadora fundada pelo ex-corretor Thiago Cabral e dona do maior landbank da região, com 12,5 milhões de metros quadrados em terrenos, quase três vezes o que tem a FG Empreendimentos, a responsável pelos maiores arranha-céus de BC, incluindo o Senna Tower.

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A ABC acabou de entregar na Praia Brava, em Itajaí, vizinha de BC, um projeto assinado por Arthur Casas, o Bravo Residences, um empreendimento com apenas cinco unidades de 325 m² cada (um por andar) e um duplex garden 580 m². O VGV é de R$ 180 milhões.

Embora o prédio seja baixo para poder respeitar a legislação restritiva de Itajaí, a altura acaba sendo um fator a mais de atração dos paulistas, que rejeitam projetos que soem megalomaníacos.

E enquanto a turma do agro prefere regiões mais adensadas, como o centro de BC, que contrastam com a calmaria do campo, o público que leva uma vida frenética em São Paulo quer ir para as áreas mais exclusivas, como as praias do Estaleiro e do Estaleirinho, ambas também em BC, e na própria Praia Brava, que seriam uma Trancoso mais próxima e com mais oferta de serviços no entorno.

“Trancoso já está consolidada, e agora nós começamos a ser uma opção,” Thiago disse ao Metro Quadrado. “Mas em Trancoso você fica ilhado. Aqui, se o cliente quiser barulho, ele está a 10 minutos de tudo.”

Além da arquitetura autoral, a ABC está investindo em serviços de hospitalidade – uma outra estratégia já tratada como básica entre os empreendimentos de alto padrão em São Paulo.

Alguns dos serviços serão buscar o cliente no aeroporto, fazer compras para ele e oferecer um chef para passar o verão cozinhando para as famílias do empreendimento.

“A ideia é que o cliente se sinta morando no próprio SPA,” Thiago disse. 

O Bravo Residences é o primeiro projeto de Santa Catarina desenvolvido do zero com a assinatura de Arthur Casas, que só havia trabalhado em um retrofit no estado.

Além dele, a chamada Costa Esmeralda – o trecho do litoral catarinense que inclui BC, Itajaí e Itapema – já atraiu nos últimos anos nomes como Isay Weinfeld, Thiago Bernardes, Miguel Pinto Guimarães e o escritório do britânico Norman Foster.

“Quem não fizer com arquitetura autoral vai brigar por preço,” disse o fundador da ABC.

Nas contas da incorporadora, fazer um empreendimento assinado por um arquiteto renomado pode aumentar em até 30% o custo da obra, não apenas porque o escritório é mais caro, mas também porque o projeto exige insumos mais sofisticados.

No Mayfair, um dos empreendimentos da ABC na Praia Brava, a fachada é toda revestida de alumínio, o que acabou custando R$ 16 milhões a mais.

A empresa entende que o investimento vale a pena porque o público de São Paulo já está habituado a tíquetes elevados.

“Ele não paga metade do valor para estar no centro de Balneário, mas paga o dobro para estar nessa privacidade,” disse Thiago.

Segundo ele, 2025 foi o ano em que a ABC mais vendeu para o público paulista, com cerca de R$ 75 milhões de VGV, cinco vezes mais do que em 2024.

Um dos desafios do mercado do litoral de Santa Catarina é convencer os possíveis compradores de que Balneário Camboriú e a região no seu entorno não estão próximas de uma bolha.

Thiago diz que escuta essa preocupação nas conversas com os clientes de São Paulo e procura eliminá-la argumentando que tudo depende da localização.

“Não tem bolha em produto de frente para o mar. Muitas vezes não há nem oferta,” ele disse. “Mas se você vai para a segunda ou terceira quadra, onde estão fazendo muitos prédios, com 20 mil a 30 mil apartamentos à venda, é lógico que há risco de não liquidez.”

Thiago fundou a ABC em 2011 depois de uma carreira como corretor que começou aos 16 anos em Itapema.

Ele busca usar sua expertise na corretagem para achar bons terrenos na região. A empresa calcula que o landbank de 12,5 milhões de m² sustenta 25 anos de operação, com VGV estimado de R$ 17 bi.

A prioridade é sempre escolher terrenos de frente para o mar, mesmo que exijam algum desenvolvimento urbano antes de erguer o projeto.

E caso o terreno não seja pé na areia, a ABC chega a comprar os imóveis menores à frente para evitar que outros projetos sejam erguidos ali e tapem a vista dos moradores.

“Em São Paulo, as áreas mais valorizadas mudam de lugar ao longo do tempo. Aqui não há nada que vá valer mais do que de frente para o mar, mesmo que você banhe de ouro,” disse Thiago.

 

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