A vizinha que promete destronar Balneário Camboriú como o m² mais caro do Brasil

ITAJAÍ, Santa Catarina — Dona do título de metro quadrado mais caro do Brasil, Balneário Camboriú deve ser destronada em breve por outro endereço do litoral catarinense localizado a poucos quilômetros de distância.
Incorporadoras e corretores locais indicam que os preços de alguns lançamentos na Praia Brava, que pertence ao município de Itajaí, já superam em até 30% a média dos últimos empreendimentos lançados na cidade vizinha – e alcançam ou ultrapassam a faixa dos R$ 100 mil por metro quadrado.
Os valores mais elevados se devem às características do desenvolvimento da região, que, apesar de estar separada da orla central de BC por apenas um córrego e um morro, está sujeita a um plano diretor diferente.
O zoneamento impediu a construção dos extravagantes arranha-céus à beira-mar e garantiu que as quadras próximas à faixa de areia de cerca de três quilômetros tivessem condomínios menores, com no máximo dez andares – dando um viés mais exclusivo à praia.
Além disso, o canto norte da Praia Brava faz parte de um acordo de compensação ambiental entre a prefeitura de Itajaí e o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) e tem regras ainda mais restritivas que o lado sul, limitando os edifícios a oito pavimentos.
Há ainda a previsão para a criação de unidades de conservação e parques no local para preservar áreas de Mata Atlântica remanescentes, o que torna os 800 metros de praia entre a lagoa do Cassino e o Canto do Morcego a joia da coroa da Praia Brava e o endereço mais cobiçado pelos empreendimentos de luxo.
Um acordo entre as incorporadoras donas de terrenos prevê que apenas nove empreendimentos existirão no local, todos de altíssimo padrão.
Desse total, um já está consolidado – o Bravíssima Private Residence, do Taroii Investment Group — um está em construção — o Scenarium Brava Norte, da FG Empreendimentos — e os outros sete devem ser erguidos no futuro.
“Apesar de serem projetos de empresas diferentes, todos se conversam para fazer algo coeso. A Brava Norte será um bairro planejado, que é o que tem atraído hoje o público de altíssima renda e viabiliza a realização de empreendimentos de valor agregado mais alto,” disse Arthur Fischer Neto, o diretor da incorporadora Müze, disse ao Metro Quadrado.
A empresa deve tocar o próximo canteiro da região com o lançamento do Tempo, previsto para o segundo semestre. O empreendimento é assinado pelo escritório de Norman Foster, arquiteto britânico ganhador do Pritzker e responsável pelo escritório da Apple na Califórnia.
Esse é o segundo projeto da firma do arquiteto britânico no Brasil e, além de residências, terá suítes do Hotel Emiliano – que será o único seis estrelas de toda a região, incluindo Balneário Camboriú. A entrega está prevista para o final de 2029.
De acordo com a Müze, o terreno tinha um potencial construtivo de até 160 unidades residenciais, mas a incorporadora optou por diminuir o número total e construir apartamentos maiores para “preservar a exclusividade da região”.
Com isso, a menor das 83 unidades residenciais tem 410 m² e deve custar R$ 25 milhões, enquanto a maior tem 1,4 mil m² e a pedida ultrapassa os R$ 120 milhões.
O pipeline da Müze prevê mais um lançamento, desta vez 100% residencial, na região norte da Praia Brava em 2026.
Já no lado sul da Praia Brava os preços por m² são menores, mas já se equiparam aos de BC em alguns casos.
“Na quadra mar, você não consegue encontrar nada inferior a 25 mil por m². As revendas oscilam na faixa dos R$ 35 mil a R$ 40 mil. E já se fala em R$ 60 mil, que é o valor médio de Balneário Camboriú, em projetos novos frente-mar,” disse Clóvis de Albuquerque Filho, o diretor comercial da Procave.
A Procave é uma das construtoras mais antigas da região de BC e uma das pioneiras no desenvolvimento da Praia Brava com o Brava Home Resort, condomínio do tipo clube lançado em 2009.
O terreno de 100 mil m² era originalmente um kartódromo de um clube local e foi comprado pela incorporadora em 2003, quando a Praia Brava era considerada pouco segura do ponto de vista físico e jurídico, com ruas sem pavimentação e mal iluminadas e terrenos ocupados desordenadamente.
“Existiam muitos posseiros, então a documentação não dava segurança jurídica para a aquisição. Era um pouco de terra sem lei em vários aspectos,” disse Albuquerque Filho.
Apesar disso, a Procave apostou que, como os terrenos já estavam ficando escassos em Balneário Camboriú, o caminho natural para a expansão do mercado imobiliário seria para a Praia Brava.
Para fomentar o desenvolvimento da região, a incorporadora reservou 25 mil metros do terreno original para a construção de empreendimentos comerciais.
Hoje já existem um shopping e um colégio, e há planos para erguer também torres corporativas.
Uma iniciativa da prefeitura de Itajaí, que determinou que o imposto municipal gerado na área teria que ser obrigatoriamente reinvestido na Praia Brava, também impulsionou o crescimento local.
A Procave diz ter landbank para ao menos mais quatro projetos na região, mas não pretende lançar nenhum deles no futuro próximo.
“Nós desbravamos a Praia Brava, mas agora vamos ficar sentados na bancada deixando os outros trabalharem e lá na frente a gente volta.”
Apesar das construções próximas à faixa de areia serem o grande chamariz da região para quem vem de fora, nas quadras mais afastadas do mar outras construtoras também têm tido sucesso com apartamentos menores pensados para absorver a demanda local, especialmente de primeira moradia.
Esse é o caso da CK Construções e Empreendimentos, que trabalha principalmente no eixo da Avenida Oswaldo Reis – rota que liga Itajaí a Balneário Camboriú e é considerada o centro comercial da Praia Brava.
“Tentamos sempre fazer empreendimentos triple A a um preço acessível. O nosso ticket médio hoje é de R$ 20 mil/m²,” Charles Kan, o fundador e CEO da empresa, disse ao Metro Quadrado.
A construtora tem três projetos já em construção na região, lançou mais um neste ano e planeja colocar outro produto no mercado ainda em 2025. O landbank comporta ao menos mais quatro lançamentos.
Um deles, o Artefacto Towers by CK, deve ser entregue até o final do ano que vem e tem um ticket médio R$ 3 milhões, com VGV total de R$ 350 milhões.
Segundo a empresa, o preço das unidades valorizou cerca de 93% desde o lançamento, em setembro de 2021.
“Com esses empreendimentos atendemos em cheio a demanda de famílias que já estavam aqui na região e queriam projetar o apartamento dos filhos perto dos pais, mas não queria um empreendimento tão caro como a primeira residência.”
Atualmente, o menor apartamento do projeto, de cerca de 79 m², sai por R$ 2,1 milhões, enquanto uma cobertura duplex custa R$ 5,9 milhões.