‘Achadinho’, ‘para herdeiro’ ou ‘podrão pra reforma’? Tamara te ajuda a escolher

Dois anos atrás, Tamara Stief estava pronta para desistir da carreira no mercado imobiliário.
Depois de 13 anos vendendo imóveis em São Paulo – a maioria lançamentos – sua carreira parecia estagnada e algumas portas começaram a se fechar.
Foi então que ela teve a sacada que mudou tudo.
Depois de deixar as grandes incorporadoras e ser rejeitada para uma vaga no Quinto Andar, começou a mostrar imóveis em vídeos no Instagram.
“Eu estava cansada de ser humilhada nesse mercado que, às vezes, é muito sujo,” Tamara disse ao Metro Quadrado.
O início foi amador. Em um dos primeiros vídeos, o áudio soa abafado, e só é possível entender perfeitamente o que ela diz graças à legenda.
Mas aquele improviso caiu no gosto das redes, e aos poucos Tamara foi desenvolvendo seu próprio estilo: melhorou a qualidade da imagem mas manteve a linguagem informal, descrevendo os imóveis colocando-se no lugar do comprador, numa espécie de plano-sequência pela unidade.
“Olha o tamanho desse quarto, minha gente! Quer dar espaço para o marido? Quer ter espaço? Tá bom esse tamanho de quarto?”, Tamara diz em seu primeiro vídeo que bateu 1 milhão de visualizações (um apartamento em Higienópolis).
A corretora estava de volta ao jogo.
Atraiu clientes e conquistou uma legião de fãs, um grupo que chama carinhosamente de “maramores”.
Logo depois de viralizar, abriu sua própria imobiliária, a Tamaras, com 20 pessoas.
Ao exibir os apartamentos antigos e espaçosos dos bairros mais tradicionais de São Paulo, acabou se especializando em imóveis usados – tipicamente residências charmosas, com decoração descolada, que podem estar em um prédio projetado por um arquiteto famoso, cuja história Tamara faz questão de contar.
A corretora tem mais de mil propriedades na carteira, que em média vão de R$ 1,5 milhão a R$ 5 milhões. Na sua conta de 250 mil seguidores no Instagram, ela os classifica como “achadinhos”’, “para herdeiro” ou o famoso “podrão para reforma.”
Com os vídeos, Tamara virou o rosto do próprio negócio, como aconteceu nos anos 1990 com Valentina Caran, corretora que virou ícone em São Paulo estampando sua foto em paineis na Paulista.
A inspiração para tentar a sorte na internet veio de corretores estrangeiros que já atuavam como influenciadores.
No Brasil, no entanto, a abordagem era outra: os corretores seguiam um roteiro engessado, que simulava uma visita presencial. Com música suave, uma voz aveludada e um ar quase aristocrático, eles vendiam seu peixe.
“Muitos corretores gostam de ostentar, usar carrão, fingir que são milionários. Eu nunca fingi que era rica nos vídeos, sempre fui pé no chão. Esse foi o grande gancho,” disse.
Em vez de se ater apenas às características do imóvel, ela comenta o bairro, sugere possíveis reformas no local, elogia a decoração dos proprietários – e não hesita em tirar sarro quando necessário.
“Esse aqui é o podrão que todo mundo pede. Eu entrei e fiquei bem assustada. Olha essas paredes. Eu estou aqui passando vergonha,” disse Tamara ao narrar outro imóvel em Higienópolis. “Para você que está buscando aquele apartamento para jogar abaixo, é esse aqui.”
Tudo isso acontece sem roteiro. “É meu fluxo de pensamento, que por anos ficou contido enquanto eu trabalhava para os outros,” disse.
Nem sempre a exposição gerada por seus vídeos é bem recebida.
Quando apresentou um apartamento de R$ 8,2 milhões nos Jardins, furou a bolha e viu o hate chegar.
“Esse é para herdeiro. É o apartamento do solteirão, da solteirona. É para aquela fatia mínima das pessoas,” a corretora disse, em tom de brincadeira.
Recebeu comentários negativos, de pessoas que viram nela um recalque, mas que ela fez questão de responder, ainda em tom bem humorado.
“Aos exaltados que não compreenderam a licença poética do humor. Ser herdeiro não é pejorativo. Um beijo carinhoso a todos, herdeiros, ou não.”
Apesar do engajamento nas redes, seja dos fãs ou dos haters, Tamara diz que prefere ser vista mais como corretora do que como influencer, e que jamais imaginou que seus vídeos teriam esse alcance.
“Se eu soubesse, teria começado 15 anos antes.”