As corretoras que fogem da moda das redes – e vendem bem

A corretora Renée-Claire Nussbaumer já estava de saída de um apartamento que visitou no Jardins quando ouviu o funcionário da incorporadora perguntar:
– Você não vai fazer vídeos?
Ela já tinha feito, e ele nem percebeu. Enquanto conhecia o imóvel e colhia informações do funcionário, uma fotógrafa contratada por ela se movia discretamente por outros cômodos para fazer imagens para o anúncio.
– Mas você não aparece nos vídeos?
– Eu prefiro não aparecer.
– Pergunto porque agora todo corretor é artista – ele riu.
Renée é uma corretora old school.

Por ter construído antes do boom das redes sociais uma carteira de clientes de alto padrão, pode se dar o luxo de não se expor em vídeos que exibem os imóveis.
O seu Instagram é fechado, aliás – e ela tem apenas 528 seguidores.
Em vez de se render à moda dos vídeos performáticos, aposta numa cartilha já testada e aprovada por gerações de corretores: conhece bem todas as ruas e edifícios, colhe informações privilegiadas com porteiros e zeladores, e investe no relacionamento para fidelizar clientes, que vão de banqueiros a astros do futebol.
Não quer dizer que não aproveite as vantagens das redes sociais.
Os vídeos sem rosto produzidos pela fotógrafa viram anúncios impulsionados pelo perfil no Instagram da Prateleira dos Imóveis, a imobiliária boutique que fundou há três anos com a corretora Raquel Mendes, uma amiga que fez nos anos 1990 nos tempos de Kauffmann – e que também é low profile.
Para elas, os anúncios via redes sociais já estão mais relevantes do que plataformas como Viva Real e ZAP Imóveis.
As duas admitem, no entanto, que não têm expertise para gerenciar os impulsionamentos, e delegam o trabalho para a PilarHomes, uma ferramenta da Pilar, a plataforma que dá apoio a corretores com marketing, jurídico e criação de sites, além de funcionar como uma comunidade na qual eles se ajudam com informações e indicações.
A Pilar diz que quase 100% da sua base de 750 corretores usam as redes sociais para vender mais, e estima que cerca de 70% a 80% deles mostram o rosto em posts.
No time dos low profile, Renée e Raquel não estão sentindo falta de aparecer nos vídeos. Elas vendem entre 13 e 15 imóveis por ano, com unidades que chegam à casa dos R$ 20 milhões, e estão satisfeitas, pelo menos por enquanto.
No segmento em que atuam, não sentem o menor cheiro de crise. “Tudo o que lançam vende rápido,” Renée disse ao Metro Quadrado em um dia de visitas a apartamentos.
Depois de sair do prédio do Jardins, sentiu-se nostálgica.
Enquanto dirigia o seu SUV rumo à próxima parada, fazendo o caminho sem GPS, a sua sócia lembrou-se, do banco do passageiro, de uma transação feita nos anos 1990 para um cliente que chegou por meio de um anúncio de jornal.
“Era uma época em que o cliente realmente aparecia. Hoje as pessoas mandam mensagem no WhatsApp e depois somem. Aquilo era um tempo bom,” Renée disse a Raquel.

No início da carreira, Renée andava de fusca – uma lista telefônica segurando o banco do carro – e levava consigo os clientes que tinham debaixo do braço o caderno de classificados com uma série de anúncios circulados, para visitar um por vez.
Agora, já se habitou a mandar antes os vídeos dos apartamentos, para só depois saber se os clientes vão querer visitar ou não.
Naquele dia, estava angustiada com um cliente vendedor que não estava se entendendo com o comprador.
Com a transação já fechada, o comprador queria que o apartamento continuasse com uma mesa e uma coifa de fogão. O vendedor resistia, e ofereceu dar em dinheiro o valor equivalente dos itens, um montante que o comprador considerou baixo.
“Não posso trabalhar com os clientes só até fechar a venda, tenho que seguir no pós até resolver tudo,” ela disse.
Uma outra característica sua é fidelizar as famílias, porque sabe que em algum momento os filhos vão crescer e também comprar apartamentos.
Nos últimos anos, tem percebido que os filhos das famílias da comunidade judaica de Higienópolis estão migrando para o Itaim Bibi ou o Jardins.
“Os mais velhos ainda preferem ficar perto da colônia, mas os mais jovens querem estar perto dos bancos onde trabalham,” diz.
Também por isso, ela e sua sócia abriram há meses um escritório na Faria Lima, para expandir a clientela, até então mais focada em bairros da Zona Oeste.
Foi no entorno da Faria Lima que ela e Raquel visitaram os últimos apartamentos do dia – que valiam entre R$ 18 milhões e R$ 26 milhões – todos com o objetivo de fazer imagens para os anúncios.
Num deles, enquanto a fotógrafa sumia pelo imóvel, as sócias gastaram alguns minutos na copa da cozinha para extrair de um funcionário do proprietário quem eram os vizinhos que estavam comprando e vendendo.
Num outro, em que o apartamento à venda era o decorado, em um prédio que já tinha um parlamentar de Brasília entre os proprietários, Renée comentou com Raquel que o ideal seria impulsionar o anúncio para quem não é de São Paulo, um público com mais chance de gostar da conveniência de um imóvel já todo mobiliado.
No caminho para a última visita, vibrou com a mensagem que chegou pelo WhatsApp: o imbróglio envolvendo a mesa e a coifa fora resolvido. A coifa ficou, a mesa saiu.
“Chegaram a um meio-termo,” comemorou Raquel.
O último empreendimento do dia era um edifício recém-entregue ao lado do Itaú BBA, com apartamentos de R$ 25 milhões, e as duas ouviram, da funcionária da incorporadora, que o público daquele prédio, assinado por um arquiteto renomado, era formado por casais maduros e já sem crianças.
Na metade do tour, enquanto a fotógrafa disparava sua câmera em outros ambientes, a funcionária quis saber de Renée:
– Você não vai fazer vídeos seus?







