BRZ recorre a IPO reverso para entrar na Bolsa

Após tentativas frustradas de abrir capital, a incorporadora mineira BRZ encontrou uma outra maneira de se listar na B3.
A empresa está combinando seus negócios com uma das menores incorporadoras da Bolsa, a carioca Fica Empreendimentos (antiga CR2), numa operação conhecida como IPO reverso.
Depois de três meses de conversas, as duas companhias acertaram uma troca de ações, com a BRZ como sócia majoritária, com 85%, e a Fica com 15%.
Na Bolsa desde 2007, a Fica é avaliada em apenas R$ 40 milhões e anotou receita líquida de R$ 2,5 milhões no ano passado, enquanto a BRZ teve receita de R$ 1 bilhão.
Ambas atuam no segmento econômico, com foco no Minha Casa Minha Vida.
A BRZ está presente em três estados – SP, MG e RJ –, com operações em 34 municípios, e a Fica só tem lançado projetos em São Paulo.
As negociações ganharam tração após o anúncio da Faixa 4 do programa federal, que ampliou o teto de valor financiado por unidade e o limite de renda para as famílias participantes.
“Nós vivemos um momento de ouro para o MCMV. O programa foi muito bem readaptado em sinergia com as construtoras,” Marcelo Tolentino, cofundador da BRZ, disse ao Metro Quadrado.
Com o IPO reverso, a BRZ passa a ter mais acesso a capital, num momento em que o mercado está fechado para estreias na Bolsa.
A empresa acredita que pode operar a múltiplos semelhantes aos de concorrentes como Direcional, Cury e outros nomes que atuam no MCMV.
Criada em 2010 pelos irmãos Marcelo, Mariana e Eduarda Tolentino, a incorporadora mineira começou dois anos mais tarde um plano de expansão pelo interior paulista e, em seguida, pelo Rio de Janeiro.
Desde 2020, com a abertura da janela de oportunidade na Bolsa, a BRZ tentou três vezes fazer seu IPO. Sem sucesso, deixou a fila por falta de condições para seguir com a oferta.
Já a Fica, fundada por Carlos Antonio Guedes Valente e um grupo de sócios, assumiu o novo nome após a CR2 passar por uma reestruturação em 2023. Antes da mudança, a CR2 tinha negócios focados em cidades do interior de SP e RJ.
Depois de abrir o capital em 2007, a empresa passou por um hiato entre 2012 a 2021 – até uma mudança societária durante a pandemia permitir a retomada das operações.
Ainda do período anterior à mudança societária e de nome, a Fica tem um terreno em Nova Iguaçu (RJ), com 2,9 milhões de m², que entrou na conta para fechar o plano de combinação dos negócios com a BRZ.
O terreno tem capacidade estimada para receber aproximadamente 35 mil unidades residenciais econômicas.
“É um terreno que já faz parte do patrimônio da empresa e teve um lançamento imobiliário em 2007, mas ainda tem espaço para mais desenvolvimento,” diz Alexandre Coelho, o presidente do conselho de administração da Fica, ao Metro Quadrado.
Apesar de não descartar a entrada em novas praças, Tolentino diz que, no curto prazo, o foco é crescer em mercados já operados pela BRZ.
“Hoje, nosso landbank é de R$ 6 bilhões. Por isso, acreditamos que seria possível – no futuro – dobrar o faturamento sem abrir novas regionais ainda,” ele diz.
A operação ainda precisa de aprovação do CADE e tem prazo de 180 dias para ser finalizada.