Cobertura sai da moda e dá lugar ao ‘rooftop’

Houve um tempo em que morar na cobertura era sinônimo de exclusividade.
Hoje, o topo dos prédios na verdade quer ser o oposto: coletivo.
Para isso, cada vez mais incorporadoras levam amenities para o último andar dos edifícios residenciais. É a vez do “rooftop”.
Em São Paulo, incorporadoras de médio e alto padrão abrem mão da área que já foi a mais cara dos edifícios para instalar piscinas de borda infinita, academias, saunas e salões de festa com vista para a cidade.
No aflalo/gasperini Arquitetos, 70% dos projetos residenciais já são desenvolvidos com lazer em pavimentos intermediários e na cobertura.
“O lazer na cobertura é uma vantagem real para o comprador, diferentemente do prédio com assinatura por exemplo,”diz Grazzieli Gomes Rocha, sócia-diretora do escritório.
De um lado, os negócios “perdem” o tíquete médio mais alto da cobertura. Mas do outro, conseguem subir o preço das demais unidades vendendo a vista dos edifícios como um diferencial que pode ser desfrutado por todos os moradores – mantendo o VGV positivo e ampliando o retorno.
Entre a Nove de Julho e a Rua da Mata, a Idea!Zarvos abriu mão da cobertura para explorar a vista para “o tapetão verde” do Jardim Europa para o seu projeto DAMATA.
Segundo o CEO Otávio Zarvos, a decisão foi possível pelo número de apartamentos – 38 no total. Assim, a diluição desse valor não passou de 3% por unidade.
“Nós temos a conta aritmética, depois a conta subjetiva. Talvez as pessoas vão descobrir esse benefício não na hora da compra, mas só depois que começarem a usar o apartamento no futuro,” ele diz.
O executivo pondera que não são todos os empreendimentos que sustentam esse tipo de movimento, já que em São Paulo nem todo endereço tem uma vista que agrega.
“Se o projeto está rodeado de outros prédios e for na mesma altura, você vai ver só um monte de antenas e a parte mais feia dos prédios,” diz Otávio, que complementa: “tem situações em que a piscina não fica boa no topo do prédio. Às vezes, vale mais ter uma cobertura mesmo.”
A decisão de tirar o lazer do piso térreo e levá-lo para cima não é só estética.
Em São Paulo, a tendência ganhou força com mudanças no Plano Diretor.
Antes, a área de lazer no térreo não era computada no potencial construtivo. Nas últimas atualizações, que incentivaram imóveis menores, a Prefeitura passou a permitir parte do lazer em outros pavimentos sem redução do potencial construtivo.
Cada unidade de apartamento dá ao projeto três metros quadrados extras de área para lazer fora do térreo. Com o avanço dos estúdios e metragens compactas, isso ampliou o potencial de uso sem comprometer a área computável.
“Em um prédio com 100 apartamentos, você já tem 300 m², o que é suficiente para ter uma boa piscina, um salão de festas legal, ou uma academia fora do térreo,” diz Grazzieli, da aflalo/gasperini.
Outra mudança que impulsionou os rooftops foi o incentivo às fachadas ativas: para estimular o uso público do térreo, a Prefeitura aumentou em 0,5% o potencial de lazer nos andares superiores.
O arquiteto, urbanista e professor Valter Caldana diz que essa tendência pode ser passageira.
Para ele, levar o lazer para o topo exemplifica o excesso de regramento municipal “do lote para dentro”, que obriga as incorporadoras a adaptarem projetos.
“Nós continuamos insistindo em um zoneamento totalmente anacrônico, que se dedica quase que exclusivamente ao que pode fazer dentro do lote, numa visão de retaguarda mercantil que é ultrapassada,” diz o professor.
Ainda que nem todo empreendimento consiga viabilizar uma piscina de borda infinita no rooftop, a ideia do uso coletivo do último pavimento ganha espaço em outros segmentos.
Na Benx Incorporadora, além dos lançamentos de médio e alto padrão, o conceito aparece nos projetos da linha VivaBenx, destinada ao Minha Casa Minha Vida, com áreas de churrasco, por exemplo.
“É como se todo mundo fosse dono de uma cobertura, em um empreendimento caracterizado dentro do HIS,” disse o diretor de novos negócios, Renato Bottoni.