Como Salvador ocupou o espaço deixado por Cyrela, Gafisa e cia

Como Salvador ocupou o espaço deixado por Cyrela, Gafisa e cia
|

Em Salvador, os tapumes de obras e outdoors de lançamentos imobiliários exibem logotipos de incorporadoras pouco conhecidas até alguns anos atrás.

O mercado da cidade está repleto de empresas locais relativamente jovens – fundadas por ex-funcionários de companhias do Sudeste que desembarcaram na capital baiana depois da leva de IPOs do setor nos anos 2000 e saíram na recessão nos anos Dilma.

08 25 Lucas Pithon okFoi o que ocorreu com o engenheiro Lucas Pithon, que fundou a LPL Engenharia em 2015.

“Quando as grandes foram embora, ficou uma lacuna. As antigas empresas familiares se retraíram, e as nacionais já não contratavam. Tivemos que criar nossas próprias empresas para continuar no mercado,” Lucas disse ao Metro Quadrado.

Outro exemplo é a Jequitibá Construtora, que nasceu em 2014, fundada por três irmãos e com foco no litoral norte de Salvador. 

As primeiras aquisições de terrenos da empresa aconteceram entre 2014 e 2016, mas o primeiro lançamento só veio em 2018, quando o ambiente político e econômico se estabilizou. 

08 24 Jose Antonio Tanajura ok“Às vezes é no caos que surgem oportunidades. O preço dos terrenos estava atrativo, e percebemos que havia público disposto a investir em imóveis de alto padrão mesmo em meio à crise,” disse José Antônio Tanajura, um dos irmãos fundadores.

Entre as incorporadoras do Sudeste que apostaram em Salvador estavam Gafisa, Cyrela, Rossi e PDG, que viram na capital baiana um bom destino para investir o dinheiro captado na Bolsa, dado que se tratava do terceiro maior mercado imobiliário do País, atrás apenas de São Paulo e Rio.

Entre 2009 e 2012, a Bahia viveu seu pico de lançamentos, ultrapassando 12 mil unidades em um único ano. Antes da chegada das empresas do Sudeste, as incorporadoras locais lançavam cerca de 4 mil unidades anualmente, segundo o Sinduscon-BA. 

O aumento da oferta, no entanto, esbarrou no avanço dos juros e na desaceleração da economia brasileira a partir de 2013 – resultando na crise dos distratos entre 2015 e 2016.

09 09 Vasco Rodrigues okAlgumas áreas ficaram marcadas por empreendimentos com estoque alto e preços desvalorizados, reflexo da saída das nacionais,” disse Vasco Rodrigues, o CEO da Fator Realty, empresa tradicional de Salvador que sobreviveu aos ciclos.

Com o nascimento de novas companhias locais, o mercado retomou o ritmo de cerca de 4 mil unidades lançadas por ano, a mesma média de antes da chegada das incorporadoras do Sudeste.

“O mercado não avançou, voltou a ser o que era, mas com uma demanda forte e pouco estoque,” disse Alexandre Landim, presidente do Sinduscon-BA. “E agora a Bahia consegue compilar todas as técnicas de construção apresentadas pelas empresas nacionalizadas.”

Além das novas incorporadoras baianas, a Moura Dubeux – que foi fundada no Recife e já estava em Salvador desde 2008 – aproveitou o recuo das empresas do Sudeste para acelerar sua expansão na capital baiana.

Diego Villar Moura Dubeux“Não foi um movimento oportunista, e sim estratégico. Acreditamos no potencial de Salvador como mercado de longo prazo,” o CEO Diego Villar disse ao Metro Quadrado.

A companhia tem cerca de 30% do mercado de média e alta renda e se consolidou como a maior incorporadora da cidade.

Além disso, com um setor mais enxuto e onde praticamente todos se conhecem, o ambiente também se tornou mais colaborativo. 

As incorporadoras locais frequentemente se unem em parcerias para dividir riscos e viabilizar projetos.

“Um ajuda o outro a tocar os projetos. Acho que esse é um dos grandes diferenciais de Salvador agora,” disse Lucas, da LPL. “Nós somos fruto de um momento em que parecia não haver espaço. Se as grandes não tivessem ido embora, dificilmente existiríamos hoje.”

Siga o Metro Quadrado no Instagram

Seguir