No Rio, Britto quer fazer um ‘BNH digital’

No Rio, Britto quer fazer um ‘BNH digital’
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O corretor vai virar também banqueiro.

Elcilio Britto – o sócio da BSJ, a franqueada da Lopes que está num processo de divórcio com a imobiliária no Rio – está tirando do papel um projeto que ficou oito meses no forno: um banco digital para o mercado imobiliário.

Elcilio Britto

No início, o Hausbank está atacando uma das maiores dores do corretor, a demora para receber as comissões, com a antecipação do dinheiro; e oferecendo outras soluções de pagamento para o setor, como emitir boletos para construtoras e condomínios.

Mas a maior ambição é se tornar em algum momento um player especializado em financiar empreendimentos imobiliários, a exemplo do que foi um dia o antigo Banco Nacional da Habitação (BNH).

“Vamos atuar na mesma linha do BNH, só que em formato digital,” Britto disse ao Metro Quadrado.

Em vez de competir diretamente com os grandes bancos que oferecem o chamado plano empresário ou com os principais nomes do mercado de capitais, a Hausbank mira as incorporadoras menores que têm menos acesso à Faria Lima.

A companhia estuda inclusive criar um fundo dedicado a comprar terrenos e assim realizar permutas com os incorporadores.

“Muitos incorporadores precisam de caixa para novos lançamentos, mas encontram dificuldade para levantar recursos. Queremos atuar nesse espaço,” disse ele.

O banco – um white label do Votorantim – foi colocado de pé com um aporte inicial de R$ 45 milhões em uma rodada com investidores-anjos, e tem como meta movimentar R$ 1,5 bilhão em transações no primeiro ano de operação – metade do que a BSJ registrou em vendas de imóveis com a Lopes no Rio em 2024.

“Nós acreditamos que daqui a dois anos, o Hausbank pode ser a principal empresa do grupo,” disse Britto .

A iniciativa está sendo lançada num momento em que Britto enfrenta uma disputa judicial com a Lopes. A BSJ pede a rescisão do acordo de franquia depois de discordâncias na estratégia e nas negociações para renovação do contrato, que vence em dois anos.

“Nós buscamos a Lopes inicialmente para ser parceira, mas por ser uma empresa de capital aberto, é mais burocrático, e eles negaram achando que talvez fosse um devaneio nosso,” disse Britto.

O empresário então se juntou a um amigo de longa data para fundar o banco, Ernesto Otero, que estava estruturando uma plataforma de pagamentos e distribuição de dividendos em blockchain.

“Eu trouxe a operação, e o Otero, a tecnologia,” disse Britto.

09 24 Ernesto Otero ok“Estamos 100% focados em produtos nichados, que ofereçam soluções que falem a língua do mercado imobiliário,” disse Otero, escolhido CEO do Hausbank.

Com a expertise de Otero, o Hausbank também está apostando na tokenização de ativos imobiliários — processo que transforma imóveis em frações digitais registradas em blockchain. As operações são reguladas pela CVM.

Na prática, os tokens podem ser adquiridos por investidores de diferentes perfis e negociados posteriormente como qualquer outro ativo, mas de maneira digital.

Esse tipo de negociação começou a ganhar força a partir da criação do Ethereum, em 2015, que permitiu a programação de contratos inteligentes em blockchain.

Foi essa base que viabilizou a chamada tokenização de ativos, hoje aplicada em diversos setores, começando no mercado imobiliário em 2017 nos Estados Unidos.

“Estamos pegando o que o mercado tradicional já faz, que é fracionar ativos, e elevando ao quadrado, com custo e spread menor. Com tokens, você ganha mais liquidez e acessa um público muito maior,” disse Otero.

O banco quer ter ainda em 2025 o primeiro projeto residencial 100% tokenizado do País, no Rio.

Embora esteja em litígio com a Lopes e veja potencial para o Hausbank, Britto não se vê saindo da corretagem.

“É uma cachaça, eu gosto muito, vou ser corretor para o resto da vida.”

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