Moura Dubeux: lucro avança, mas mão de obra preocupa

A Moura Dubeux, principal incorporadora do Nordeste, tem conseguido elevar a sua rentabilidade – mas a escassez de mão de obra tem sido um obstáculo para margens mais ambiciosas.
No quarto trimestre, a empresa viu o lucro líquido subir 33% em um ano, para R$ 44,9 milhões, e o ROAE saltou de 12,4% para 17,5%, um dos maiores da indústria.
Parte da melhora se deve ao controle mais rígido da empresa nas despesas comerciais (a proporção ante as vendas brutas caiu de 7% para 6,2%) e nas despesas administrativas (que recuou de 5,6% para 5,1%).
“Estamos ganhando eficiência, com ganho de escala. Nosso objetivo nunca foi ser a maior, mas a mais rentável,” o CEO Diego Villar disse ao Metro Quadrado.
Além disso, com a resiliência do cliente de alta renda do Nordeste, principal público da incorporadora, a velocidade de vendas avançou 8,7 pontos percentuais na comparação anual, encerrando 2024 em 54,3%.
Villar diz que o modelo de condomínio fechado adotado pela companhia — no qual as obras são financiadas pelos compradores e não dependem de funding externo — protege o negócio dos efeitos dos juros.
“O cliente que tradicionalmente compra esse produto está muito bem, obrigado,” ele diz.
Com o resultado divulgado, a companhia aprovou um pagamento adicional de R$ 50 milhões em dividendos, ou cerca de R$ 0,60 por ação.
A Moura Dubeux pretende seguir distribuindo proventos com recorrência — ao menos R$ 50 milhões por semestre —, além de almejar alcançar um ROAE de 20% e um lucro líquido anual superior aos R$ 500 milhões entre 2029 e 2030.
Para isso, precisará superar alguns desafios, como a dificuldade em atrair mão de obra para os canteiros.
A escassez tem sido uma questão para todo o mercado, por um fator estrutural: com os empregos criados por plataformas como Uber e Ifood, há menos pessoas dispostas a trabalhar nas obras.
O resultado é o aumento do custo dos profissionais disponíveis. O INCC, que subiu 7,18% nos últimos 12 meses, está sendo pressionado principalmente pela mão de obra, que teve alta de 9,47%.
Villar diz ainda que o Nordeste, onde ele atua em sete dos nove estados, tem um outro fator: o peso do Bolsa Família.
“Da Bahia ao Ceará temos nas capitais um CLT para um Bolsa Família. No Maranhão e Piauí são dois Bolsa Família para um CLT. Então essas pessoas não estão querendo entrar no mercado formal de trabalho porque perdem o benefício,” ele disse.
Para tentar driblar a falta de profissionais, a Moura Dubeux tem investido em capacitação e apostado em empreendimentos voltados para as classes baixa e média, que exigem atividades menos artesanais e conseguem ter processos mais industrializados.
A companhia criou no ano passado a Única para operar na faixa de renda mais elevada do Minha Casa Minha Vida, voltada a famílias que ganham até R$ 8 mil por mês, e se prepara para lançar o primeiro empreendimento da marca em Fortaleza.
“Neste ano teremos cerca de R$ 200 milhões em lançamentos e assim seguiremos crescendo até chegar a R$ 1,2 bilhão em um segmento que é altamente estimulado pelo Governo,” disse Villar.
Já para classe média, a empresa tem a marca Mood. Esta faixa de renda é mais sensível aos juros altos, mas Villar lembra que o Governo tem planos de elevar o teto de renda familiar mensal do MCMV para R$ 12 mil, com uma taxa de 8% ao ano.
O pedido de Lula, ainda não votado pelo Congresso, é destinar mais R$ 15 bilhões para o orçamento do programa, e assim criar a Faixa 4.
“Se o Governo de fato estimular, temos hoje projetos preparados para dobrar a Mood de tamanho em 2025,” Villar disse.