MRV aumenta prejuízo, mas volta a gerar caixa
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A holding da MRV reportou um prejuízo consolidado de R$ 249,8 milhões no quarto tri, bem acima da perda de R$ 12,7 milhões anotada no trimestre anterior.
A piora se deve principalmente à Resia, o negócio de empreendimentos multifamily nos Estados Unidos que tem sido afetado pelos juros mais altos no país. Só na Resia, o resultado negativo foi ampliado de R$ 52,3 milhões para R$ 237,2 milhões.
Para estancar a sangria, a MRV interrompeu projetos da Resia e anunciou em dezembro um plano para se desfazer de terrenos entre 2025 e 2026, e com isso levantar US$ 800 milhões. Desde então, já foram vendidos US$ 46,5 milhões.
“A Resia agora tem um perfil de desalavancagem,” o CFO Ricardo Paixão disse ao Metro Quadrado.
O negócio de incorporação da MRV no Brasil, por sua vez, teve prejuízo de R$ 17,8 milhões no quarto tri, no resultado atribuível aos acionistas, revertendo o lucro de R$ 46,1 milhões no trimestre anterior.
No entanto, no número ajustado – que exclui efeitos do equity swap com a recompra de ações, marcações a mercado das dívidas e swap de fluxo de caixa – a companhia teve lucro de R$ 78,2 milhões, uma alta de 18% sobre os três meses anteriores. No ano, lucrou R$ 274 milhões, dentro do guidance para o indicador.
A MRV tem buscado reestruturar seu negócio de incorporação há pelo menos dois anos, depois de ter sido machucada pelo avanço da inflação de construção entre 2019 e 2023 e a alta da Selic de 2% para 14,25%, o que elevou a alavancagem e deprimiu a rentabilidade da companhia.
A companhia gerou R$ 371 milhões de caixa no trimestre – a primeira vez na história que todos os negócios geraram caixa: MRV, Luggo, Urba e Resia – ainda que as contribuições das três últimas sejam tímidas.
Só a MRV terminou 2024 com geração de R$ 419,1 milhões, depois de queimar R$ 236,9 milhões em 2023.
Com isso, a companhia dos Menin conseguiu acelerar a queda de sua alavancagem, que fechou o ano em 1,84x EBITDA, contra 4,77x no fim de 2023.
“Acima de 1 ainda é alto, porque nosso patamar historicamente é abaixo de 1, mas estávamos em quase 5,” disse Paixão. “Nossa meta é alavancagem zero. É um conservadorismo grande do nosso lado e ainda não será possível ter isso em 2025, mas já tivemos alavancagem zero por muito tempo no passado.”
Para 2025, Paixão disse não estar preocupado com a inflação de custos da construção nem com a escassez de mão de obra, e minimizou o aumento da concorrência na habitação popular.
“Todas essas questões afetam mais a região Sudeste, em especial Rio e São Paulo, enquanto nós temos um negócio com dispersão geográfica, no Centro-Oeste, no Norte e no Nordeste,” ele disse.
Ele ressaltou também que o processo de construção da MRV é mais industrializado, o que reduz o impacto do aumento do custo da mão de obra. “Além disso, o dólar vem arrefecendo, tirando pressão da inflação.”
No quatro tri, a margem bruta da MRV Incorporação ficou em 27%, acima dos 26,6% do trimestre anterior mas ainda pressionada por projetos que foram vendidos em 2021 e 2022 com baixa rentabilidade.
Já a margem bruta para as novas vendas feitas no trimestre ficou em 34%, abaixo dos 37,5% registrados nos três meses anteriores. “Estamos subindo os preços acima da inflação e queremos continuar fazendo isso em 2025,” disse o CFO.
A receita líquida operacional atingiu R$ 2,2 bilhões no trimestre, alta anual de 16,3%. O ano inteiro encerrou com R$ 8,4 bilhões, um avanço de 16,9% e no topo do guidance. Segundo Paixão, o Minha Casa Minha Vida representou 92% das vendas, proporção que ele acredita que deve subir para 95% em 2025.
O fato de o orçamento do FGTS para o programa em 2025 ter ficado no mesmo patamar de 2024 não o preocupa. “O conselho curador mudou o critério da taxa de desconto para o imóvel usado e com isso o financiamento para usado caiu no segundo semestre, e isso deve aumentar a verba para imóveis novos.”
Antes da publicação do balanço, a ação da MRV fechou em queda de 6,8%, uma das maiores perdas do Ibovespa.