Na Vila Madalena, condomínio compra ‘casinha do lado’ para barrar incorporadoras

O not in my backyard está ganhando uma nova arma num bairro nobre de São Paulo: a proverbial casinha ao lado.
Em vez de recorrer à tradicional estratégia de protestar por meio de associações de moradores, os proprietários de um condomínio de alto padrão na Vila Madalena, o Altto Vila Madalena, se juntaram para comprar uma casa na mesma rua, só para impedir a construção de um novo edifício.
O imóvel foi arrematado por quase R$ 2 milhões, ou R$ 40 mil para cada condômino, disse uma fonte a par das negociações.
O movimento reforça a escassez de terrenos nos bairros nobres de São Paulo e revela uma nova barreira que as incorporadoras têm enfrentado para tirar seus projetos do papel, somando-se aos protestos corriqueiros de associações de bairros e às restrições do Plano Diretor.
O investimento do condomínio da Vila Madalena foi feito após rumores de que casas da vizinhança já estariam sendo negociadas em blocos por incorporadoras.
A estratégia dos proprietários foi comprar a “casa do meio”, para inviabilizar de cara uma compra em bloco por alguma incorporadora.
“Ninguém quer perder a vista do apartamento por causa de mais um prédio. Todo mundo quer morar no ‘último prédio alto da rua’,” disse um morador da Vila Madalena ao Metro Quadrado.
Com a aquisição aprovada em assembleia pelos condôminos, o plano por enquanto é que o imóvel seja transformado em uma área de lazer fora das dependências do prédio.
Antes do Altto fechar a compra, a mesma ideia chegou a ser cogitada por moradores de um edifício vizinho, mas não avançou.
Curiosamente, o prédio que hoje tenta impedir novas construções já foi ele próprio o “vilão do bairro”, alvo de polêmicas e disputas judiciais.
Em 2013, duas associações de moradores da Vila Madalena foram à Justiça para barrar a construção do Altto. O grupo alegava que a obra feria as restrições do Plano Diretor em vigor à época.
O TJSP chegou a conceder uma liminar suspendendo as obras da Even, incorporadora do projeto. A decisão, no entanto, foi posteriormente revertida, e a empresa pôde seguir com a construção.