Nas obras, também está faltando engenheiro

A escassez de mão de obra nas construções vai além dos pedreiros.
Com os lançamentos imobiliários em alta, as incorporadoras e construtoras também estão sentindo falta de engenheiros civis.
Há menos jovens dispostos a entrar no curso de engenharia civil, e parte daqueles que se formam estão preferindo ir para outros mercados, como o setor financeiro, que conta com vagas de entrada que pagam mais e oferecem carreiras mais promissoras.
“A velocidade com que o mercado está crescendo é maior do que a disponibilidade de profissionais,” Yorki Estefan, o presidente do Sinduscon-SP, disse ao Metro Quadrado.
Para piorar: parte daqueles que exerciam a profissão no passado abandonaram a carreira na recessão econômica de 2015 e 2016, depois do boom das obras do PAC, e acabaram virando motoristas de aplicativo.
Dos 150 mil engenheiros civis registrados no CREA-SP, apenas 17% emitiram a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) em 2025 — documento que formaliza a responsabilidade do profissional sobre serviços, projetos ou obras e que pode ser emitido mesmo após a conclusão do trabalho.
De acordo com a CNI, o Brasil tem cerca de 5,6 engenheiros para cada 100 mil habitantes. Em países como Estados Unidos, Japão e Alemanha, essa proporção chega a 25 por 100 mil habitantes.
A queda do interesse pela profissão já é percebida na graduação.
Segundo o Inep, a engenharia civil esteve entre os 10 cursos com mais ingressantes no País entre 2010 e 2019, com o ponto alto em 2014, quando recebeu mais de 132 mil novos alunos, chegando ao quinto lugar.
Nos anos seguintes, o curso foi descendo nas colocações até que deixou a lista em 2020.
Na PUC-SP, por exemplo, o curso chegou a receber 83 ingressantes em 2014, mas iniciou 2024 com apenas 11 novos alunos.
“Há faculdades com vagas remanescentes em engenharia. Isso era algo impensável alguns anos atrás,” Matheus Marquesi, o coordenador do curso de engenharia civil da instituição de ensino, disse ao Metro Quadrado.
“A engenharia viveu anos muito difíceis depois de 2015. Muitos alunos passaram a olhar para outras áreas porque não enxergavam previsibilidade na carreira.”
A migração de profissionais da categoria para o setor financeiro é antiga (Henrique Meirelles, por exemplo, é engenheiro civil), mas foi acelerada pelo boom de investidores pessoa física que o Brasil experimentou nos últimos anos, multiplicando a figura do assessor de investimentos, e pelo avanço do mercado de capitais, que abriu espaço para novas assets.
“Esses profissionais que saíram do mercado de construção civil formal e foram para o mercado financeiro, infelizmente eles não voltam mais,” disse Yorki, do Sinduscon-SP.
E entre os engenheiros que seguem na profissão, o trabalho na obra perdeu atratividade nos anos de instabilidade, e parte deles preferiu permanecer em funções administrativas ou de gestão, longe dos canteiros.
Vinicius Marchese, o presidente do Confea, disse que a escassez de engenheiros não é um problema apenas do setor, mas do País, podendo travar obras de infraestrutura, saneamento e energia, além de programas importantes para o governo, como o Minha Casa Minha Vida.
“Se o Brasil não enxergar esse segmento como estratégico, a economia como um todo será afetada,” ele disse.







