O arquiteto belga que trocou Dubai por Manaus

O arquiteto belga que trocou Dubai por Manaus
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Novo Airão, a pouco mais de duas horas de Manaus, vai ganhar em breve o primeiro condomínio de casas da região, todas com vista para o Rio Negro.

O projeto quer ser uma alternativa de second home para manauaras que antes não encontravam imóveis com essa característica no entorno, em um destino que até hoje se apoia em hotéis de selva voltados ao estrangeiros e hospedagens para mochileiros.

Um dos arquitetos que assinam o projeto é o belga Laurent Troost, que há 20 anos saiu do promissor mercado de Dubai para começar uma nova fase da sua carreira em Manaus.

09 25 Laurent Troost ok“Mesmo à beira de um dos maiores rios do mundo, na cidade quase não havia imóveis com essa vista. Era uma lacuna evidente,” Troost disse ao Metro Quadrado.

Nascido em Bruxelas, ele cresceu em um contexto onde novos projetos são raros e burocráticos. Sua própria família levou uma década para conseguir autorização para erguer três casas.

“Na Bélgica, se o vizinho não gosta da obra, acabou,” ele disse.

A experiência foi oposta à que encontrou no Brasil em 2006, quando veio como turista com sua esposa manaura, após uma temporada em Dubai.

Dois anos depois, se estabeleceu de vez em Manaus, atraído por uma cidade em expansão, tomada por canteiros de obras.

“Naquela época, Dubai era a cidade do futuro e diziam que todos os arquitetos tinham que estar lá, mas eu quis ficar em Manaus,” disse Troost.

Apesar do potencial que viu em Manaus, Troost também encontrou na cidade um mercado hostil para arquitetos: caro, com poucos recursos e muita limitação logística — quase tudo chega de barco ou avião.

Projetar na cidade significa encontrar soluções criativas para substituir materiais e reduzir custos onde for possível. Essa adversidade acabou moldando seu estilo, voltado para a inteligência climática.

“Aqui todo mundo diz não, e temos que esmiuçar cada detalhe para tirar o máximo,” disse.

Nos primeiros anos, projetou casas para milionários locais e assumiu funções públicas, como a de subsecretário de Urbanismo, de 2013 a 2020, quando deixou o cargo para fundar a Troost + Pessoa Architects, junto com o arquiteto Vitor Pessoa, que conheceu na capital amazonense.

Além de assinar os projetos, a dupla atua na incorporação em alguns trabalhos, como no caso do condomínio em Novo Airão.

“Gostamos de brincar de incorporadores para entender as dores do mercado,” disse Troost.

Entre os projetos mais conhecidos de Manaus está o Botânica Office, prédio comercial com fachada coberta por vegetação.

Outro destaque é o Mirante do Centro, hotel no coração de Manaus idealizado pelo mesmo empreendedor do Mirante do Gavião, em Novo Airão.

O escritório já tem clientes em sete estados no total.

O trabalho na região amazônica rendeu inclusive um convite para fazer um projeto em Santa Catarina com inspiração na floresta. Em Porto Belo, o Troost + Pessoa Architects assina o residencial Amazônia, em parceria com a Zah Empreendimentos.

Em Novo Airão, o projeto do escritório envolve uma área de seis lotes unificados, no arquipélago de Anavilhanas.

Ao todo, serão três modelos de casas, com 90 m², 120 m² e 190 m², pensados para perfis diferentes de compradores.

A primeira unidade já está em construção e a previsão é lançar a comercialização em 2026, com valores que devem variar entre R$ 750 mil e R$ 1,5 milhão e VGV estimado em R$ 10 milhões.

A estrutura das casas será feita de steel frame, com acabamentos em madeira, produzidos por marceneiros locais formados em oficinas de marchetaria e ebanisteria mantidas por fundações financiadas pelos próprios hotéis de luxo da cidade.

“Manaus perdeu muito dessa mão de obra. Em Novo Airão, ela ainda existe e faz parte da identidade cultural,” disse Pessoa.

Eles brincam que Novo Airão é uma Trancoso da região: tem charme, mas ainda carece de serviços e de uma oferta mais estruturada.

A adaptação às condições adversas da, mais cara que outros mercados do País, os levou a trabalhar com praticamente todas as incorporadoras de Manaus.

Segundo eles, a demanda é tão forte na área que já sabem para quem vão vender as casas.

“Nunca ficamos sem trabalho aqui,” disse Troost.

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