O mercado paralelo de casas no Jardim Botânico do Rio

O mercado paralelo de casas no Jardim Botânico do Rio
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No Rio, as casas do Jardim Botânico vivem um boom silencioso. 

A procura disparou desde a pandemia da Covid-19, e o bairro se tornou um dos endereços mais desejados da Zona Sul por quem sonha morar cercado de verde sem abrir mão da vida urbana. 

Mas ao contrário do que acontece em outras áreas da cidade, esse movimento não aparece nas estatísticas de mercado.

Como há uma escassez de terrenos, não há lançamentos formais no bairro desde 2023, segundo o Secovi-RJ; e as negociações acontecem em um circuito paralelo, de reformas e projetos exclusivos vendidos diretamente a compradores de alto padrão.

09 09 Vasco Rodrigues ok“Hoje, praticamente não existem incorporações tradicionais no bairro. Há muita procura de casas para demolir ou reformar. Quando aparece um terreno maior, capaz de abrigar um condomínio, vira uma oportunidade única,” Vasco Rodrigues, o CEO da Fator Realty, disse ao Metro Quadrado

É o caso de um dos projetos da Fator em parceria com a BSJ, a holding que inclui a franquia da imobiliária Lopes do Rio. 

O terreno localizado na Rua Pacheco Leão abrigava antes um antigo estúdio da Globo, comprado pela BSJ há três anos. 

O espaço dará lugar a um condomínio fechado de seis casas, que deve movimentar um VGV de R$ 60 milhões.

“Sentimos a necessidade de atender quem quer morar em casa, mas não quer sair da Zona Sul nem assumir sozinho uma obra particular. Esse público busca praticidade com segurança,” disse Eicilio Britto, sócio da BSJ e da franquia da Lopes no Rio.

Nascido em torno do Jardim Botânico criado por D. João VI em 1808, o bairro cresceu com forte identidade cultural e paisagística. 

O Iphan garante a preservação do local, e associações de moradores fiscalizam novas obras para manter a harmonia arquitetônica. 

Vizinho do Leblon e da Gávea, o bairro é cercado por alguns dos pontos mais icônicos do Rio. De um lado, está a Lagoa Rodrigo de Freitas; do outro, a Floresta da Tijuca, com trilhas que levam à Vista Chinesa e ao Cristo Redentor. 

Além da localização estratégica, o Jardim Botânico guarda um atrativo raro no Rio: é um dos poucos bairros da Zona Sul onde a horizontalidade ainda resiste. 

Enquanto Leblon, Ipanema e Copacabana se consolidaram como bairros de prédios, no Jardim Botânico é comum encontrar ruas inteiras formadas apenas por casas, com muros baixos e árvores que reforçam o ar residencial.

O bairro também tem uma relação histórica com o universo cultural. Desde a década de 1970, é conhecido por ser um bairro que atrai artistas e intelectuais. 

E nos últimos anos, o bairro ganhou uma cena gastronômica vibrante, com restaurantes no Horto e na Pacheco Leão, o que reforçou seu apelo.

07 22 Sergio Conde Caldas ok“É um bairro que consegue unir tradição e renovação. Casas antigas são modernizadas, ruas ganham vida com novos restaurantes, mas sempre mantendo a escala residencial,” disse Sérgio Conde Caldas, arquiteto e urbanista da Opy.

O metro quadrado das casas no Jardim Botânico varia bastante, mas ainda se mantém abaixo dos vizinhos também disputados. 

Em imóveis de padrão alto, pode girar entre R$ 18 mil e R$ 22 mil, valor competitivo quando comparado à Urca, onde o escasso estoque de casas faz o preço passar de R$ 30 mil, ou ao Jardim Pernambuco, que já supera os R$ 35 mil.

Casas antigas, em terrenos médios, podem ser encontradas por valores entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões. 

Quando reformadas e atualizadas para o padrão de mercado, atingem preços entre R$ 7 milhões e R$ 12 milhões, dependendo da localização e do tamanho do terreno.

“Existe uma demanda reprimida de famílias que não querem ir para a Barra e não têm como arcar com os valores do Leblon. O Jardim Botânico se tornou esse ponto de equilíbrio,” disse Britto.

Outro fator que pesa é a segurança. Diferentemente de outros pontos da Zona Sul, o Jardim Botânico tem entradas de acesso limitadas, especialmente no Alto, o que confere sensação de bairro fechado. 

Essa característica, somada à vigilância informal dos próprios moradores e à presença de associações de bairro atuantes, cria um ambiente mais controlado e valorizado para famílias.

A infraestrutura também contribui para o apelo: escolas tradicionais, proximidade com shoppings como o Leblon e o Gávea, além de hospitais de referência no entorno, garantem qualidade de vida sem grandes deslocamentos. 

“É quase como viver em um subúrbio europeu dentro da Zona Sul. Quem mora aqui valoriza o verde, a proximidade com os parques, as trilhas, as cachoeiras. Para ciclistas e corredores, é como morar na Disney,” disse Sérgio.

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