MILÃO — Nos últimos 15 anos, o NoLo — acrônimo de Norte da praça Loreto — passou de uma região que nem nome tinha ao posto de bairro que mais se valoriza aqui.

Depois de um rebranding de sucesso e uma revitalização liderada por moradores, os preços dos imóveis subiram em média 65% nos últimos cinco anos, segundo dados da Federação Italiana de Agentes Imobiliários — e devem se manter em alta.

Além de encantar os jovens milaneses por sua oferta cultural e preços ainda acessíveis, NoLo também começa a se tornar uma aposta de investidores, para construções e remodelações.

Nem parece que tudo começou como uma piada.

Localizada a noroeste do centro de Milão, a região hoje reconhecida como NoLo pela prefeitura se desenvolveu sem denominação no século passado, com moradias populares para imigrantes.

A dinâmica continuou até que, já neste século, jovens passaram a se mudar para o bairro por conta do fácil acesso ao metrô e dos preços mais acessíveis que no centro, iniciando uma mudança demográfica.

Reza a lenda que, em 2013, três designers italianos reunidos em um bar em Nova York brincavam com a “possibilidade de criar uma marca para um bairro que inspirasse uma transformação naquele espaço”, como ocorreu com o SoHo e TriBeCa. 

Assim teria surgido o nome NoLo, que se espalhou de boca em boca e ajudou a fortalecer a identidade hipster do local, culminando na chegada de estabelecimentos comerciais e culturais descolados e na organização de uma fortalecida associação de moradores.

Com a ajuda da Prefeitura de Milão, o grupo conseguiu revitalizar o parque do bairro e criar zonas com calçadas largas e velocidade máxima de 30km/h para carros, priorizando pedestres e bicicletas.

A coisa foi se retroalimentando e resultou na valorização imobiliária dos últimos anos, um movimento que segundo especialistas ainda está longe de terminar. 

O preço médio do metro quadrado na região é de € 4.680 atualmente, bem abaixo dos € 10.936 registrados no centro da cidade ou até dos € 6.385 de Isola, outro bairro revitalizado de Milão.

Para imóveis em construção, o valor médio do metro quadrado em NoLo já sobe para € 6.250, iniciando em € 4.650 e podendo alcançar os € 7.100, a depender das amenities, segundo a consultoria Savills.

A oferta é heterogênea, desde estúdios até lofts com jardins privados.

Em termos arquitetônicos, consultores da imobiliária de luxo Lionard apontam como referência o Via Valtorta 32, um complexo misto projetado pelo arquiteto Cino Zucchi que pode indicar uma tendência de maior experimentação urbanística na região. 

A expectativa é que novos empreendimentos dividam o espaço com edifícios antigos remodelados, graças a um benefício fiscal implementado pelo governo italiano em 2020 que incentiva a reforma de edifícios com a melhora da eficiência energética.

E o espaço para reformas é amplo devido à grande incidência de lofts e de casas di ringhiera (vilas de prédios) – tipos de moradia que têm tido forte demanda.

Uma cobertura remodelada de 370 m², sendo 280m² externos, está sendo anunciada pela Lionard por € 2 milhões.

Já um loft novo de 220m² mais 50 m² de área externa com piscina é vendido por € 2,5 milhões.

“O NoLo ganhou popularidade por ser um bairro artístico, com diversidade cultural e espírito comunitário,” disseram os profissionais da Lionard. “Estamos vendo cada vez mais projetos sendo lançados na região e acreditamos que é um bom lugar para se investir.”