Os jovens marceneiros não são como seus pais. A Leo resolveu se mexer

Os jovens marceneiros não são como seus pais. A Leo resolveu se mexer
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Os marceneiros estão envelhecendo, e os mais jovens não querem se sujar tanto. 

A nova geração de marceneiros é composta por filhos que estão seguindo a profissão ensinada pelos pais – mas pensam num modelo de trabalho diferente. 

“Os filhos não querem mais ficar sujos de pó de serra,” Andrea Seibel, a CEO da Leo, a maior varejista de madeiras do País, disse ao Metro Quadrado. “Eles vendem o projeto, terceirizam a produção e montam. É a marcenaria 4.0.”

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Por isso, a Leo agora está apostando em cortes de madeira sob medida, além de já virem com furação e bordas – deixando para o marceneiro apenas a preocupação com a montagem.

O setor como um todo tem se deparado com uma queda na mão de obra especializada – e a Leo decidiu se mexer para evitar que isso afete o negócio.

Outra aposta da companhia dos Seibel foi entrar na industrialização de móveis planejados. A Leo vem criando showrooms de móveis planejados para receber arquitetos e clientes dispostos a gastar mais para receber seus móveis do jeito e no prazo que desejam (quem contratou um serviço de marcenaria recentemente sabe o quanto isso é raro). 

A ideia é competir com grandes empresas de móveis planejados, como Todeschini, Italínea e Dellano.

A Leo tem conseguido fazer o corte e a montagem dos planejados porque criou há mais de uma década uma escola de marcenaria para treinar novos funcionários, reduzindo sua falta de mão de obra.  

Resultado: os negócios sob medida são hoje os que mais crescem na empresa – 40% ao ano – e já representam 20% do faturamento, que deve chegar a R$ 3,7 bilhões em 2025. 

Enquanto o setor industrial de linha marrom vem apresentando uma estabilidade e até mesmo uma queda nos últimos anos, os móveis planejados estão ganhando espaço no mercado como um todo.

Segundo dados da consultoria IEMI, o consumo de móveis planejados cresceu 11% em 2024, chegando a R$ 20 bilhões. Apesar de produzirem 8% do total de peças, o segmento representa 17,5% do faturamento do setor moveleiro. 

“O marceneiro é o nosso motivo de existir desde o início,” disse Andrea, porque 70% do faturamento da empresa vem dos marceneiros. 

A Leo nasceu em 1943 com uma loja na Rua do Gasômetro em São Paulo para atender marceneiros em busca de chapas de madeira para a fabricação de móveis planejados.

Oito décadas depois, a empresa tem 131 lojas espalhadas pelo Brasil. Andrea é a terceira geração de Seibels à frente do negócio. No início da década de 60, seu avô Bernard comprou a operação da Leo Madeiras – e decidiu manter a loja com o nome do fundador. 

Mas quem deu início à expansão acelerada foi Helio, o filho de Bernard e tio de Andrea. Em 1980, a Leo tinha apenas 30 lojas. Este número ficou estável até o início dos anos 2000, quando a companhia cresceu por meio de franquias e chegou a 60 lojas. 

A família prosperou: além de vender madeira pela Leo, os irmãos Salo e Helio passaram a fabricar os painéis por meio da Satipel. Após uma série de aquisições no Brasil e na América do Sul,a Satipel se tornou uma das maiores fabricantes do País, até se fundir com a Duratex em 2009 na operação que originou a Dexco, uma das maiores empresas do setor no mundo. (Os Seibel ainda têm 20,4% do capital). 

Para completar, há quase três décadas a família foi sócia da Leroy Merlin em sua chegada ao Brasil. Nesse período de crescimento dos outros negócios, a Leo travou a sua expansão e permaneceu mais de uma década com o mesmo número de lojas. Até que Helio convocou a sobrinha para ajudar.

“Quando cheguei, a empresa estava uma zona. Meu lema foi o back to basics,” disse Andrea.

O primeiro passo da executiva foi profissionalizar o negócio. Implementou um ERP para integrar finanças, estoque, compras e vendas num único sistema – a clássica transição de empresa familiar de barriga no balcão para uma operação estruturada e escalável.

Mas o back to basics também ajudou a Leo a ter mais atenção com seus principais clientes: a empresa escalou serviços e ferramentas para agradar os marceneiros.

Uma das estratégias foi se tornar uma plataforma de soluções para marcenaria. Se antes a empresa vendia basicamente madeira, passou a oferecer ferramentas, máquinas e químicos, entre outras ferramentas.

Também apostou na logística: fez investimentos milionários para conseguir fazer todas as entregas de pedidos em até um dia.

Segundo Andrea, a Leo é lucrativa e gera bastante caixa, boa parte do qual é reinvestido na operação. “Nunca precisamos pegar um real em bancos,” disse a CEO. 

Nos últimos anos, a empresa tem recebido sondagens de fundos de private equity – bem como ligações de bancos para um IPO.

“Para nós, não faz sentido. Se um dia isso acontecer, será para vendermos mais de 90% da empresa e sairmos do negócio,” disse Andrea. “Mas isso não está nos nossos planos.”

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