Os preços dos imóveis residenciais prime em Londres estão em queda livre — e nada indica que um paraquedas vai se abrir tão cedo.

Desde o pico do mercado em 2014, casas e apartamentos de luxo perderam em média 22% do seu valor, mostram dados da consultoria imobiliária Savills, e podem recuar mais 4% apenas em 2025.

“Alguns clientes tiveram que vender por valores até 25% abaixo dos praticados em 2014,” Kourosh Tamjidi, o chefe de vendas da consultoria imobiliária Hamptons em Kensington, disse ao Metro Quadrado.

Não faltam motivos para explicar a derrocada do setor na última década: o Brexit afastou estrangeiros; a sanção a oligarcas russos limou um grupo atuante no mercado; a alta dos juros reduziu o apetite por risco de investidores; e as recentes mudanças geopolíticas começaram a restringir o trânsito de capital.

Neste ano, a pressão adicional registrada nos preços dos imóveis londrinos é atribuída ao orçamento da chanceler Rachel Reeves, que aumentou o imposto de compra de imóveis e — mais importante — extinguiu o secular regime tributário ‘non-dom’.

Antes, estrangeiros podiam ter uma residência secundária no Reino Unido e pagar impostos apenas sobre a renda auferida ou transferida para o país. O governo não só revogou o sistema, como determinou que os ativos offshore do grupo também estão sujeitos a um imposto de 40% sobre herança.

A medida provocou um êxodo instantâneo de fortunas para países com regimes mais amigáveis — como Itália e Emirados Árabes Unidos — e levou o governo a começar a estudar maneiras de reverter a medida, reportou o Financial Times.

Enquanto a equipe econômica discute o tema, um mercado imobiliário de luxo já fragilizado em Londres passou a sangrar ainda mais.

Negócios envolvendo imóveis avaliados em 5 milhões de libras ou mais caíram cerca de 15% no último ano, mostram dados da casa de research LonRes. Apenas em maio, o número de transações foi 36% menor do que no mesmo mês de 2024.

Entre os empreendimentos “encalhados”, o edifício 60 Curzon, em Mayfair, precisou baixar os preços de suas branded residences em 20% e ainda tem unidades disponíveis, disse a Bloomberg.

Em The Bryanston — uma torre com vista para o Hyde Park lançada há quatro anos — apenas metade das 54 unidades foram vendidas. Os preços partem (ou partiam) de 2,4 milhões de libras.

Mas ainda há uma parte do mercado que tem resistido à piora dos preços.

Kourosh Tamjidi, da Hamptons, afirma que Notting Hill, uma das regiões “da moda” no momento, segue sendo palco de um grande volume de transações. 

The Whiteley and Park Modern — dois prédios às margens do Hyde Park com um pé em Notting Hill — são exemplos de uma demanda melhor do que a da média da cidade, disse.

The Glebe, em Chelsea, é outra das exceções, após sua penthouse ser vendida por 80 milhões de libras.

“Mas é inegável que o mercado está à espera que o cenário dê uma clareada. Caso haja mudanças na legislação dos ‘non-doms’, podemos ver uma recalibragem dos preços no futuro,” disse Tamjidi.