Sem conseguir se reerguer, PDG recebe proposta de grupo de Hong Kong
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A PDG Realty – a incorporadora que virou uma penny stock depois de já ter sido a maior do País – recebeu uma proposta para ser adquirida.
Quem está fazendo a oferta é um dos principais desenvolvedores imobiliários de Hong Kong, a SHKP Real Estate Development.
A proposta é de US$ 29,6 milhões. Considerando o câmbio atual, o valor ofertado corresponde a pouco mais de R$ 171 milhões, ou R$ 0,0985 por ação. As ações da PDG estavam cotadas em R$ 0,010 ontem, antes da divulgação da proposta.
A empresa, embora tenha saído de uma recuperação judicial há quatro anos, continua em dificuldades, com um passivo total de R$ 3,8 bilhões e resultados no prejuízo.
No seu auge, no início da década passada, a empresa chegou a valer R$ 15 bilhões. O M&A fecharia o capital da PDG.
O SHKP afirma que a proposta faz parte de uma “forte campanha de internacionalização”. E mirou na PDG para avançar no Brasil.
“A ideia ali é comprar uma empresa brasileira em mau estado só pra colocar o pé no mercado nacional,” disse um gestor de real estate ao Metro Quadrado.
Um dos principais interesses do grupo na PDG é o landbank no estado de São Paulo. “A PDG Realty ainda possui bons ativos em seu balanço patrimonial e um potencial considerável para futuros lançamentos”, disse o grupo.
A PDG é um caso emblemático de incorporadora que comprou uma tese ambiciosa de expansão geográfica, para ir além do eixo Rio-São Paulo, mas acabou assumindo um risco, com excesso de alavancagem, que o mercado se provou incapaz de absorver.
O declínio da companhia teve início em 2012, antes mesmo da crise de distratos que marcou a recessão que veio em seguida, provocado por um desalinhamento de interesses na gestão.
Enquanto a maioria das incorporadoras é comandada por famílias de imigrantes que já estão na segunda ou terceira geração, a PDG foi precoce em assumir uma gestão profissional. No entanto, enquanto a direção tinha bônus com remuneração variável de curto prazo, o mercado exige períodos mais longos de retorno, de cinco a seis anos, entre a compra do terreno e repasse das unidades.
“É a receita de bolo para uma empresa se desequilibrar,” disse um profissional de sellside que acompanhou a empresa.
A companhia entrou em recuperação judicial em 2017 e saiu em 2021, prometendo uma reestruturação e mudando o nome para iX. “Fizeram isso para tentar se desvincular da antiga marca”, disse um gestor.
“Mas com esse aumento da taxa de juros, todos os que estão muito endividados vão ficar de joelhos,” disse o sócio de uma empresa do setor.
Ao fazer a oferta, a SHKP ressaltou que tem experiência na aquisição de companhias em crise e em turnarounds, e indicou que, no caso da PDG, o pior já ficou para trás. “Os ativos atuais, aliados à marca reconhecida e à capacidade de execução, estão em sinergia com o atual momento da SHKP Global.”
Para um analista, porém, a PDG é um caso que gera pouca esperança. “Tem sido incomum dar muita moral para incorporadoras que venham com esse pitch de ressurgir das cinzas, porque é sempre difícil desatar nós de uma empresa que está com massa podre dentro de casa.”
Já a PDG afirmou que irá entrar em contato com o grupo de Hong Kong para obter mais detalhes sobre o possível negócio, destacando que se trata de uma oferta não solicitada e que não houve qualquer contato entre a administração da empresa e a SHKP até agora.