Tenda busca R$ 300 mi em CRIs para se antecipar a taxações

A Tenda está antecipando uma captação de R$ 300 milhões via CRIs para aproveitar enquanto o título imobiliário segue isento de IR, depois de o governo ter anunciado a taxação da LCI para 2026.
A operação, que ficou a cargo da securitizadora Opea, será feita por meio da venda pela incorporadora de uma carteira pró-soluto, um portfólio formado por créditos a receber, normalmente referente à entrada dos imóveis.
As empresas do segmento econômico, que lidam com clientes com menor capacidade de poupança, costumam financiar diretamente esse valor ao longo de alguns anos. Esses créditos são empacotados para formar a carteira de recebíveis que lastreia a emissão dos CRIs no mercado.
As operações do tipo são corriqueiras no setor porque costumam atender às necessidades de capital de giro das incorporadoras ao antecipar o recebimento de valores que só seriam reconhecidos no longo prazo.
Na Tenda, a companhia costumava fazer a venda do pró-soluto uma vez a cada semestre, em operações que giravam em torno dos R$ 150 milhões.
Mas desta vez a companhia optou por cobrir todo o ano em uma operação só.
“O mercado está favorável para esse tipo de emissão no momento. Antecipar faz sentido pensando na possível tributação dos papéis isentos,” disse um executivo do setor ao Metro Quadrado.
A empresa deve concluir a primeira tranche da operação ainda neste mês e garantir R$ 159 milhões para o caixa da incorporadora. Os CRIs restantes devem ser emitidos ao longo dos próximos seis meses.
Os CRIs ficaram de fora da medida provisória que prevê o fim da isenção de imposto de renda para outro título imobiliário, a LCI, para operações a partir de 2026.
Mas o mercado teme que o governo volte a mirar nos produtos do setor para aumentar a arrecadação.
“Não sabemos se vai mudar ou não a legislação, mas, se tributar, esse é um produto que permanece isento porque a emissão é ainda este ano,” disse uma fonte ligada à empresa.
Esta operação da construtora prevê a emissão de duas séries de CRIs de classe sênior e uma subordinada.
A remuneração é de 100% do CDI+ 2% ao ano na primeira série da classe sênior e de IPCA + 9,9% ao ano na segunda. Já os CRIs da classe subordinada tem um spread de 11% ao ano.
As ações da Tenda operam em baixa nesta quinta-feira (12), acompanhando o recuo em bloco do setor imobiliário. Por volta das 14h20 a queda era de 2,36%, com os papéis cotados em R$ 23,19.
Esse é o terceiro dia de queda dos papéis, que recuam cerca de 6% na semana — mas saltam 86% no acumulado do ano.
Segundo um relatório do Bradesco BBI, o mercado reage negativamente a uma queima de caixa não prevista de R$ 80 milhões na companhia após uma operação de recompra de ações anunciada no início da semana.
A Tenda anunciou na terça-feira que liquidaria antecipadamente contratos de derivativos referentes a 4,6 milhões de ações e recompraria até outros 4,6 milhões de papéis no mercado para atender a programas de incentivo de longo prazo para executivos com stock options.
Os analistas do BBI não veem razões para criticar a companhia pela operação, pois o programa já havia sido divulgado anteriormente e a situação foi “tratada adequadamente”, reduzindo o custo para cumprir as obrigações com os executivos e evitando diluição aos acionistas.
“No final, vemos o impacto deste tipo de evento, recebido como uma surpresa negativa, como parte da reconstrução da tese de investimento da Tenda junto ao mercado,” diz o BBI, que recomenda compra para a companhia.