10 retrofits que transformaram prédios históricos

O retrofit é um processo não só capaz de restaurar e modernizar prédios históricos, preservando a arquitetura original, como também pode mudar completamente a vocação de um edifício.
É o caso da antiga sede do jornal A Tarde em Salvador, que após anos de abandono foi retrofitada e transformada em uma unidade do Hotel Fasano.
Outro exemplo emblemático é o do Edifício Martinelli, em São Paulo, cujo palacete na cobertura do edifício foi construído para ser a moradia da família do idealizador do prédio e depois tornou-se uma repartição pública.
Mas também há exemplos opostos, em que estruturas originalmente comerciais dão lugares a residências — como é o caso da sede histórica da Telesp na capital paulista.
São transformações impulsionadas por programas municipais que buscam reocupar e fomentar o desenvolvimento dos centros históricos das grandes cidades por meio de investimentos públicos e da iniciativa privada.
Confira abaixo 10 retrofits que resgataram e transformaram o uso de prédios históricos.
1. Hotel Fasano – Salvador (BA)
O retrofit de um edifício histórico de Salvador que já foi a sede de um dos principais jornais da Bahia deu origem a uma das unidades mais icônicas do Grupo Fasano.
Sétimo empreendimento hoteleiro do grupo, o Hotel Fasano Salvador foi o primeiro da marca a ser instalado em um prédio tombado.
Antes de se transformar no hotel, o edifício foi sede do jornal A Tarde, inaugurado em 1930 e construído seguindo elementos da art déco e da art nouveau.
O jornal funcionou no local por 45 anos e, após sua saída, o espaço foi dividido em diversas salas comerciais, mas enfrentou uma vacância elevada e acabou abandonado.
Adquirido pelo Grupo Prima em 2007, o prédio passou por um retrofit de R$ 85 milhões para recuperar as estruturas comprometidas, restaurar a fachada e abarcar a operação do hotel, inaugurado em 2018.
2. Edifício Altino Arantes – São Paulo (SP)
Inspirado no Empire State Building de Nova York, o Edifício Altino Arantes foi por pouco mais de uma década o maior arranha-céu de São Paulo, com 161,2 metros de altura.
O empreendimento foi inaugurado em 1947 para sediar o Banco do Estado de São Paulo, e por isso também é conhecido como Banespão.
Após a privatização do Banespa nos anos 2000, o imóvel passou a fazer parte do patrimônio do Grupo Santander e foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat).
O banco espanhol reformou o prédio entre 2017 e 2018 e o transformou no Farol Santander.
3. Edifício Martinelli – São Paulo (SP)
Vizinho do Banespão no centro histórico de São Paulo, o Edifício Martinelli foi inaugurado em 1929 e ocupou durante um ano o posto de prédio mais alto da América Latina.
Por lá funcionaram um cinema, um hotel, salões de baile, jornais, sedes de partidos políticos e até mesmo um depósito de armas durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Na cobertura do edifício foi erguido um palacete que servia de residência para a família Martinelli.
O prédio foi tomado pelo governo durante a Segunda Guerra Mundial — quando diversos bens de italianos foram confiscados após a entrada do País no conflito no lado contrário à Itália — e leiloado nos anos 1940.
Depois disso, passou por um período de decadência e sofreu uma série de invasões até ser desapropriado pela Prefeitura de São Paulo e reformado em 1975.
Após o retrofit, o edifício agora abriga diversas secretarias, além de empresas estatais e a sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
O palacete da família Martinelli também transformou-se numa repartição pública, enquanto o térreo é ocupado por estabelecimentos comerciais e novas reformas seguem em curso para transformá-lo também em um centro cultural.
4. Edifício A Noite – Rio de Janeiro (RJ)
Rival do Martinelli na disputa pelo título de maior arranha-céu da América Latina, o edifício Joseph Gire, mais conhecido como A Noite, foi inaugurado no final dos anos 1920 para sediar o jornal homônimo carioca.
Depois, sediou também a Rádio Nacional, além de empresas internacionais como a aérea Pan Am e a Philips, até se tornar um bem da União em 1940.
O prédio, que estava sem uso desde 2012, quando a Rádio Nacional saiu do local, foi comprado pela incorporadora paulista Azo em 2023 para um projeto residencial.
Posteriormente, a Azo vendeu a maior parte do prédio para a Brookfield, que deve colocar as futuras unidades no mercado de locação de curta e média duração. O valor do retrofit não foi divulgado, mas o primeiro orçamento estava na faixa dos R$ 188 milhões.
5. Museu de Florianópolis – Florianópolis (SC)
Representante mais antigo da lista, o prédio que hoje abriga o Museu de Florianópolis foi construído por volta de 1770 e era originalmente uma Casa de Câmara e Cadeia.
Esse tipo de edifício, característico da era colonial no Brasil, servia ao mesmo tempo de sede para órgãos da administração pública, juízes e guarda municipal e também funcionava como um centro de detenção.
A cadeia pública foi removida da estrutura no início do século XX. Mas o prédio ainda abrigou a Câmara Municipal da cidade até 2005.
Após passar anos sem manutenção alguma, o imóvel passou por um processo de restauração na década passada que custou cerca de R$ 7,5 milhões e agora é um museu.
6. SESC Pompeia – São Paulo (SP)
Lina Bo Bardi é reconhecida por ter projetado Masp, mas uma de suas obras mais icônicas é um retrofit em outra região da cidade de São Paulo.
Trata-se do SESC Pompeia, construído nos anos 1970 em antigos galpões de uma fábrica de tambores da zona Oeste.
O projeto, que incluiu a restauração de estruturas industriais e levou cinco anos para ser concluído, figura entre as 25 obras arquitetônicas mais importantes do período pós-Segunda Guerra Mundial, segundo uma lista do The New York Times.
7. Sede da Telesp – São Paulo (SP)
Mais próximo ao centro histórico da capital paulista, o Edifício Sete de Abril foi inaugurado em 1939 para sediar a Companhia Telefônica Brasileira e depois passou a abrigar sua sucessora, a Telesp.
Após a privatização da Telesp, em 1998, o prédio continuou sendo utilizado para fins comerciais até ser desativado em 2010.
Agora a antiga sede das telecomunicações passará por um retrofit para virar um conjunto de uso misto — com apartamentos residenciais nos pisos superiores e uma galeria de lojas e restaurantes no térreo.
O projeto é do Metro Arquitetos, escritório que também foi responsável pelo retrofit do novo anexo do Masp.
8. Edifício Mesbla – Rio de Janeiro (RJ)
Ao contrário do prédio da Telesp, o próximo edifício da lista nasceu originalmente como um projeto residencial, mas ficou famoso pela associação à marca comercial Mesbla.
Inaugurado na década de 1960, o prédio foi a matriz da rede de lojas de departamentos durante 60 anos.
Depois da falência do grupo, o edifício ficou desativado por quase 30 anos e trocou de mãos ao longo dos anos até chegar à incorporadora carioca Inti, que resolveu conduzir um retrofit para devolver a vocação residencial ao empreendimento.
O projeto da Cité Arquitetura prevê a conversão para 190 apartamentos que custarão de R$ 400 mil a R$ 900 mil, segundo informações da Prefeitura do Rio.
9. Casa Sloper – Salvador (BA)
Outra conversão de um prédio famoso pela ligação com uma marca comercial em unidades residenciais está sendo desenvolvida em Salvador, na antiga Casa Sloper.
O prédio onde funcionou a unidade baiana da loja de departamentos fica na Rua Chile – considerada a rua mais antiga do Brasil –, próximo ao Hotel Fasano de Salvador.
O retrofit prevê que a estrutura antes comercial seja transformada em um condomínio de estúdios residenciais.
O projeto é conduzido pela carioca G+P Construções e pela capixaba Town Maker e tem previsão de entrega em 2026.
10. Moinhos – Recife (PE)
Um dos retrofits menos tradicionais da lista está transformando um conjunto de moinhos de processamento de trigo em apartamentos, lojas e espaços comerciais.
O complexo, que fica próximo ao Marco Zero, no centro antigo de Recife, foi inaugurado em 1914 e pertencia à Bunge Brasil. Após quase 15 anos sem uso, a Revitalis Incorporações arrematou o imóvel em um leilão e chamou a Moura Dubeux para tocar as obras.
Parte dos 253 apartamentos do projeto foi desenvolvido dentro das estruturas cilíndricas que armazenavam os grãos, preservando o formato circular característico dos silos. As obras devem ser entregues neste ano.