Os arquitetos do Masp que põem a matemática à frente da arte

Os arquitetos do Masp que põem a matemática à frente da arte
|

Os arquitetos Martin Corullon e Gustavo Cedroni passaram os últimos cinco anos se dividindo entre dois escritórios.

Um era o oficial: uma sala do Edifício Itália, a sede da Metro Arquitetos Associados, fundada por eles em 2000.

O outro era algo improvisado, montado dentro da obra mais importante da carreira da dupla: o retrofit do novo anexo do Masp na Av. Paulista, um prédio de 14 andares construído nos anos 1950.

A operação especial incluiu a montagem de uma grande maquete no escritório improvisado, para ajudar no acompanhamento do trabalho – uma obra complexa que exigia estar perto para ir adaptando o projeto no dia a dia, revendo cada detalhe.

Martin Corullon ok

São decisões que acabam sendo mais matemáticas do que estéticas – contrariando o estereótipo da veia artística da profissão de arquiteto.

“As negociações dos projetos são pragmáticas,” Martin disse ao Metro Quadrado. “Para nós, arquitetura não é sobre construir uma coisa ‘linda’. Entregar um projeto é fazer uma mega equação.”

“E às vezes, o próprio projeto dentro da obra nos inspira em relação à forma de executá-lo,” Gustavo disse.

O retrofit, que custou R$ 250 milhões ao Masp, ficou pronto em dezembro, e a inauguração ocorre hoje, com uma exposição de parte do acervo do Masp e uma mostra sobre as histórias do próprio museu.

Mais do que ser um edifício admirável do ponto de vista estético, Martin e Gustavo pensaram o prédio para ser útil.

O desejo guiou as escolhas artísticas para a fachada, em oposição ao prédio modernista desenhado por Lina Bo Bardi, a arquiteta ítalo-brasileira que foi um dos grandes nomes da arquitetura moderna do País.

Para emular o vão livre do Masp, o prédio foi projetado com o pavimento térreo transparente.

E enquanto o museu de Lina proporciona uma visão horizontal do edifício, o anexo faz o contraponto na vertical, revestido de placas monolíticas escuras, com um perfil de metal corrugado e perfurado que não atrapalha a passagem da luz nem impede a vista dos visitantes para a cidade. 

“Nós estamos produzindo algo que talvez vá durar 100 anos. A pior coisa que poderia acontecer é envelhecer mal,” disse Gustavo.

Hoje consolidados no mercado paulista, nem Gustavo nem Martin tinham a arquitetura como primeira opção de carreira.

Na adolescência, Gustavo pensava em estudar psicologia. Martin cogitou ser cineasta.

Gustavo Cedroni ok

Sem tanta convicção, acabaram indo para a arquitetura e se aproximaram graças a um de seus maiores nomes, Paulo Mendes da Rocha, que foi um mentor para a dupla até morrer em 2021.

“Quando eu conheci o Paulo, pensei: ‘quero ser igual a ele’,” disse Martin.

Tanto Martin quanto Gustavo, no entanto, se veem menos ortodoxos do que o mentor.

PMR era conhecido por ter um processo que se replicava nos projetos. Já Gustavo e Martin preferem seguir um método menos cristalizado, que se molda a cada nova empreitada – o que se reflete na variedade de projetos assinados. 

Além de outras iniciativas ligadas à cultura, como alguns trabalhos para o próprio Masp, o escritório da dupla já projetou uma horta urbana para a Câmara Municipal de São Paulo e fez a flagship da Tiffany no Iguatemi São Paulo.

Também trabalharam em obras de retrofit residenciais na capital, como a reformulação do Edifício Renata Sampaio, no Centro, entregue em 2024. 

A região, aliás, é uma aposta de negócio da dupla. Para Gustavo, que também mora na região, ainda há muito espaço – e imóveis – para retrofits no entorno do Centro.

No mercado corporativo, eles estão trabalhando agora no retrofit da antiga sede do Unibanco na Marginal Pinheiros, projetada por outro grande nome da arquitetura nacional, Salvador Candia. (O Itaú acaba de vender o prédio para a Central Capital.)

Enquanto os figurões da arquitetura brasileira queriam impactar a sociedade e o espaço urbano com seus prédios, o desejo da dupla da Metro é que seus projetos sejam impactados pelo público.

No anexo do Masp, o maior desafio foi projetá-lo, imaginando como ele poderia ser modificado para atender às necessidades do público e do museu com o passar do tempo. 

Essa questão ditou o trabalho, tanto no layout quanto nas escolhas de matérias-primas utilizadas no projeto.

Ainda que haja diferenças expressivas entre o prédio retrofitado e o museu de Lina, ambos foram projetados pensando nas futuras mudanças de São Paulo. 

Lina quis que sua estrutura de concreto armado não obstruísse a visão do público para o desenvolvimento da cidade. Assim nasceu o vão livre de 74 metros com vista para o Vale do Anhangabaú e a Av. Nova de Julho. 

No projeto da expansão do museu, os arquitetos preferiram pensar a estrutura interna do imóvel para que ela não fosse totalmente estática e pudesse se moldar às necessidades da cidade  – e da sociedade – que ainda está por vir.

Para os dois arquitetos, independentemente do tipo de projeto assinado – seja um anexo do Masp ou um retrofit residencial – a arquitetura é como a arte de fazer bons sapatos. “Tem que ser confortável, mas atemporal,” disse Gustavo.

Siga o Metro Quadrado no Instagram

Seguir