Como será a operação de hospitalidade da vinícola Vik no Brasil

O Brasil está perto de se tornar o terceiro país da América do Sul a receber uma operação de hotelaria e hospitalidade da vinícola Vik, uma das maiores do Chile.
Carrie Vik, que fundou a vinícola em 2004 com o seu marido Alexander, disse ao Metro Quadrado que eles viram o País como uma oportunidade porque os brasileiros são os principais hóspedes das unidades no Chile e no Uruguai.
O casal, porém, não conhecia o mercado brasileiro, e por isso se juntou à LN Urbanismo para erguer o novo complexo, que está sendo construído na Fazenda Vista Verde, em Araçoiaba da Serra, a 1h30 de São Paulo, com investimento total de R$ 400 milhões.
“Eles topam as loucuras que propomos com o mesmo entusiasmo,” Carrie disse.
Com inauguração prevista para 2027, o complexo também terá um núcleo residencial (uma novidade para a Vik Retreats, a marca de hospitalidade da vinícola) e produção de vinhos, como já ocorre no Chile.
“Não será um vinhedo apenas ornamental, vamos produzir vinho, e se tudo correr bem, teremos uma produção comercial,” ela disse.
Confira os principais trechos da entrevista:
Como o vinho entrou na vida do casal?
Eu e Alex participávamos de uma confraria, quando vivíamos em Connecticut. Havia um colega francês, que harmonizava os jantares e organizava visitas às vinícolas francesas. E quando você visita uma vinícola, te contam tudo; não há segredos como no mercado corporativo, pois o segredo está no terroir. E isto é apaixonante e não se reproduz.
E qual foi o click para empreender nesta área?
No final dos anos 1990, Alek estava treinando para participar da maratona de Saint-Émilion (Bordeaux). Após a prova, aproveitamos para visitar os châteaux locais e ele ficou intrigado que dois vinhedos, lado a lado, tinham vinhos com preços tão distintos entre si. De intrigado se tornou obcecado no tema de terroir, que justificava tanta diferença. Em 2004 decidimos investir em propriedades e o tema da vinícola ganhou vida. Por intermédio daquele amigo francês da confraria, conhecemos Patrick Valette, do Château Pavie (St-Émilion). Encurtando a história, nos demos bem, e ele montou uma equipe com geólogo, agrônomo e climatologista para encontrar uma propriedade no Novo Mundo onde pudéssemos fazer um vinho de classe mundial. No final tínhamos duas propriedades para decidir: uma no norte da Argentina e outra no vale de Cachapoal, no Chile. Talvez o fato da mãe de Valette ser chilena tenha enviesado a decisão.
Como foi desenvolvido o conceito do hotel e a construção da vinícola no Chile?
Tudo corria em paralelo. O hotel chileno ficou à cargo do arquiteto uruguaio Marcelo Daglio, com quem estávamos construindo nosso hotel em José Ignacio (Uruguai). E aplicamos nosso conceito, um pouco mais aberto, onde convidamos artistas para desenhar, equipar e decorar cada habitação. Tanto na Estancia Vik quanto no hotel da Viña Vik temos o mesmo conceito. Em Estancia Vik são apenas artistas uruguaios, e no Chile são artistas locais e estrangeiros. Isto se tornou parte da filosofia Vik.
Já para a vinícola fizemos um concurso, pois deveria acompanhar o nível de excelência, de estado da arte, que buscávamos no vinho. E o arquiteto chileno Smijan Radic foi o vencedor. Ficamos três anos refinando o projeto com ele. A cada visita ao país nos reuníamos e passávamos dias detalhando cada parte. Hoje temos uma vinícola que é sustentável e funcional. Além de esteticamente atraente, importante no enoturismo.
Qual foi o caminho e oportunidade para instalar a marca Vik no Brasil?
O Brasil é a origem número 1 entre nossos hóspedes, seja no Chile ou no Uruguai. Porém não é um país que conhecemos. Assim foi uma boa ideia atuar com um parceiro local, a LN Urbanismo. O Adrian (Adrian Estrada, CEO da LN) tem nos visitado desde 2021 no Chile e no Uruguai. A marca Vik Retreat já estava consolidada e eles nos conheciam. Foram diversos encontros, um “namoro” lento, com toda a família reunida dos dois lados, e concluímos que pensamos da mesma forma. Eles topam as loucuras que propomos com o mesmo entusiasmo. Somos sócios em todo o complexo da Fazenda Vista Verde.
Como será a atuação no Brasil? O modelo será parecido com Chile e Uruguai?
A parte artística será igual e já estamos em contato com cerca de 50 artistas brasileiros. Os quartos também devem ser assinados por artistas locais e estrangeiros, e também teremos um parque a céu aberto com intervenções de alguns deles. Nos encontros com Adrian, também trouxemos nosso arquiteto uruguaio, Marcelo Daglio, e já definimos que o hotel e os bangalôs formarão um mosaico de templo maia, em uma encosta da fazenda, de frente para o pôr-do-sol, com o vinhedo no entorno e a praia artificial em frente. Tudo isso sem afetar o relevo da região, causando menor impacto visual possível na paisagem.
Então como no Chile, mas diferente do Uruguai e de Milão, teremos um vinhedo com produção de vinhos em escala comercial?
Como também é nosso lema, pensamos grande mas começamos pequenos. No início vamos ter uma pequena produção para atender o hotel. Mas não será um vinhedo apenas ornamental, vamos produzir vinho e se tudo correr bem, teremos uma produção comercial.
E também há o núcleo residencial da propriedade. Isto é algo novo para Vik Retreats, não?
Sim, acreditamos que este poderá ser um novo passo para Vik Retreats como um todo e em nossos futuros empreendimentos. Além do hotel, fazer a gestão das unidades residenciais, caso os donos queiram alugar suas propriedades, além do acesso aos serviços do hotel para os residentes. Estamos entusiasmados com este novo projeto e modelo de atuação em terras brasileiras.
Para onde caminha o luxo quando se fala de hospitalidade?
Na minha ótica, quando nos hospedamos em um hotel queremos receber algo a mais do que receberíamos em casa. Este é o princípio. E este extra, além da qualidade da habitação, está relacionado à experiência, algo a ser vivenciado. Isto pode ser algo cultural, artístico, gastronômico, ambiental ou todos estes elementos juntos; é o que buscamos. Isto insere o visitante no local, justifica a existência do empreendimento e por fim, retornamos ao conceito de terroir.
Como a arte entrou na vida de vocês e, consequentemente, como DNA de Vik Retreats?
Conheço Alex desde nossos 20 anos de idade. Crescemos juntos desde a época de faculdade e desenvolvemos juntos o gosto pela arte. Inicialmente com móveis e peças para nossa residência. Como viajávamos muito, sempre que encontrávamos algo interessante, inicialmente consultávamos o pai de Alex, que já respirava este universo (tinha uma casa de leilão de obras de arte na Noruega). Assim começamos a colecionar peças e também foi algo que nos conectou com o Uruguai. Além do laço familiar, a cena artística ali é bastante viva e dinâmica. Não foi difícil juntar tudo e hoje temos três núcleos diferentes no Uruguai: a Estância Vik, com espírito de casa de campo familiar e vocação artística, o Bahia Vik, com o cenário natural das dunas, e o Playa Vik, um Beach Club mais movimentado. Mas em todas as unidades Vik temos obras de nosso acervo, além das habitações assinadas pelos artistas.







