Opinião/ Os escritórios estão se descentralizando em São Paulo – e é a cidade quem ganha

Principal centro de negócios do Brasil, São Paulo continua a atrair empresas de diversos setores, o que fortalece a demanda por espaços corporativos.
O mercado de escritórios de alto padrão mostra sinais consistentes de crescimento: a taxa de vacância caiu para 18,2% — o menor patamar desde a pandemia — enquanto a absorção líquida avança, reforçando a confiança dos proprietários na manutenção do dinamismo observado no ano passado.
Uma tendência marcante é o protagonismo das regiões descentralizadas, como Chucri Zaidan, Berrini, Marginal Pinheiros e Barra Funda.
Juntas, essas áreas responderam por 70% das movimentações de locação de lajes corporativas no ano passado, indicando uma preferência crescente por zonas com infraestrutura moderna, bem conectadas, porém fora dos eixos corporativos tradicionais.
Essas regiões estão se transformando em polos multifuncionais que combinam escritórios, residências, comércio e lazer.
O movimento permite que profissionais vivam e trabalhem no mesmo bairro, reduzindo deslocamentos e promovendo maior qualidade de vida — alinhado ao conceito da “Cidade de 15 Minutos”, criado pelo urbanista franco-colombiano Carlos Moreno.
O conceito defende que os habitantes urbanos devem ter acesso a trabalho, educação, saúde, compras e lazer a no máximo 15 minutos de caminhada ou bicicleta de suas casas. A ideia é fomentar cidades mais sustentáveis, inclusivas e eficientes, com menor dependência de automóveis e maior integração entre comunidade e território.
Essa convergência entre urbanismo inteligente e o mercado corporativo de alto padrão em São Paulo sinaliza transformações estruturais com impactos positivos.
Uma delas é a menor pressão sobre a infraestrutura urbana, uma vez que a descentralização permite uma distribuição mais equilibrada de serviços e tráfego.
Outro efeito é o desenvolvimento econômico local, com a formação de polos multifuncionais que impulsionam economias de bairro e geram empregos.
Além disso, os habitantes ganham em qualidade de vida, por terem menor tempo de deslocamento e maior integração entre vida pessoal e profissional.
Essas movimentos resultam também de algumas políticas públicas adotadas por São Paulo e que estão alinhadas ao conceito da cidade de 15 Minutos, estimulando uma urbanização mais sustentável e acessível.
Vale ressaltar, por exemplo, os Projetos de Intervenção Urbana (PIUs), que viabilizam a requalificação de regiões específicas com uso misto e adensamento planejado.
Um caso emblemático é o PIU Vila Leopoldina, que prevê a reurbanização de uma área de 300 mil m², com novas moradias populares, áreas verdes, vias e equipamentos públicos, promovendo maior equilíbrio urbanístico.
O Plano Diretor também tem dado uma contribuição importante, ao orientar o crescimento da cidade com foco no adensamento em regiões com infraestrutura consolidada e diversidade de usos do solo. A diretriz tem impulsionado a atividade construtiva em bairros com boa oferta de transporte público, comércio e serviços.
Outro ponto relevante são os incentivos à mobilidade ativa: investimentos em ciclovias, calçadas acessíveis e integração com o transporte público estimulam deslocamentos mais sustentáveis.
O avanço desses instrumentos vem transformando eixos como a Av. Rebouças, a Av. 9 de Julho e a Marginal Pinheiros, com a multiplicação de projetos de uso misto, fachadas ativas e benefícios como aumento de gabarito, maior coeficiente de aproveitamento e flexibilização de exigências como vagas de garagem.
São ações que mostram que o mercado corporativo de São Paulo pode ir muito além da Av. Faria Lima. E quem agradece é a própria cidade.
Mariana Hanania é head de pesquisa e inteligência de mercado da Newmark.