Esta startup quer acabar com a papelada na análise de crédito imobiliário

Por mais dados que os bancos tenham à disposição para calcular os riscos de um empréstimo, a análise feita para aprovar o financiamento de um imóvel ainda tem um viés humano relevante.
Exemplo: há corretores que só enviam a ficha dos compradores em determinados dias da semana porque sabem que o analista em serviço vai aprovar, enquanto um outro não aprovaria.
“Uma decisão que envolve muito papel e planilhas de Excel circulando pra lá e pra cá pode ser totalmente digital e feita por robô,” diz Thiago Yaak, CEO e um dos fundadores da Liquid, uma startup que automatiza o processo de avaliação de crédito imobiliário.
Fundada há dois anos, a Liquid acaba de captar R$ 12 milhões para acelerar a sua ferramenta baseada em IA, usada principalmente por CFOs de incorporadoras e gestores de fundos.
Esta é a segunda captação da companhia, que no ano passado atraiu um investidor estratégico, a Nuclea, a empresa criada pelos grandes bancos para processar boletos e que serviu para aproximar a Liquid do ecossistema financeiro – elevando a régua do compliance.
Dessa vez, a startup fez uma rodada com investidores de venture capital e recebeu aportes de nomes como a americana Flourish Ventures e as brasileiras SaaSholic, Honey Island by 4UM e Crivo Ventures.
“O mercado de crédito imobiliário no Brasil é promissor, mas ainda pouco acessível para muitas famílias. A Liquid está atacando o problema na raiz,” disse Diana Narváez, líder de investimentos da Flourish Ventures na América Latina.
“O dinheiro de verdade no Brasil está em imóveis, e a Liquid está organizando esse mercado com tecnologia e inteligência,” disse William Cordeiro, sócio da SaaSholic.
Além de Thiago, a Liquid tem entre seus fundadores Luiza Ribeiro Caram, filha do fundador da construtora Ribeiro Caram, e Odair Mofato, que trabalhou nas áreas de risco e crédito de casas como Itaú, PagBank e Isaac.
Thiago e Luiza se conheceram quando trabalharam na Risknow, enquanto Odair chegou inicialmente para prestar uma consultoria para a startup e depois passou a integrar o time de founders.
“Percebemos que o mercado imobiliário é muito pouco padronizado em termos de dados, e buscamos essa padronização para criar um motor de crédito,” disse Thiago.
“Um cliente nosso é um fundo que só compra carteira pra montar CRI olhando a Liquid antes, para saber o risco do portfólio que está comprando.”
O modelo de receita da Liquid inclui a cobrança de uma assinatura e um fee fixo por transação. Nos dois anos de operação, acumula 400 mil operações analisadas e 50 mil imóveis novos vendidos que passaram pela plataforma.
Hoje, a empresa conta com cerca de 60 clientes, das quais 50 incorporadoras, como Direcional e Cury, e o restante financiadores, incluindo dois bancos.
A Liquid tem buscado operar principalmente na venda de imóveis novos e ligados a empreendimentos do Minha Casa Minha Vida, que representam mais de 50% dos lançamentos no País.
“O alto padrão tem tíquetes altos, mas o volume é baixo,” disse Thiago.
Ele acrescentou que o comprador de baixa renda é ainda mais suscetível a oscilações macroeconômicas, o que aumenta a relevância da análise de crédito.
“E não se trata de a renda menor representar um risco maior, e sim de eu oferecer um arranjo que caiba nas condições dele, para que eu não force a inadimplência.”
Depois da análise de crédito, a Liquid oferece ainda um dashboard aos clientes para acompanhamento da carteira, e mais recentemente criou um produto que automatiza os processos ligados ao cartório.
Com a captação, a expectativa é dobrar a base de clientes em um ano, acelerando a penetração no segmento econômico, e ampliando também o negócio de cartório, que pode chegar a representar um terço da operação em 2026, diz Thiago.