Na Praia Brava, a Foster+Partners dá uma nova chance ao Brasil

O badalado escritório britânico de arquitetura Foster+Partners está dando uma nova chance ao Brasil.
Depois de anos sem aceitar trabalhos no mercado brasileiro, o escritório agora está envolvido em um novo projeto na Praia Brava, em Itajaí.
O empreendimento será o primeiro do escritório no País a ter unidades residenciais. Desenvolvido pela incorporadora Müze, o projeto é de uso misto e terá também uma torre do hotel Emiliano.
Antes de fechar o contrato, o escritório conversou durante seis meses com a incorporadora para entender a proposta do empreendimento, batizado de Tempo.
“Foi um longo namoro,” Juan Frigerio, o sócio responsável pela operação na América Latina, disse ao Metro Quadrado.
No Brasil, a Foster+Partners só tem um projeto com obra finalizada – o Aqwa Corporate, no Rio, entregue em 2017 –, e há mais de uma década aguarda o início da construção do Emiliano de Paraty, um empreendimento que se arrasta por questões ambientais.
“Temos a vantagem de não fazer tudo que chega, e em muitos casos não fizemos projetos que estivemos perto de tocar,” disse Juan.
O terreno da Praia Brava tinha potencial construtivo de até 160 unidades residenciais, mas o projeto acabou com um número menor para construir apartamentos maiores, de 400 a 800 m², que devem custar de R$ 25 milhões a R$ 120 milhões. O VGV é de R$ 2,5 bilhões.
O empreendimento é horizontal para respeitar as restrições de altura do Plano Diretor e tem um design ondulado pensado para capturar as melhores vistas da Praia Brava, do mar à paisagem montanhosa.
O projeto tem ainda um jardim paisagístico no centro que funciona como uma extensão da orla, com trilhas naturais, pavilhões, fontes e piscinas. Todos os edifícios estão voltados para o jardim, proporcionando um espaço verde privativo.
A região do empreendimento também exige compensações ambientais, com a criação de unidades de conservação e parques no local para preservar áreas de Mata Atlântica remanescentes.
O lançamento está previsto para novembro, e a entrega deve ocorrer em 2029.
A preocupação que a Müze demonstrou sobre sustentabilidade nas conversas – um dos pilares da Foster – foi decisiva para o escritório aceitar o trabalho.
“Eles têm vontade de respeitar o meio ambiente pois são de lá, é a casa deles, a praia deles. Então querem fazer um empreendimento comercial, como todo mundo, mas também criar um destino único para a Brava.”
Fundado em 1967 pelo vencedor do Pritzker Norman Foster, o escritório já aplicava conceitos como teto verde e iluminação natural numa época em que a sustentabilidade ainda não estava na moda.
Conhecido por projetar a sede da Apple na Califórnia e do HSBC em Hong Kong, o escritório entende a beleza arquitetônica como fruto de um encontro entre a veia sustentável dos projetos e outros parâmetros de funcionalidade e estruturação das edificações.
“Temos um grande time de engenheiros, ambientalistas e ecologistas e incorporamos o máximo que podemos alcançar em cada projeto,” disse Juan.
“Um projeto que é timeless, que não envelhece e não tenta ser moda, tem uma essência que, unida às particularidades de onde está localizado, gera uma solução única que atinge a beleza e emociona as pessoas.”
Argentino, Juan foi o responsável por abrir a filial sul-americana em 2010, depois de anos morando na Inglaterra, onde participou da equipe que projetou o novo estádio de Wembley.
Ele retornou à América do Sul pouco depois de o escritório fechar com o Emiliano para projetar o hotel de Paraty, em 2009.
Depois de anos de disputas envolvendo as questões ambientais, o hotel deve começar a ser construído só em 2026, com o compromisso de preservar 98% da área total de 450 mil metros quadrados.
“O design ainda é super contemporâneo porque é um projeto pensado em termos de performance, de natureza e de integração com o local,” disse Juan.
Hoje, o escritório analisa meia dúzia de possíveis novos trabalhos no País, incluindo desenvolvimentos com a Müze em Santa Catarina.
“Fazemos poucos projetos na América do Sul, mas são projetos em que entendemos que poderemos fazer a arquitetura que achamos que é a correta.”