Selos sustentáveis ganham força no mercado residencial

Já tratadas como obrigatórias em corporativos triple A, as certificações de sustentabilidade estão também ganhando espaço no mercado residencial de alto padrão.
Uma pesquisa encomendada pela Loft mostra que um a cada três compradores das principais capitais do Sul e Sudeste já topa pagar mais caro por um imóvel que seja mais eficiente do ponto de vista hídrico e energético, além de adotar práticas mais responsáveis em relação ao meio ambiente.
A Green Building Council (GBC) – organização que cria guias técnicos para as certificações, como o do tradicional LEED do corporativo – desenvolveu uma certificação para residenciais no Brasil que já atinge 200 projetos, com VGV somado de R$ 15 bi.
“Num prédio de 50 anos, 15% do custo total é construção e 85% operação e manutenção. Então é muito relevante para o morador quando o incorporador investe em eficiência hídrica e energética,” Felipe Augusto Faria, diretor executivo do GBC Brasil, disse ao Metro Quadrado.
A maioria dos empreendimentos certificados até agora são de alto padrão, mas há também alguns “early adopters” no médio padrão e no segmento econômico que buscam incentivos a projetos verdes oferecidos por instituições financeiras, de bancos ou do mercado de capitais.
O Santander, por exemplo, oferece vantagens no financiamento ao incorporador que registra o projeto com a GBC Brasil, como financiar mais de 80% da obra e repasse de clientes a partir de 70% de evolução.
“Quando fazemos reuniões com fundos hoje, uma das primeiras perguntas é se as obras são ou não certificadas,” disse Ricardo Zanella, sócio-fundador da incorporadora catarinense Zah Empreendimentos.
Um projeto da empresa em Porto Belo batizado de Amazônia será o primeiro residencial do mundo a combinar as certificações LEED Platinum, WELL Platinum e LEED Zero.
O selo LEED atesta práticas de sustentabilidade e eficiência energética, enquanto o WELL avalia fatores relacionados à saúde, bem-estar e conforto, e o LEED Zero certifica neutralidade na geração de carbono, energia, água e resíduos.
Segundo Zanella, alcançar essa tríade não é barato, considerando os custos com materiais e consultorias que auxiliam no processo de certificação.
“O preço do metro quadrado de uma obra assim está entre R$ 4 mil s R$ 4,8 mil, em média. No Amazônia estimamos gastar a partir de R$ 8 mil reais por m²,” disse Zanella.
“É praticamente o dobro da média, mas o cliente começou a valorizar mais isso e conseguimos embutir o custo no preço do nosso metro quadrado.”
A Zah espera alcançar uma pedida de ao menos R$ 40 mil por m² com o projeto, contra uma média de R$ 20 mil a R$ 28 mil na região.
Já a incorporadora TM3, de Curitiba, diz que não necessariamente a sustentabilidade encarece o produto.
Para a companhia, é possível aumentar a eficiência energética e reduzir o impacto ambiental mantendo a média de preços de outros empreendimentos de mesmo padrão.
Um dos projetos entregues pela TM3 no final de 2023, o Bossa — Casas Suspensas, conseguiu incorporar três certificações ao empreendimento a um custo de cerca de 1% do VGV.
“Percebemos que mudar 10 centímetros de uma janela na fachada ou adicionar uma janela fita em uma lateral de suíte, por exemplo, já fazia total diferença a um custo não tão alto ” disse a engenheira civil Laís Ito, responsável pelas diretrizes de inovação e sustentabilidade da TM3.
Com os ajustes, o projeto obteve os selos GBC Condomínio, GBC Biodiversidade (que atesta o compromisso com a regeneração e a preservação dos ecossistemas da região) e GBC Life (que valoriza ações voltadas ao bem-estar, saúde e qualidade de vida dos moradores).