Abrainc defende fim do compulsório da poupança para impulsionar crédito imobiliário

Nas conversas com o Banco Central para elaborar um modelo de funding imobiliário que dependa menos da poupança, a Abrainc está resgatando uma discussão antiga – o compulsório – para propor uma nova solução.
Luiz França, o presidente da associação, sugeriu ao BC a criação de uma linha de redesconto com taxas compatíveis às pagas aos poupadores para substituir completamente o compulsório que vem da poupança.
Hoje, o sistema financeiro exige que os bancos direcionem 65% dos recursos da caderneta ao crédito imobiliário, tenham 15% para uso livre e depositem os 20% restantes no compulsório.
O compulsório remunera com a mesma taxa que os bancos pagam aos poupadores — atualmente 6,17% ao ano + TR.
A disponibilização de uma fatia desse compulsório para o crédito imobiliário já era um pleito antigo do setor. Segundo França, se ao menos 5% fosse liberado, já seria possível injetar R$ 35 bilhões no mercado.
Agora, após discussões com players do setor e economistas, a Abrainc propõe acabar de vez com o compulsório da poupança e substituí-lo por uma linha batizada pela associação de “redesconto poupança”.
“Se tiver algum problema, o BC vai emprestar dinheiro ao banco nessa linha ao mesmo custo em que o banco remunera o poupador e com uma garantia em títulos públicos.”
Essa sugestão se soma a outro pleito da Abrainc na discussão de alternativas para o funding imobiliário: a defesa do crédito indexado à inflação.
Para França, os grandes bancos ainda têm dificuldades de operar títulos atrelados ao IPCA, mas essa alternativa simplifica os financiamentos e tem níveis controlados de inadimplência.
Mesmo com essas sugestões na mesa, França diz que o problema de funding estrutural do mercado está ligado principalmente aos juros altos.
Segundo uma pesquisa da Brain Inteligência Estratégica, 86% do setor considera que a tomada de financiamento para as obras está mais difícil neste ano e outros 88% afirmam que as taxas atuais estão impactando os lançamentos.
O levantamento, divulgado mais cedo em um webinar realizado em conjunto com a Abrainc, ouviu 160 executivos do setor, com 40 deles em companhias com faturamento acima de R$ 500 milhões.
Em meio a esse cenário, 53% dos participantes pretendem diminuir a tomada de recursos com os bancos, enquanto 54% consideram o mercado de capitais como uma alternativa para o financiamento.
Outros 54% também pretendem aumentar o volume buscado diretamente com investidores — incluindo pessoas físicas e family offices.
Para a maior parte dos players ouvidos pela Brain, o patamar máximo de taxas para viabilizar lançamentos é de 12% ao ano — considerando não apenas o nível da Selic, mas sim dos juros e spread efetivamente cobrados pelos bancos.